quarta-feira, 23 de julho de 2008

não se deixem enganar...


Sementes do anti-semitismo

http://robertounicamp.blogspot.com/

Sementes do anti-semitismo
postado no blog 09/07/2008

http://robertounicamp.blogspot.com/2008/07/correio-popular-de-campinas-publicada.html


"O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações
são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome
não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o
mundo. O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? É o
conceito que de sua vida têm os ouvintes" (Padre Vieira).


A hierarquia católica é decisiva na semeadura do ódio anti-semita, sobretudo no século 20. Tal atitude dura até o desencanto com o nazi-fascismo. Quando a Cúria percebe que sua aliança com os regimes totalitários serve apenas a eles, começa o lento e gradual divórcio, cujos resquícios permanecem após a Segunda Guerra nas ditaduras de Franco e de Salazar.

Razões de Estado ordenam o acordo de Latrão (é reconhecida por Mussolini a soberania papal sobre o Vaticano) e a Concordata de Império com Hitler em 20/7/1933. Nesta última, os sacerdotes são assimilados aos funcionários estatais.

Vantagens semelhantes foram pagas com moeda infernal, algo talvez imprevisto por Pio XII que assinou a Concordata, antes de subir ao trono de Pedro. O Secretário de Estado Pacelli nota que os termos do texto são violados por Hitler e protesta, mas não há ruptura entre as duas potências, a espiritual e a secular.

Surge a Encíclica Mit brennender Sorge ("Com Ardente Inquietação" ) que condena o racismo. Mas a maior denúncia do racismo deixa de ser publicada. Em 1938 Pio XI encomenda o projeto de uma Encíclica sobre a unidade do gênero humano. O redator do texto é o padre John La Farge SJ, estudioso do racismo nos EUA. Na pesquisa para o projeto colaboram os padres G. Desbuquois (francês) e G. Gundlach (alemão), também da Companhia de Jesus. O trabalho é feito em 1938. Como a França e boa parte da Europa estão sob vigia, o padre Gundlach é denunciado à Gestapo por um zelador que operava nos círculos vaticanos. O padre é advertido: se entrasse na Alemanha seria preso.

Instalado em Roma, o mesmo sacerdote denuncia (1/4/1938) na Rádio do Vaticano o "falso catolicismo político" dos bispos austríacos e do cardeal Innitzer que declara apoio ao Anschluss (união Áustria e Alemanha): "Os responsáveis pelas almas e fiéis" diz Sua Eminência, "se alinham incondicionalmente atrás do grande Estado alemão e do Füher" . (Cf. Georges Passelecq (monge beneditino) e Bernard Suchecky (historiador judeu): L’ Encyclique caché de Pie XI. Une occasion manquée de l’ Église face à l’antisémitisme, La Découverte, Paris, 1995, p. 104). Pio XI exige sua retratação, mas a semente foi lançada. Hitler, que o pontífice chama o "profeta do Nada" tem agora no seu redil, muitas ovelhas católicas tangidas pelos pastores.

O nome da Encíclica seria Humani generis unitas (A Unidade do Gênero Humano) e denunciaria o nacionalismo racista e a guerra. São nela atacadas "a pretensa concepção dos antigos germanos" e a identificação entre Deus, raça e povo, Estado e governantes. A defesa dos judeus é fragílima no escrito, quase toda extraída de um artigo do padre Gundlach sobre o anti-semitismo, publicado em 1930.

A Encíclica não foi publicada. Várias causas indicam a censura: fim do pontificado de Pio XI e ascensão de Pio XII, amigo da Alemanha e cauteloso quando se tratava de defender os católicos, não os perseguidos por Hitler. O superior jesuíta dos redatores, polonês (já sabemos como os bispos poloneses pensavam, no caso dos judeus) escondeu o texto o quanto pôde. Apesar de tudo, o documento chegou ao Papa Pio XI. Este, em audiência privada com o padre La Farge pediu-lhe que redigisse "como se fosse o próprio papa" . Confessa o bom padre: "É como se a rocha de São Pedro tivesse caído sobre minha cabeça" .

La Farge fez chegar o manuscrito ao papa, apesar do superior polonês. Quem deseja mais informações, leia o próprio livro, citado acima, em que se publica o texto da Encíclica censurada e as notas de Henri Medelin na revista Études (Paris): Cristianismo, História, Racismo, Vaticano (dezembro de 1995, p. 6). No próximo artigo, falaremos da atitude dos católicos brasileiros sobre o anti-semitismo.
Postado por Roberto Romano às 8:11 PM

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22/07/2008 Roberto Romano

Roberto Romano
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O anti-semitismo brasileiro


Após verificar alguns prismas do anti-semitismo católico na Europa, passemos ao Brasil. Não existe imprensa religiosa sem o controle da Hierarquia. A regra vale para o nosso País em 1934. O Tratado de Latrão e a Concordata de Império fazem da Igreja uma aliada dos regimes liderados por Mussolini e Hitler.

A Concordata com o governo nazista surge em 1933. Os religiosos brasileiros liderados pela Hierarquia, no esquema da Ação Católica, em 1934 ostentam atitude simpática diante do poder totalitário. A Revista A Ordem (dirigida por leigos mas sob a tutela e censura dos bispos) escreve no Editorial do número 47 (janeiro de 1934, página 77) contra os judeus e em favor de Hitler. No entender do editorialista a perseguição anti-semita não passa de “mistificação” devida a uma “conjura” dos judeus contra Hitler, com o alvo de “impedir que o nacional-socialismo” assegure o poder:

“Já se havia dito que o êxodo dos judeus em massa, da Alemanha, obedecia a
um plano político organizado contra o partido de Hitler. (...) Malgrados porém
esses propósitos, graças ao patriotismo do povo alemão, os judeus vão desistindo
da sua conjura, e retornam às antigas atividades que exerciam (...) submissos às
leis do país”.


A citação do Editorial, cujo título é Os horizontes clareiam, a encontro em Cândido Moreira Rodrigues, no livro A Ordem, uma revista de intelectuais católicos, 1934-1945” (São Paulo, Autêntica - Fapesp, 2005, p. 148).

O anti-semitismo segue, em articulistas da revista, o elogio da ditadura. “A nossa hora é a Hora da Força. Os governos, ou são discricionários e absolutos, como na Rússia, na Itália, na Alemanha e nas infinitas ditaduras secundárias (...) ou tendem para a ditadura, como nos Estados Unidos; ou vivem em crises intermináveis, e são liberais, como na França e na Inglaterra” (Oliveira, J. Lourenço: “A Hora inquieta que vivemos”, A Ordem, junho 1934).

Alguns, como Perillo Gomes, criticam a violência nazista e o racismo, mas apoiam o uso da força para combater os movimentos subversivos (“A Limpeza feita na Alemanha”, A Ordem, 1934). Outros, como Julio Sá, criticam o racismo mas afirma que “no fundo do fascismo, como do nazismo” existe o sinal do retorno do homem ao seu “verdadeiro destino”.

A partir de 1938 o Estado totalitário mostra a face contrária à religião. Em Roma e no Brasil a Igreja ensaia um passo atrás na concórdia diplomática e política anterior. No artigo “As vitórias de Hitler”, Perillo Gomes condena os nazistas. “Haja porém o que houver, de uma coisa estamos seguros: só a Igreja tem por si a promessa de perdurar até a consumação dos séculos. Átila ou Hitler, todos passam”.

Alceu Amoroso Lima em “O nacionalismo cristão” (A Ordem, outubro de 1938) condena o racismo e cita o füher. “Assim se exprime o próprio Hitler, tomando como exemplo a nossa América: ‘A experiência histórica mostra com precisão assustadora que toda mistura de Arianos com povos inferiores traz como consequência o fim do povo portador de cultura (...) A América Central ou do Sul, na qual os conquistadores românicos se misturam com os indígenas (...) o resultado (...) é assim : a) abaixamento do nível da raça superior e b) decadência física e mental e com isso o início de uma enfermidade crescente!- Mein Kampf)”.

Todas as citações de A Ordem, as retiro de Moreira Rodrigues, no livro excelente citado acima.De 1934 a 1938, a posição mudou? Como a revista dirigida de fato pela Hierarquia publica artigos sobre “conjuras judaicas” contra o bom Hitler e quatro anos depois enxerga o diabo no Terceiro Reich? Merleau Ponty, em artigo intitulado “Fé e Boa Fé” sugere que os católicos sempre se dizem “culpados pelo pretérito, infalíveis no presente e inocentes quando se trata do futuro”.

No anti-semitismo eclesiástico esta lógica é a efetiva. Esperemos que a Igreja saiba anular os anti-semitas dissimulados no redil. Afinal, não é muito recordar aos católicos que Jesus, sua mãe e seu pai, são judeus.

Postado por Roberto Romano às 5:36 AM
Terça-feira, Julho 22, 2008

A banalização do neonazismo na Alemanha Por: Evandro Maidl

Nem sempre aprendemos com nossos erros. Eles estão vivos, e cada vez mais fortes! Seria um pesadelo? ...Não. Você conhece as siglas NPD ou DVU? Ou já ouviu falar algo a respeito dessa sigla? Não? ...Deixe-me ver então... Nazismo! Claro, sobre isso todo mundo pelo menos já ouviu falar. Então você me pergunta: o que é que tem a ver NPD e DVU com nazismo? E eu respondo: NPD é a sigla correspondente a Nationaldemokratische Partei Deutschlands (partido nacional democrata da Alemanha) e DVU a Deutsch Volk Union (União do povo alemão), dois dos principais partidos neonazistas alemães. Isso mesmo, você leu direito: partidos nazistas! Partidos políticos, legalizados, concorrendo em importantes eleições regionais e nacionais na Alemanha. O NPD é o partido de extrema direita que mais poder possui, com cargos importantes em diversas regiões do país. Possui ideologia altamente racista, é radicalmente contra imigrantes, contra asilo aos refugiados de paises pobres, e em suas propostas, pode-se ver claramente quais são as intenções do partido. Nos últimos anos, o NPD cresceu bastante, aumentando consideravelmente o número de votos em eleições e conseguindo inclusive cargos importantes em pequenos povoados e em algumas regiões. Estão sempre a organizar protestos e demonstrações pelas ruas das cidades alemãs, ora para “protestar” contra certas políticas ou decisões do governo federal, ora para relembrar as “vítimas alemãs” dos bombardeios dos aliados na Segunda Guerra Mundial. O mais interessante é que sempre foram um pouco ridicularizados, ou subjugados pela imprensa de massa, e pelas pessoas comuns, e há alguns anos atrás, seus atos públicos ou eventos dificilmente atraiam mais do que algumas poucas centenas de fanáticos. Hoje em dia, porém, as coisas mudaram. Todo novo “evento” do NPD causa dor de cabeça à Polícia e ao governo, pois o número de militantes cresceu, e muito, e cada dia é mais difícil administrar esse problema. E o problema se mostra maior, quando nos damos conta de que essas organizações agem, apesar de tudo, legalmente, pois a legislação alemã julga democrático que esses grupos possam demonstrar suas opiniões. Pergunto: como é possível, nos dias de hoje, em um país como a Alemanha existirem partido políticos nazistas? Vá entender! Pois bem, o motivo pelo qual decidi escrever esse artigo é que, agora vivendo na Alemanha, convivo esse problema no dia-a-dia. Cada vez mais vejo neonazistas andando pelas ruas das cidades, com suas camisetas com mensagens nacionalistas, pra lá de suspeitas e, cada vez mais vejo nos noticiários, ou leio em jornais noticias sobre atos de violência praticados por nazistas contra estrangeiros, negros, asiáticos, sul-americanos, etc... E percebo, com imensa tristeza, que isso está cada vez mais banalizado. Nossos antepassados cometeram um erro muito parecido com esse, quando deixaram Hitler e outros monstros assumirem o poder em vários episódios da história da humanidade. E esses erros nos custaram muitíssimo caro. A Alemanha paga um preço alto, muito mais do que material, mas moral, pelo que os nacionais socialistas fizeram, e parece que não aprenderam a lição. E todas as nações do mundo, são também de certa forma responsáveis por tudo que aconteceu, pois muitos fecharam os olhos e julgaram que isso não era um problema deles. Depois da Segunda Guerra Mundial, os países vencedores (se é que alguém vence uma guerra) espalharam bases por toda a Alemanha, e uma de suas incumbências como vigilantes da paz mundial, era que ficassem de olhos bem abertos para impedir que os mesmos erros jamais fossem novamente cometidos. Atualmente, parece que isso foi esquecido. Na Alemanha todos sabem que o neonazismo é uma realidade, mas a imprensa do país trata do assunto muito superficialmente, e com isso, os radicais de extrema direita só ganham mais terreno. Para o dia 11 de junho de 2005, na cidade de Jena, Alemanha, está programado para acontecer o maior encontro nazista dos últimos tempos, organizado pelo NPD. Será um festival denominado “Fest der Völker” (Festa das Nações), com diversas personalidades e bandas neonazistas de toda a Europa. O evento está marcado para acontecer na praça central da cidade, aos olhos de todos, e isso é lógico, garante muita publicidade aos extremistas. E esse é realmente o plano deles. O governo municipal de Jena deu autorização para que tal evento fosse realizado na cidade sem se saber de que se tratava de um festival neonazista, afinal de contas quem poderia imaginar que uma festa “das Nações” teria esse direcionamento? Agora, a cidade tenta de varias formas cancelar o festival, mas depois da autorização dada, fica complicado voltar atrás. E o NPD possui quatro advogados cuidando apenas dessa questão. Somente a pressão externa, tornando essa festa um escândalo, pode ajudar no cancelamento do mesmo. Portanto, pedimos ajuda a todos os meios de comunicação do mundo. Por favor, divulguem isso, ajudem-nos a fazer pressão contra esse absurdo que está por acontecer. E não se trata apenas desse evento isolado! Precisamos nos unir em todo o planeta e combater o neonazismo, caso contrário, sofreremos das mesmas chagas do passado. Para maiores informações, o sítio oficial do festival se encontra sob o seguinte endereço: http://www.n-w-j.de/festdervoelker/ Bandas nazistas confirmadas para o festival: • Before the War (Croácia) • Verszerzödes (Hungria) • Nothung (Suécia) • Block 11 (Itália) • Brigade M (Holanda) • Avalon (Inglaterra) • Legion of Thor (Alemanha) • Systems Coffin (Alemanha) • Defiance (França).

* Evandro Maidl vive na Alemanha e combate o neonazismo. Contatos podem ser feitos pelo e-mail: evanbrujo@yahoo.com.br ou Infoladen – Ludwigstraße 37 06110 Halle - Alemanha

em 2000, direto do túnel do tempo...

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) apresentou nesta terça-feira (dia 8) à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), requerimento solicitando a realização de um seminário sobre o neonazismo no mundo. A participação do Partido da Liberdade, cujo líder Joerg Haider é simpático às idéias nazistas, no governo da Áustria, e o assassinato de um adestrador de cães por um grupo neonazista em São Paulo, indicam, para o senador, a necessidade de se discutir o assunto.- Países criticaram a coalizão política estabelecida na Áustria. É uma preocupação compreensível, tendo em vista a tragédia causada pelo nazismo. Parece que esse não é um fenômeno apenas europeu. Um bando de neonazistas em São Paulo matou um cidadão a pontapés. São pessoas violentas, que comungam de teses racistas que merecem o nosso repúdio ¿ argumentou.O senador Romeu Tuma (PFL-SP) apoiou o requerimento, por acreditar que a ascensão da extrema direita na Europa serve de estímulo para grupos neonazistas no Brasil, que atacam judeus, nordestinos e homossexuais em "atos de terrorismo". O presidente da CRE, senador José Sarney (PMDB-AP), determinou a inclusão do requerimento de Simon na pauta da próxima reunião da comissão, na terça-feira (dia 15). MAIO 2000

Neonazistas alemães divulgam dados pessoais de inimigos na internet

(e o monstro cresce!) Deu no G1
Segundo a revista 'Spiegel', há mais de 1.700 sites neonazistas alemães.Autoridades não podem evitar divulgação em páginas hospedadas no exterior.


Rainer Sauer, representante local do partido alemão Die Linke (“a esquerda”) na cidade de Bocholt, no extremo leste da Alemanha, já estava acostumado a receber insultos e ameaças pela internet. Mas quando o símbolo da SS, tropa de elite de Adolf Hitler, foi desenhado na porta da garagem de sua casa, ele começou a se preocupar.

Em outra ocasião, tiros foram disparados diante de sua residência. Há alguns dias, segundo reportagem da revista alemã “Spiegel”, ele encontrou um bilhete assinado por uma certa “Brigada Tempestade 35” com o recado: “Nós iremos exterminá-lo”. Segundo a “Spiegel”, este é um só um caso em que mensagens violentas pela internet resultaram em algum tipo de ação por parte de extremistas de direita alemães. É cada vez mais comum a divulgação de nomes, endereços e até fotos de supostos inimigos esquerdistas nos mais de 1.700 sites neo-nazistas alemães. Os alvos de ameaças incluem políticos, juízes e jornalistas. De acordo com a revista, até detalhes sobre a família ou as relações pessoais das vítimas são divulgadas.


Num desses sites, localizado pelo G1, um grupo "anti-antifascista" (na Alemanha são comuns os grupos de esquerda que se denominam antifascistas) publica uma lista de sócios de uma biblioteca esquerdista da cidade de Nurembergue.

A organização de extrema direita que publica a relação explica que os nomes foram encontrados no lixo da casa onde funciona a biblioteca, em cartões de cadastro. Segundo a página, o grupo também dispõem de dados como os endereços dos membros cadastrados na biblioteca e aceita “consultas para maiores informações”. O site de extrema direita cita ainda que regularmente revista as lixeiras de supostos esquerdistas e que o cadastro da biblioteca foi o maior achado dessas buscas. As autoridades, segundo a “Spiegel”, pouco podem fazer contra o vazamento de dados pessoais na internet porque grande parte dos sites é hospedada fora da Alemanha.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Especialista desvenda dez mitos sobre a internet; leia artigo completo
da Folha Online
Reprodução


Livro traz autores e conceitos imprescindíveis sobre o e-business
É verdade que todos estão usando a internet? Que a internet será uma grande força democratizante? Que a informação digital eliminará os livros? Que as ligações telefônicas via web aniquilarão as companhias telefônicas? Estas e outras "verdades" sobre a web são discutidas e desvendadas no artigo "Dez mitos da internet", do especialista Karl Albrecht.
O artigo, que pode ser lido abaixo, está no livro "E-business e Tecnologia - Autores e Conceitos Imprescindíveis", da Publifolha, que reúne idéias-chave dos principais pensadores da atualidade sobre internet, tecnologia e como ganhar dinheiro na nova era digital.


*
Artigo de Karl Albrecht
Guru futurista, Karl Albrecht é reconhecido internacionalmente como o pioneiro da "revolução dos serviços". Preside o conselho de administração do grupo Karl Albrecht International, que abrange firma de consultoria, empresa de organização de seminários e editora, e tem como clientes empresas do porte de Xerox, IBM, Volkswagen, Du Pont, Shell e Chrysler. O especialista é autor de mais de 20 livros, vários deles lançados no Brasil, como "Radar Corporativo", "Revolução nos Serviços", "A Única Coisa que Importa", "Serviços Internos", "Programando o Futuro" e "Agregando Valor à Negociação e Serviços com Qualidade", entre outros. Pode-se dizer que foi um dos primeiros céticos sobre a Internet. Quando todo mundo achava que só havia o cenário cor-de-rosa em torno da rede mundial dos computadores, Albrecht já apontava algumas áreas cinzentas, expressando suas dúvidas e desconfianças com irreverência.


DEZ MITOS DA INTERNET
Os computadores e as redes de informação chegaram para ficar. Esses mecanismos trouxeram ganhos para os negócios, para a educação e para a vida privada, mas os benefícios -e problemas- ainda por vir estão seguramente além de nossa imaginação. Mesmo assim, poucos avanços em nossa cultura desfrutaram tanta isenção de análise lógica como a loucura pela Internet. Apesar de sinais claros de que a rede mundial de computadores não sobreviverá como uma estrutura monolítica de informação, a moda continua como uma força indomável a devorar tudo em seu caminho [este artigo foi publicado em julho/agosto de 1998].
A confluência de propagandistas da "teologia Internet", também conhecidos como "conspiração minha-nossa!" ("Gee-Whiz", no original), vem obtendo notável sucesso ao vender suas idéias para jornalistas, personalidades políticas e grande parte do público. Essa "teologia", no entanto, está equivocada na essência, distorcida por filtros do pensamento tecnológico e dos valores da classe média alta. Além disso, ignora uma visão mais ampla de cultura, necessidades humanas e necessidades empresariais.
A maioria dos benefícios atribuídos à atual estrutura da Internet por esse grupo de pessoas provavelmente não se concretizará. Há pelo menos dez mitos sobre a rede mundial de computadores que são amplamente aceitos, mas que não se confirmam na prática.


OS DEZ MITOS
Mito nº 1: todos estão usando a Internet. Os propagandistas da rede reivindicam uma população on-line de 40 milhões ou mais de pessoas. Não acredito nem por um segundo nesse número. Sem comprovação, é difícil validar qualquer alegação do gênero, embora a maioria das pessoas pareça aceitá-la sem questionamento. Isso inclui apenas as contas ativas da Internet ou todas as pessoas que possivelmente estariam conectadas? Qualquer um com um microcomputador e um modem? A família toda, se houver um micro na casa? E que padrão de atividade define um usuário? Diário? Semanal? Mensal? Uma vez na vida? Até Andrew Grove, presidente da Intel e respeitado guru da revolução digital, reconheceu que se conecta à Internet "talvez duas horas por mês". A cobertura jornalística passa a impressão de que todo adolescente dos Estados Unidos navega pela rede. E estamos ainda longe disso.

Mito nº 2: o número de usuários crescerá sem limites. Esse é um caso claro de projeção prematura. É a mesma psicologia que impulsionou todas as ondas imobiliárias, as euforias dos mercados de ações e loucuras históricas como o "Surto das Tulipas" da Holanda da década de 1630 (veja quadro na pág. 100 com glossário) ou o "O Conto do Mar do Sul", no Reino Unido de 1720. Nada deve ser elevado aos céus, e quem não entende o Princípio da Curva S acaba aprendendo na prática.

Mito nº 3: a Internet será a "grande força democratizante". Na verdade, ela pode ter efeito exatamente oposto. Ela pode aumentar a disparidade entre os que têm e os que não têm. Apesar dos comerciais politicamente corretos que mostram uma encantadora menininha negra na África se conectando à Internet, os pobres e os desnorteados não serão alçados de suas circunstâncias econômicas pelo computador ou pela Web. Eles estão presos a um paradigma muito diferente. A visão da classe média alta de que tudo que é preciso fazer é "dar-lhes computadores" cheira novamente a Grande Sociedade. É o equivalente cibernético de "que comam brioches".

Mito nº 4: a Internet é uma comunidade mundial.Um famoso pôster do personagem de quadrinhos Dilbert pergunta: "E se Deus for a consciência que se criará quando um número suficiente de pessoas estiver conectado à Internet?". Esse é um pensamento fanático da mais alta perversidade e passa por todos os testes de admissão à mentalidade dos cultos religiosos. Aí está uma demonstração perturbadora da visão mundial narcisista e auto-adulatória dos que se consideram iluminados, uma irmandade especial detentora de segredos não acessíveis aos comuns dos mortais. À medida que a Internet começar a se "desconstruir" e seus clientes mais prezados forem para outro lugar na inevitável busca da qualidade, a única "comunidade" restante será a dos pervertidos, pornografistas, pedófilos, cafetões, piratas e uma miscelânea de desnorteados e descontentes.

Mito nº 5: a rede mundial revolucionará o marketing. Nem que a vaca tussa. Esse é o mais sagrado dos cânones da "teologia Internet" e é também o menos provável de se concretizar. Na maioria, os que vendem coisas online são pessoas da Internet negociando umas com as outras. Com poucas exceções, o marketing das homepages, o marketing de mala direta em massa e as compras on-line são - e continuarão sendo - uma grande sonolência. Muitas das grandes empresas encaram sua página corporativa na Internet como um modismo ligeiramente mais sofisticado.

Mito nº 6: a Internet eliminará os intermediários. Presumivelmente cada uma dos 40 milhões, 50 milhões ou 100 milhões de pessoas na Internet pode fazer negócios diretamente com cada uma das outras. Se você quiser vender seu carro, basta mandar uns 10 mil anúncios por correio eletrônico e os interessados irão até sua página na Web. Isso pode até funcionar em uma população ao redor de mil pessoas. Mas com milhões de usuários o engarrafamento de informações ainda fará do classificado de US$ 5 no jornal uma opção melhor. Esse mito é um exemplo típico da aplicação do pensamento da "Segunda Onda", ou seja, marketing de massa, em um fenômeno de "Terceira Onda", de marketing personalizado. É como um gigantesco programa de entrevistas sem entrevistador. A vasta gama de fontes de dados da mais alta qualidade por si só aumentará a demanda por intermediários, em vez de reduzi-la.

Mito nº 7: a informação digital eliminará os livros. Uma das lojas mais conhecidas da Web é paradoxalmente uma que vende livros (a Amazon). Tais vendas estão subindo constantemente em quase todos os gêneros, e os clientes continuam transbordando nas megalivrarias. Enquanto isso, quase todos os principais editores de CD-ROM vêm acumulando prejuízos. Os clientes parecem nem ligar e isso levou as empresas a cortar investimentos nos produtos digitais não-impressos. Quais os poucos produtos de sucesso em CD? Os jogos. A Web é um meio de entrega ideal para material de contracultura de todos os tipos, como manifestos anarquistas, software pirateado e outras falsificações, além da vociferação dos descontentes que sofrem da síndrome de inadequação. As editoras comerciais fornecem exatamente o que os amadores não conseguem, ou seja, produtos de informação bem concebidos, bem produzidos e de alta qualidade que exigem talento e investimento. Os livros continuarão existindo, por razões tanto humanas como comerciais.

Mito nº 8: todos vão poder se tornar editores. Isso, infelizmente, é verdade. Contudo, apenas se definirmos "edição" em termos bastante restritos. O presidente dos Estados Unidos tem uma homepage. A Nasa idem e a Associação Americana de Amor ao Menino-Homem também. O mesmo vale para o assassino Charles Manson. E para Edgard Malvern. Você não conhece Malvern? Nem eu. A Internet está em um estágio terminal de poluição de informação exatamente porque qualquer vagabundo pode despejar suas porcarias no rio cada vez mais cheio de ciberlixo. É a Lei da Informação de Gresham, e seus efeitos já são aparentes. A decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que estendeu a proteção da Primeira Emenda da Constituição aos operadores de sites que divulgam material pornográfico on-line para crianças, fará mais para apressar o declínio da Internet em sua forma atual do que qualquer lei que o Congresso possa promulgar. Essa mesma "democracia" condenará a Internet ao papel de parque de diversões digital. Os sites terão toda a liberdade de expressão que quiserem e os fornecedores de produtos on-line de qualidade ficarão com todos os clientes de maior discernimento. Os especialistas universitários que construíram a Internet original estão trabalhando na "Internet 2" para atender a suas necessidades específicas. Preste atenção também no importante papel que as bibliotecas públicas desempenharão quando a qualidade se tornar um fator decisivo. Albert Einstein uma vez comentou: "Eu aceito a alegação de que um espertinho é 'tão bom quanto' um gênio, mas não concordo que dois espertinhos sejam 'melhores' do que um gênio".


Mito nº 9: o NetPhone acabará com as companhias telefônicas de interurbanos.A perspectiva de ligar um microfone em seu computador e conversar com seus amigos do mundo inteiro a um custo praticamente zero é propalada por várias companhias que fabricam tais produtos. No entanto, o desempenho desses produtos está indefinidamente comprometido pela estrutura técnica da rede, e a alegada vantagem de custo parece mais uma miragem. O uso intenso da Internet será considerado abuso dos serviços telefônicoslocais. Os usuários não pagam um centavo às companhias pelo acesso. O dinheiro vai para os operadores de computador e a maioria cometeu o erro fatal de oferecer tempo on-line ilimitado por uma quantia mensal fixa. Ilimitado, para muitos viciados em Internet, significa 24 horas por dia. Muitos deles deixam o computador conectado mesmo quando saem de casa, estrangulando as linhas telefônicas de tal forma que outros clientes não podem fazer chamadas. As telefônicas locais e outras compatibilizarão o preço do serviço para recuperar seus custos. O NetPhone continuará sendo um brinquedo de fanáticos, mesmo que suas limitações técnicas sejam superadas.


Mito nº 10: o NetComputer será a próxima grande revolução. O computador da Internet, ou NetComputer, ou NetPC, será um brinquedinho de baixo preço e capacidade pequena. O usuário se conectará à rede e utilizará o software residente instalado em computadores distantes. As informações desejadas chegarão embaladas em seu respectivo programinha, que se ativa no momento da chegada, executa as funções necessárias e, então, desaparece. Esse conceito tem brechas demais para serem enumeradas rapidamente. Sua falha fatal, no entanto, é que ele é um produto político, bolado por um grupo de executivos do Vale do Silício para quebrar o domínio mundial da Microsoft no mercado de software. Seus defensores aprenderiam uma difícil lição sem muitos problemas se estudassem um produto lançado pela IBM no início da década de 80 chamado PC Junior. Era um projeto modesto, de baixo custo, que se parecia mais com um brinquedo do que com um computador. A suposição de que uma multidão estava esperando por computadores domésticos quando os preços baixassem não se confirmou. Após uma campanha publicitária fracassada que trazia um personagem de Charles Chaplin e criancinhas encantadoras, a IBM enterrou a idéia, junto com US$ 100 milhões. Destino semelhante aguarda a tão propalada Web-TV, uma tentativa de vender um produto barato que transforma a TV em um computador, ou vice-versa.

A TERRÍVEL VERDADE
A realidade nua e crua é que nem todo mundo no planeta aprecia um computador ou está delirando para "navegar na Net". Em verdade, a maioria nem quer.

Homem é preso por grafitar memorial do Holocausto em Berlim

BERLIM - A polícia de Berlim afirmou que um homem foi preso depois de grafitar mensagens anti-semitas no Memorial do Holocausto em Berlim.
A declaração da polícia afirma que um segurança deteve um jovem de 28 anos intoxicado, originário da Alemanha oriental, na noite de terça-feira, quando ele grafitava quatro dos blocos do enorme memorial.
O segurança chamou a polícia.
Segundo a declaração emitida nessa quarta-feira, o homem grafitou "palavras e imagens, algumas das quais continham mensagens anti-semitas" nos blocos de concreto.
O memorial às mais de 6 milhões de vítimas judias do holocausto contêm mais de 2,700 blocos de concreto cinza e fica perto do Portal de Brandenburgo.
O memorial foi aberto ao público em 2005 e é facilmente acessível a qualquer horário.
Vandalismo foi documentado inúmeras vezes no memorial.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Racismo no mundo: a caixa de Pandora

Apesar de avanços no combate ao racismo, as teorias, políticas e práticas racistas não somente continuam a existir, mas têm ganhado terreno ou adquirido novas formas, como as políticas de "limpeza étnica"

Edna Maria Santos Roland*

aqui, o original

Segundo Michael Banton, a Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (Icerd) foi aprovada em um momento que o colonialismo, a segregação e a discriminação encontravam-se no centro dos debates e esperava-se a eliminação rápida da discriminação racial como resultado de uma ação dos Estados-partes da ONU.

Mudanças dramáticas ocorreram no mundo desde que a Icerd foi aprovada em 1965: as Nações Unidas podem justificadamente comemorar o fim do apartheid e do colonialismo, todavia o mundo tem testemunhado o surgimento de muitos conflitos étnicos e raciais sangrentos que chamaram a atenção da mídia internacional na década de 90, especialmente na Europa e na África.

Por outro lado, as dificuldades que envolveram o processo de realização da III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata demonstraram que as feridas produzidas pelo colonialismo, escravidão e tráfico de escravos permanecem abertas. Evidenciou-se também que os conflitos envolvendo o Oriente Médio e a ausência da constituição do Estado Palestino quase colocaram em risco os resultados de dois anos de preparação, envolvendo 170 países. Ao lado destes dois focos candentes, o debate acerca de outros fatores de discriminação, que produzem o que foi denominado discriminação múltipla ou agravada, demonstrou que temas relacionados à sexualidade e à diferenciação entre os sexos enquanto fenômenos da cultura permanecem sendo tabus, e de mãos dadas, se encontram cristãos católicos e muçulmanos.

A explosão das torres gêmeas de Nova York, apenas três dias após o término da III Conferência Mundial, da qual retiraram-se da mesa de negociações os Estados Unidos e Israel, e os acontecimentos que se seguiram, ratificam a certeza da centralidade do racismo na constituição do mundo de hoje.

Ao lado de fatores históricos e estruturais que se corporificaram nas guerras de conquista, no tráfico de escravos, na escravidão, nas cruzadas contra os povos árabes, há manifestações recentes de racismo no bojo dos processos da globalização, propiciadas por novas facilidades de comunicação e transporte.

Banton considera que o preâmbulo da Icerd apresenta a discriminação racial como uma doença social, enquanto o Artigo 26 da Convenção Internacional pelos Direitos Civis e Políticos (ICCPR) apresenta-a como uma conduta ilegal, pela qual um ou mais indivíduos são responsáveis e devem prestar contas. O preâmbulo da Icerd, numa frase basilar, afirma que a doutrina da superioridade baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa.

Em um artigo recente, Rüdiger Wolfrum faz uma interessante revisão dos instrumentos internacionais que proíbem a discriminação racial, com ênfase para a Icerd. Este autor afirma que apesar das tentativas para se abolir as políticas e práticas baseadas ou promotoras de manifestações xenófobas e racistas e para se contrapor às teorias que se baseiam ou endossam tais práticas, estas teorias, políticas e práticas não somente continuam a existir, mas têm ganhado terreno ou adquirido novas formas: as chamadas políticas de "limpeza étnica" seriam uma das novas formas de racismo.

A realização da III Conferência Mundial contra o Racismo fez parte de uma série de iniciativas da ONU para fazer frente ao crescimento de formas contemporâneas de racismo e discriminação racial, com o crescimento de incidentes dirigidos contra negros, árabes, muçulmanos, judeus, trabalhadores migrantes.

Enquanto a I e a II Conferências Mundiais trataram fundamentalmente do apartheid na África do Sul, o contexto da III Conferência foi totalmente diferente: abriu-se a caixa de Pandora, na medida que se teve que lidar com os mais diversos problemas de todos os Estados-partes das Nações Unidas. A discriminação racial nesta conferência deixou de ser um assunto de política externa, um problema da África do Sul, para se tornar um problema central de todos. Segundo Theodor van Boven, a luta contra o apartheid funcionou como um tipo de navio quebra-gelo, que abriu novas formas de luta contra as violações dos direitos humanos. A dificuldade das negociações foi resultado das contradições entre os diferentes interesses em jogo, especialmente das diversas regiões.

Uma questão que tem dificultado a compreensão do racismo, especialmente no Brasil, tem sido a relação entre racismo e pobreza. Freqüentemente a esquerda brasileira tende a subestimar a importância do racismo, considerando que no Brasil o que temos é um problema de pobreza. Podemos considerar pelo menos duas linhas de interpretação na explicação do racismo: uma considera que o racismo e a discriminação racial resultam da distribuição desigual do poder político e econômico nas sociedades. Outra visão considera que o racismo desenvolveu-se como uma justificativa da expropriação da terra e dos meios de produção. De acordo com esta teoria, a persistência e a mutação do racismo é relacionada direta e indiretamente ao fato de que é negado aos grupos discriminados o acesso aos meios essenciais de sobrevivência, tais como a terra, os empregos, habitação, educação, serviços de saúde e planejamento familiar. Nesta visão, a pobreza dos grupos discriminados resulta do racismo, o qual é, por sua vez, relacionado à distribuição dos recursos. A exclusão social é, assim, uma das faces contemporâneas do racismo. Assim, para combater a pobreza, é necessário combater o racismo. Qualquer que seja a vertente interpretativa adotada, contudo, não há como combater um dos vilãos – racismo ou pobreza – sem combater o outro. Tal compreensão da centralidade da necessidade do combate à pobreza para se combater o racismo não implica, absolutamente, o não reconhecimento da necessidade de ações que, para além da pobreza, combatam as idéias e ideologias racistas, sem as quais o racismo não existiria.

Principais pontos
A III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata se constituiu numa extraordinária oportunidade para colocar o racismo na ordem do dia, no centro dos debates da contemporaneidade. A Declaração e o Programa de Ação se constituem em documentos bastante amplos, que sem dúvida nos oferecerão instrumentos significativos na luta contra o racismo, passando por diferentes áreas: escravidão e reparações, ações afirmativas, educação, gênero, saúde, trabalho, terra, justiça, violência, segurança, religião, comunicação, ocupação estrangeira, povos indígenas, ciganos etc.
Dentre os principais pontos para os afrodescendentes podemos destacar:
Institucionalizou-se o conceito de afrodescendentes, que se refere aos descendentes dos africanos escravizados, especialmente nas Américas. Dessa forma o conceito não tem apenas uma referência geográfica, mas contém um sentido político que se liga à proposta das reparações.
As ações afirmativas foram reconhecidas como um meio preferencial de combate às desigualdades raciais. Além das áreas tradicionais, educação e mercado de trabalho, o Programa de Ação de Durban inova propondo investimentos preferenciais nas áreas de saúde, habitação, saneamento, água potável e controle ambiental nas regiões habitadas pelos afrodescendentes.

Foi reconhecido que discriminação racial se corporifica de modo diferenciado para homens e mulheres, propondo-se que todos os programas de combate ao racismo devem ter uma perspectiva de gênero.

Escravidão e tráfico de escravos foram declarados crimes contra a humanidade, principais fontes e manifestações do racismo e da discriminação racial.

A Conferência apela aos Estados envolvidos com a escravidão e tráfico de escravos a honrar a memória das vítimas e que contribuam para restaurar a dignidade das vítimas.

Foi reconhecido que as conseqüências passadas e contemporâneas do racismo colocam sérios desafios à paz e segurança global, à dignidade humana e à realização dos direitos humanos e liberdades fundamentais.

Foi enfatizado que lembrar os crimes e erros do passado, condenar as tragédias racistas e contar a verdade sobre a história são elementos essenciais para a reconciliação internacional e a criação de sociedades baseadas na justiça, na igualdade e na solidariedade.
Foi proposto que os países em desenvolvimento enfrentem os desafios da pobreza, marginalização etc., por meio de iniciativas como a New African Initiative e outros mecanismos inovadores tais como o Fundo Mundial de Solidariedade para a Erradicação da Pobreza, e que os países desenvolvidos, as Nações Unidas e suas agências especializadas, como também instituições financeiras internacionais, ofereçam através dos seus programas operacionais novos e adicionais recursos financeiros para apoiar tais iniciativas.

Foi reconhecido que escravidão, tráfico de escravos e colonialismo contribuíram inegavelmente para a pobreza, subdesenvolvimento, marginalização, exclusão social, disparidades econômicas, instabilidade e insegurança que afetam muitos povos de diferentes partes do mundo. A Conferência reconheceu a necessidade de programas para o desenvolvimento social e econômico destas sociedades e na Diáspora em diversas áreas: redução da dívida, erradicação da pobreza, construir ou fortalecer instituições democráticas, promoção do investimento estrangeiro, acesso a mercado, e outras mais.

Propõe-se a criação de locais de trabalho livres de discriminação por meio de uma estratégia multifacetada que inclui cumprimento dos direitos civis, educação pública e comunicação no local de trabalho.

Insta-se os Estados a resolver problemas de propriedade de terras ancestrais habitadas por gerações de afrodescendentes e a promover a utilização produtiva da terra e o desenvolvimento compreensivo destas comunidades.

É solicitado aos Estados concentrar positivamente os investimentos nos sistemas de saúde, educação, eletricidade, água potável, controle ambiental, como também outras ações afirmativas ou positivas em comunidades primariamente de afrodescendentes.

Insta-se os Estados a produzir e publicar dados estatísticos confiáveis e tomar todas as medidas necessárias para avaliar regularmente a situação dos indivíduos e grupos que são vítimas de racismo e discriminação

Insta-se os Estados a tomar medidas para realizar o direito de todos ao gozo do mais alto padrão de saúde física e mental, com o objetivo de eliminar disparidades na condição de saúde que possam resultar do racismo e da discriminação.

É solicitado que a Comissão de Direitos Humanos considere estabelecer um grupo de trabalho ou outro mecanismo das Nações Unidas para estudar os problemas de discriminação racial enfrentados pelos afrodescendentes.

Apela-se às Nações Unidas, às instituições internacionais financeiras e de desenvolvimento a desenvolver programas de capacitação para africanos e afrodescendentes.

O racismo no Brasil
A Conferência criou, sem dúvida, um espaço extremamente favorável para a discussão de políticas específicas para as populações negra e indígena no Brasil. É necessário que não desperdicemos o espaço criado: é preciso saber o que é prioritário e avançarmos decididamente em direção aos nossos objetivos.

Durante a maior parte do século XX as elites brancas brasileiras foram capazes de afirmar a não existência de discriminação racial no país.
Se as desigualdades entre negros e brancos são tão evidentes, por que o poder explicativo da variável "raça" tem sido sistematicamente negado no Brasil?

A desqualificação da variável "raça" é operada atribuindo-se todo o poder explicativo à variável classe, que é apresentada como um fato social simples, natural e evidente. Supostamente, os negros são discriminados porque são pobres e não o contrário.

A negação tem sido um elemento central para fazer o mito da democracia racial funcionar.O Brasil foi o país que importou o maior número de africanos escravizados entre os séculos XVI e XIX. Este número é estimado em 3,5 a 3,6 milhões, representando 38% de todos os escravos trazidos da África para as Américas. O Brasil foi também o último país do mundo a abolir o trabalho escravo. A abolição foi finalizada em 1888 após uma longa discussão das elites brancas sobre a inadequação dos negros para se tornarem trabalhadores livres.

Tal debate parece ser atualizado hoje quando vemos nas páginas dosjornais do país a preocupação com a ameaça da possibilidade da entrada de negros nas universidades a partir de políticas de cotas: teme-se pela queda da qualidade do ensino. Inadequados para o trabalho livre no passado, inadequados para as luzes do conhecimento hoje. Mais uma vez, num momento decisivo da nossa história, parte das elites brasileiras parecem considerar o povo negro inadequado e não valer a pena investir para mudar as condições precárias às quais foi submetido.
As cotas, temidas e denunciadas como mera manobra diversionista neoliberal, são na verdade um caso particular de ação afirmativa, já previsto na Convenção Internacional pela Eliminação da
Discriminação Racial, que afirma:

Não serão consideradas discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar o progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais....

É evidente que as cotas em si não são suficientes para operar a mudança profunda de que necessitamos. Mas a grita retrógrada, com aparência progressista, não pede mais: limita-se a denunciar a precariedade da educação no país, são listados todos os problemas que nos afligem desde a pré-escola e ponto. Pede-se aos negros que aguardem, sentados, as transformações estruturais que ocorrerão algum dia num futuro distante, envolto nas brumas da incerteza.

Traduzindo em bom economês delfiniano: pede-se aos negros que esperem o bolo crescer para poderem ter direito ao seu pedaço.

Uma cota inicial é um ponto de partida. Deve ser seguida de um plano detalhado para ampliação progressiva da participação negra: bolsa-escola, para que os estudantes negros possam ter dedicação exclusiva aos estudos, programas de tutoria, programas de combate ao racismo no interior das universidades e na sociedade em geral por meio de campanhas massivas nos meios de comunicação de massa. Para que as elites brancas, de esquerda e de direita, possam se libertar dos estereótipos racistas que os aprisionam e impedem de ver os indivíduos negros a partir do Artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo....

*Edna Maria Santos Roland é presidente da "Fala Preta!" Organização de Mulheres Negras, e relatora-geral da III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata.
Bibliografia
Roland, Edna M.S. "The Condition of persons of African descent in the Americas: Marginalization on the basis of Race and Poverty, Attitudes towards Cultural Identity" in United to Combat Racism – Selected articles and standard-setting instruments, Paris, Unesco, 2001
São Paulo (Estado). Procuradoria Geral do Estado. Instrumentos Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos, São Paulo, Centro de Estudos da Procuradoria Geral do Estado, 1997
Wolfrum, Rüdiger. "The Elimination of Racial Discrimination: Achievements and Challenges" in United to Combat Racism – Selected articles and standard-setting instruments, Paris, Unesco, 2001
Trabalho de referência preparado por Theodor van Boven, membro do Committee on the Elimination of Racial Discrimination, E/CN.4/1999/WG.1/BP.7, 26 February 1999
Trabalho submetido por Paulo Sérgio Pinheiro, membro da Sub-Commission on the Promotion and Protection of Human Rights, A/CONF.189/PC.1/13/Add.1, 6 March 2000.
International Working and Advisory Group da Comparative Human Relations Initiative, Beyond Racism – Embracing an Interdependent Future, Overview Report, Atlanta, Southern Education Foundation
The Persistence and Mutation of Racism, The International Council on Human Rights Policy, report of a meeting on 3-4 December 1999,Genebra
World Conference Against Racism, RacialDiscrimination, Xenophobia and Related Intolerance, Declaration and Program of Action, Durban, 31 August-8 September 2001, (Unedited Version)
Roland, Edna M.S. the economics of racism:people of african descenti n brazil, International Council on Human Rights Policy, 2001
Katia Q. Mattoso. Ser Escravo no Brasil, São Paulo: Brasiliense, 1982

De volta!

Um pouco afastada por conta de grandes mudanças, mas de volta!
No Meio Bit, achei um blog a respeito do Google. Vale a visita. Passei hooooras lendo!