terça-feira, 4 de dezembro de 2012


Comento: Não é a primeira vez: já foram julgados os condenados pela morte de Edson Neris. Mas, o delegado Jardim adora colocar seus feitos como primeiros. Além disso,  afirmar que o racismo está na gênese do gaúcho é tão racista quanto o próprio racismo... Cadê o botão de sanidade?

O Terra deu:RS: pela 1ª vez, suspeitos de nazismo serão julgados no País
Direto de Porto Alegre
No primeiro semestre de 2013, quatro suspeitos de integrar um grupo neonazista serão julgados na capital gaúcha por tentativa de homicídio, formação de quadrilha e racismo, um fato inédito no Brasil, segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Sul. O delegado Paulo César Jardim, que coordena uma equipe de investigação contra grupos extremistas no Sul do País há dez anos, compara o fato - guardadas as devidas proporções - ao histórico tribunal de Nuremberg, que condenou os principais dirigentes do nazismo após a 2ª Guerra Mundial.
"Teremos a experiência, através do júri popular, de julgar o envolvimento de nazistas pela primeira vez. Há mais de 60 anos, um fato semelhante aconteceu em Nuremberg, mas é claro que respeitamos as proporcionalidades. Na América do Sul, esse tipo de fato, com tentativa de homicídio e formação de quadrilha, é inédito", disse ele. Ainda sem data definida, o júri vai decidir o futuro de Luzia Santos Pintos, Fábio Roberto Sturm, Laureano Vieira Toscani e Thiago da Silva.
Eles se envolveram, segundo denúncia do Ministério Público (MP) aceita pela Justiça, em uma agressão a judeus em maio de 2005 no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Com facas e canivetes, os quatro, junto com outros 10 suspeitos, teriam agredido Rodrigo Fontella Matheus, Edson Nieves Santanna Júnior e Alan Floyd Gipsztejn.
O MP sustentou que os réus integravam um grupo que pregava o preconceito contra judeus, negros, homossexuais e punks. Além das agressões, eles veiculavam ideias discriminatórias pela internet, divulgavam letras de músicas, fotografias e imagens com mensagens de conteúdo antissemita e nazista e pregavam a supremacia da raça ariana. Dos 14 denunciados, dez recorreram e aguardam decisão do recurso por parte da juíza Elaine Maria Canto da Fonseca.
Paulo César Jardim não acredita, mesmo com uma eventual condenação, no fim da propagação do nazismo no Estado: "É um posicionamento ideológico, por isso não acredito no seu término. (...) Os inúmeros inquéritos remetidos à Justiça estão se fazendo necessários para o julgamento dos indiciados, para nós é importante."
Advogado critica "perseguição policial"
Defensor do réu Laureano Vieira Toscani, o advogado Guilherme Rodrigues Abrão sustenta que seu cliente não é neonazista e garante que ele não estava presente na agressão contra os judeus, em 2005. Ele criticou a "perseguição" feita pela Polícia Civil.
"A polícia teve uma visão muito apressada, por conta de um reconhecimento precário, que resultou na prisão deles. Eles não participaram do fato. Embora possua material (de cunho nazista) e tenha lido sobre essas questões, o Laureano não é uma pessoa com qualquer tipo de preconceito", argumentou Abrão.
"Seus pais são professores universitários, residiram na Europa e uma irmã já se relacionou com um negro. Não há motivos para o Laureano participar de qualquer movimento ideológico que cultive o ódio e o preconceito. Muito se dá por uma certa perseguição e estigma", completou.
Rebatendo o defensor, Jardim ironizou: "Quase 90% das pessoas que estão no Presídio Central são 'inocentes' e foram 'injustamente condenadas'". Os demais réus não contrataram advogados e terão defensores públicos no tribunal. O Terra entrou em contato com a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, mas até a publicação desta reportagem não obteve retorno.
Histórico de violência
Em agosto de 2011, uma briga envolvendo punks, skinheads e ao menos um neonazista em um bar da capital gaúcha ligou o sinal de alerta da polícia para a atuação de grupos que pregam o ódio e a discriminação no Sul do País, inspirados pela ideologia de Adolf Hitler. Responsável pelo indiciamento de 35 neonazistas no Estado na última década, Jardim afirmou que está "na gênese" do gaúcho a guarida para movimentos desse tipo.
Já em 2010, um grupo de defesa dos direitos dos travestis no Rio Grande do Sul recebeu ameaças por telefone de um suposto neonazista, que disse preparar uma ação na 14ª Parada Livre. Em edição anterior do evento, cartazes que pregavam a morte de homossexuais foram afixados no bairro Bom Fim, onde ocorre a passeata. Em novembro do mesmo ano, policiais civis apreenderam material de apologia ao nazismo em uma residência no centro de Porto Alegre.
Foram recolhidos fotografias, CDs, camisetas, distintivos, facas, uma soqueira e um laptop, mas ninguém foi preso. Em 2009, apreensões semelhantes ocorreram em Cachoeirinha, Viamão e Porto Alegre. Também em 2009, o casal Bernardo Dayrell e Renata Ferreira foi assassinado após uma festa neonazista no Paraná. O crime foi cometido na BR-116, em Quatro Barras, região metropolitana de Curitiba, e teve motivações de disputa entre o grupo neonazista liderado por Dayrell e Ricardo Barollo, apontado pela polícia como o mandante do duplo homicídio.
Além dele, Jairo Maciel Fischer, Rodrigo Motta, Gustavo Wendler, Rosana Almeida e João Guilherme Correa foram acusados de participar no crime. No dia do assassinato do casal, vários membros do grupo neonazista foram a uma festa em comemoração ao aniversário de Adolf Hitler em uma chácara de Quatro Barras. Conforme a lei 7.716, de 1989, "fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo" prevê pena de até três anos de reclusão.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Nazistas não só cumpriam ordens, mas tinham orgulho, diz pesquisa


Adolf Eichmann, criminoso nazista morto em 1962, é um dos ex-oficiais que se orgulhavam do Holocausto. Foto: AFP

Fonte: Portal Terra

http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6324170-EI8142,00-Nazistas+nao+so+cumpriam+ordens+mas+tinham+orgulho+diz+pesquisa.html


Imagem: Adolf Eichmann, criminoso nazista morto em 1962, é um dos ex-oficiais que se orgulhavam do Holocausto
Foto: AFP















Um grupo de pesquisadores contestou os estudos que afirmam que nazistas que chefiavam campos de concentração estavam apenas "cumprindo ordens", e disse que os seguidores de Adolf tler realmente acreditavam e se orgulhavam do que estavam fazendo. Entre os anos 1960 e 1970, pesquisas sobre o comportamento humano se tornaram referência com a teoria de que essas pessoas praticaram atos de maldade porque naturalmente seguiram ordens de figuras de autoridade. Criminosos nazistas utilizaram a tese em própria defesa em vários julgamentos na corte de Nuremberg, na Alemanha.
Porém, psicólogos reexaminaram os experimentos originais e desafiaram os resultados de 50 anos atrás. O professor Stephen Reicher, da Universidade de Saint Andrews, na Escócia, e o professor Alex Haslam, da Universidade de Queensland, na Austrália, iniciaram os estudos há 10 anos. Eles descobriram que voluntários que trabalharam como guardas em campos de concentração só agiram com brutalidade quando se identificaram com seu papel e acreditavam que suas ações eram necessárias para manter o controle.
Em uma série de experimentos mais recentes, os pesquisadores descobriram que as pessoas só se curvam à autoridade quando elas acreditam que isso é necessário para atingir um objetivo maior. "Nossa pesquisa mostra que a tirania não resulta de uma conformidade cega às regras, é um ato criativo de seguimento que flui da identificação com autoridades que representam atos tanto cruéis como virtuosos", disse o professor Haslam.
Os dois professores afirmaram que "uma série de profundas análises históricas têm desafiado a ideia de que burocratas nazistas estivessem apenas seguindo ordens". "Essa pode ter sido a defesa que eles alegaram ao buscar minimizar a culpa, mas provas sugerem que funcionários como (Adolf) Eichmann (enforcado em 1962 por seu papel na organização do Holocausto) tinham um entendimento muito bom do que eles estavam fazendo e se orgulhavam da enérgica aplicação que tinham em seus trabalhos", disseram os pesquisadores.
Com informações do Daily Mail.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Eu não vou ser cúmplice do genocídio dos Guaranis Caiovás



“Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui”

A declaração de morte coletiva feita por um grupo de Guaranis Caiovás demonstra a incompetência do Estado brasileiro para cumprir a Constituição de 1988 e mostra que somos todos cúmplices de genocídio – uma parte de nós por ação, outra por omissão

ELIANE BRUM
Eliane Brum, jornalista, escritora e documentarista (Foto: ÉPOCA)
- Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais. 
O trecho pertence à carta de um grupo de 170 indígenas que vivem à beira de um rio no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, cercados por pistoleiros. As palavras foram ditadas em 8 de outubro ao conselho Aty Guasu (assembleia dos Guaranis Caiovás), após receberem a notícia de que a Justiça Federal decretou sua expulsão da terra. São 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças. Decidiram ficar. E morrer como ato de resistência – morrer com tudo o que são, na terra que lhes pertence.
Há cartas, como a de Pero Vaz de Caminha, de 1º de maio de 1500, que são documentos de fundação do Brasil: fundam uma nação, ainda sequer imaginada, a partir do olhar estrangeiro do colonizador sobre a terra e sobre os habitantes que nela vivem. E há cartas, como a dos Guaranis Caiovás, escritas mais de 500 anos depois, que são documentos de falência. Não só no sentido da incapacidade do Estado-nação constituído nos últimos séculos de cumprir a lei estabelecida na Constituição hoje em vigor, mas também dos princípios mais elementares que forjaram nosso ideal de humanidade na formação do que se convencionou chamar de “o povo brasileiro”. A partir da carta dos Guaranis Caiovás, tornamo-nos cúmplices de genocídio. Sempre fomos, mas tornar-se é saber que se é. 
Os Guaranis Caiovás avisam-nos por carta que, depois de tantas décadas de luta para viver, descobriram que agora só lhes resta morrer. Avisam a todos nós que morrerão como viveram: coletivamente, conjugados no plural. 
Nos trechos mais pungentes de sua carta de morte, os indígenas afirmam: 
- Queremos deixar evidente ao Governo e à Justiça Federal que, por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo. Não acreditamos mais na Justiça Brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos, mesmo, em pouco tempo. Não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy, onde já ocorreram 4 mortes, sendo que 2 morreram por meio de suicídio, 2 em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas. Moramos na margem deste rio Hovy há mais de um ano. Estamos sem assistência nenhuma, isolados, cercados de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Tudo isso passamos dia a dia para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários de nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali está o cemitérios de todos os nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje. (…) Não temos outra opção, esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.
Como podemos alcançar o desespero de uma decisão de morte coletiva? Não podemos. Não sabemos o que é isso. Mas podemos conhecer quem morreu, morre e vai morrer por nossa ação – ou inação. E, assim, pelo menos aproximar nossos mundos, que até hoje têm na violência sua principal intersecção. 

Era de gente que se tratava, mas o que se fez na época foi confiná-los como gado, num espaço de terra pequeno demais para que pudessem viver ao seu modo – ou, na palavra que é deles, Teko Porã (“o Bem Viver”). Com a chegada dos colonos, os indígenas passaram a ter três destinos: ou as reservas ou trabalhar nas fazendas como mão de obra semiescrava ou se aprofundar na mata. Quem se rebelou foi massacrado. Para os Guaranis Caiovás, a terra a qual pertencem é a terra onde estão sepultados seus antepassados. Para eles, a terra não é uma mercadoria – a terra é. 
Desde o ínicio do século XX, com mais afinco a partir do Estado Novo (1937-45) de Getúlio Vargas, iniciou-se a ocupação pelos brancos da terra dos Guaranis Caiovás. Os indígenas, que sempre viveram lá, começaram a ser confinados em reservas pelo governo federal, para liberar suas terras para os colonos que chegavam, no que se chamou de “A Grande Marcha para o Oeste”. A visão era a mesma que até hoje persiste no senso comum: “terra desocupada” ou “não há ninguém lá, só índio”.  
Na ditadura militar, nos anos 60 e 70, a colonização do Mato Grosso do Sul se intensificou. Um grande número de sulistas, gaúchos mais do que todos, migrou para o território para ocupar a terra dos índios. Outros despacharam peões e pistoleiros, administrando a matança de longe, bem acomodados em suas cidades de origem, onde viviam – e vivem até hoje – como “cidadãos de bem”, fingindo que não têm sangue nas mãos.  
Com a redemocratização do país, a Constituição de 1988 representou uma mudança de olhar e uma esperança de justiça. Os territórios indígenas deveriam ser demarcados pelo Estado no prazo de cinco anos. Como sabemos, não foi. O processo de identificação, declaração, demarcação e homologação das terras indígenas tem sido lento, sensível a pressões dos grandes proprietários de terras e da parcela retrógrada do agronegócio. E, mesmo naquelas terras que já estão homologadas, em muitas o governo federal não completou a desintrusão – a retirada daqueles que ocupam a terra, como posseiros e fazendeiros –, aprofundando os conflitos. 

Nestas últimas décadas testemunhamos o genocídio dos Guaranis Caiovás. Em geral, a situação dos indígenas brasileiros é vergonhosa. A dos 43 mil Guaranis Caiovás, o segundo grupo mais numeroso do país, é considerada a pior de todas. Confinados em reservas como a de Dourados, onde cerca de 14 mil, divididos em 43 grupos familiares, ocupam 3,5 mil hectares, eles encontram-se numa situação de colapso. Sem poder viver segundo a sua cultura, totalmente encurralados, imersos numa natureza degradada, corroídos pelo alcoolismo dos adultos e pela subnutrição das crianças, os índices de homicídio da reserva são maiores do que em zonas em estado de guerra.  
A situação em Dourados é tão aterradora que provocou a seguinte afirmação da vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat: “A reserva de Dourados é talvez a maior tragédia conhecida da questão indígena em todo o mundo”. Segundo um relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que analisou os dados de 2003 a 2010, o índice de assassinatos na Reserva de Dourados é de 145 para cada 100 mil habitantes – no Iraque, o índice é de 93 assassinatos para cada 100 mil. Comparado à média brasileira, o índice de homicídios da Reserva de Dourados é 495% maior.  
A cada seis dias, um jovem Guarani Caiová se suicida. Desde 1980, cerca de 1500 tiraram a própria vida. A maioria deles enforcou-se num pé de árvore. Entre as várias causas elencadas pelos pesquisadores está o fato de que, neste período da vida, os jovens precisam formar sua família e as perspectivas de futuro são ou trabalhar na cana de açúcar ou virar mendigos. O futuro, portanto, é um não ser aquilo que se é. Algo que, talvez para muitos deles, seja pior do que a morte. 
Um relatório do Ministério da Saúde mostrou, neste ano, o que chamou de “dados alarmantes, se destacando tanto no cenário nacional quanto internacional”. Desde 2000, foram 555 suicídios, 98% deles por enforcamento, 70% cometidos por homens, a maioria deles na faixa dos 15 aos 29 anos. No Brasil, o índice de suicídios em 2007 foi de 4,7 por 100 mil habitantes. Entre os indígenas, no mesmo ano, foi de 65,68 por 100 mil. Em 2008, o índice de suicídios entre os Guaranis Caiovás chegou a 87,97 por 100 mil, segundo dados oficiais. Os pesquisadores acreditam que os números devem ser ainda maiores, já que parte dos suicídios é escondida pelos grupos familiares por questões culturais. 
As lideranças Guaranis Caiovás não permaneceram impassíveis diante deste presente sem futuro. Começaram a se organizar para denunciar o genocídio do seu povo e reivindicar o cumprimento da Constituição. Até hoje, mais de 20 delas morreram assassinadas por ferirem os interesses privados de fazendeiros da região, a começar por Marçal de Souza, em 1983, cujo assassinato ganhou repercussão internacional. Ao mesmo tempo, grupos de Guaranis Caiovás abandonaram o confinamento das reservas e passaram a buscar suas tekohá, terras originais, na luta pela retomada do território e do direito à vida. Alguns grupos ocuparam fundos de fazendas, outros montaram 30 acampamentos à beira da estrada, numa situação de absoluta indignidade. Tanto nas reservas quanto fora delas, a desnutrição infantil é avassaladora. 
A trajetória dos Guaranis Caiovás que anunciaram sua morte coletiva ilustra bem o destino ao qual o Estado brasileiro os condenou. Homens, mulheres e crianças empreenderam um caminho em busca da terra tradicional, localizada às margens do Rio Hovy, no município de Iguatemi (MS). Acamparam em sua terra no dia 8 de agosto de 2011, nos fundos de fazendas. Em 23 de agosto foram atacados e cercados por pistoleiros, a mando dos fazendeiros. Em um ano, os pistoleiros já derrubaram dez vezes a ponte móvel feitas por eles para atravessar um rio com 30 metros de largura e três de fundura. Em um ano, dois indígenas foram torturados e mortos pelos pistoleiros, outros dois se suicidaram.  
Em tentativas anteriores de recuperação desta mesma terra, os Guaranis Caiovás já tinham sido espancados e ameaçados com armas de fogo. Alguns deles tiveram seus olhos vendados e foram jogados na beira da estrada. Em outra ocasião, mulheres, velhos e crianças tiveram seus braços e pernas fraturados. O que a Justiça Federal fez? Deferiu uma ordem de despejo. Em nota, a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) afirmou que “está trabalhando para reverter a decisão”. 
Os Guaranis Caiovás estão sendo assassinados há muito tempo, de todas as formas disponíveis, as concretas e as simbólicas. “A impunidade é a maior agressão cometida contra eles”, afirma Flávio Machado, coordenador do CIMI no Mato Grosso do Sul. Nas últimas décadas, há pelo menos duas formas interligadas de violência no processo de recuperação da terra tradicional dos indígenas: uma privada, das milícias de pistoleiros organizadas pelos fazendeiros; outra do Estado, perpetrada pela Justiça Federal, na qual parte dos juízes, sem qualquer conhecimento da realidade vivida na região, toma decisões que não só compactuam com a violência , como a acirram.  
“Quando os pistoleiros não conseguem consumar os despejos e massacres truculentos dos indígenas, os fazendeiros contratam advogados para conseguir a ordem de despejo na Justiça”, afirma Egon Heck, indigenista e cientista político, num artigo publicado em relatório do CIMI. “No momento em que ocorre a ordem de despejo, os agentes policiais agem de modo similar ao dos pistoleiros, visto que utilizam armas pesadas, queimam as ocas, ameaçam e assustam as crianças, mulheres e idosos.”  
Ao fundo, o quadro maior: os sucessivos governos que se alternaram no poder após a Constituição de 1988 foram incompetentes para cumpri-la. Ao final de seus dois mandatos, Lula reconheceu que deixava o governo com essa dívida junto ao povo Guarani Caiová. Legava a tarefa à sua sucessora, Dilma Rousseff. Os indígenas escreveram, então, uma carta: “Presidente Dilma, a questão das nossas terras já era para ter sido resolvida há décadas. Mas todos os governos lavaram as mãos e foram deixando a situação se agravar. Por ultimo, o ex-presidente Lula prometeu, se comprometeu, mas não resolveu. Reconheceu que ficou com essa dívida para com nosso povo Guarani Caiová e passou a solução para suas mãos. E nós não podemos mais esperar. Não nos deixe sofrer e ficar chorando nossos mortos quase todos os dias. Não deixe que nossos filhos continuem enchendo as cadeias ou se suicidem por falta de esperança de futuro (…) Devolvam nossas condições de vida que são nossos tekohá, nossas terras tradicionais. Não estamos pedindo nada demais, apenas os nossos direitos que estão nas leis do Brasil e internacionais”. 
A declaração de morte dos Guaranis Caiovás ecoou nas redes sociais na semana passada. Gerou uma comoção. Não é a primeira vez que indígenas anunciam seu desespero e seu genocídio. Em geral, quase ninguém escuta, para além dos mesmos de sempre, e o que era morte anunciada vira morte consumada. Talvez a diferença desta carta é o fato de ela ecoar algo que é repetido nas mais variadas esferas da sociedade brasileira, em ambientes os mais diversos, considerado até um comentário espirituoso em certos espaços intelectualizados: a ideia de que a sociedade brasileira estaria melhor sem os índios. 
Desqualificar os índios, sua cultura e a situação de indignidade na qual vive boa parte das etnias é uma piada clássica em alguns meios, tão recorrente que se tornou quase um clichê. Para parte da elite escolarizada, apesar do esforço empreendido pelos antropólogos, entre eles Lévi-Strauss, as culturas indígenas ainda são vistas como “atrasadas”, numa cadeia evolutiva única e inescapável entre a pedra lascada e o Ipad – e não como uma escolha diversa e um caminho possível. Assim, essa parcela da elite descarta, em nome da ignorância, a imensa riqueza contida na linguagem, no conhecimento e nas visões de mundo das 230 etnias indígenas que ainda sobrevivem por aqui. 
Toda a História do Brasil, a partir da “descoberta” e da colonização, é marcada pelo olhar de que o índio é um entrave no caminho do “progresso” ou do “desenvolvimento”. Entrave desde os primórdios – primeiro, porque teve a deselegância de estar aqui antes dos portugueses; em seguida, porque se rebelava ao ser escravizado pelos invasores europeus. A sociedade brasileira se constituiu com essa ideia e ainda que a própria sociedade tenha mudado em muitos aspectos, a concepção do índio como um entrave persiste. E persiste de forma impressionante, não só para uma parte significativa da população, mas para setores do Estado, tanto no governo atual quanto nas gestões passadas.  
 “Entraves” precisam ser removidos. E têm sido, de várias maneiras, como a História, a passada e a presente, nos mostra. Talvez essa seja uma das explicações possíveis para o impacto da carta de morte ter alcançado um universo maior de pessoas. Desta vez, são os índios que nos dizem algo que pode ser compreendido da seguinte forma: “É isso o que vocês querem? Nos matar a todos? Então nós decidimos: vamos morrer”. Ao devolver o desejo a quem o deseja, o impacto é grande.  
É importante lembrar que carta é palavra. A declaração de morte coletiva surge como palavra dita. Por isso precisamos compreender, pelo menos um pouco, o que é a palavra para os Guaranis Caiovás. Em um texto muito bonito, intitulado Ñe'ẽ – a palavra alma, a antropóloga Graciela Chamorro, da Universidade Federal da Grande Dourados, nos dá algumas pistas: 
“A palavra é a unidade mais densa que explica como se trama a vida para os povos chamados guarani e como eles imaginam o transcendente. As experiências da vida são experiências de palavra. Deus é palavra. (...) O nascimento, como o momento em que a palavra se senta ou provê para si um lugar no corpo da criança. A palavra circula pelo esqueleto humano. Ela é justamente o que nos mantém em pé, que nos humaniza. (...) Na cerimônia de nominação, o xamã revelará o nome da criança, marcando com isso a recepção oficial da nova palavra na comunidade. (...) As crises da vida – doenças, tristezas, inimizades etc. – são explicadas como um afastamento da pessoa de sua palavra divinizadora. Por isso, os rezadores e as rezadoras se esforçam para ‘trazer de volta’, ‘voltar a sentar’ a palavra na pessoa, devolvendo-lhe a saúde.(...) Quando a palavra não tem mais lugar ou assento, a pessoa morre e torna-se um devir, um não-ser, uma palavra-que-não-é-mais. (...) Ñe'ẽ e ayvu podem ser traduzidos tanto como ‘palavra’ como por ‘alma’, com o mesmo significado de ‘minha palavra sou eu’ ou ‘minha alma sou eu’. (...) Assim, alma e palavra podem adjetivar-se mutuamente, podendo-se falar em palavra-alma ou alma-palavra, sendo a alma não uma parte, mas a vida como um todo.” 
A fala, diz o antropólogo Spensy Pimentel, pesquisador do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo, é a parte mais sublime do ser humano para os Guaranis Caiovás. “A palavra é o cerne da resistência. Tem uma ação no mundo – é uma palavra que age. Faz as coisas acontecerem, faz o futuro. O limite entre o discurso e a profecia é tênue.”
Se a carta de Pero Vaz de Caminha marca o nascimento do Brasil pela palavra escrita, é interessante pensar o que marca a carta dos Guaranis Caiovás mais de 500 anos depois. Na carta-fundadora, é o invasor/colonizador/conquistador/estrangeiro quem estranha e olha para os índios, para sua cultura e para sua terra. Na dos Guaranis Caiovás, são os índios que olham para nós. O que nos dizem aqueles que nos veem? (Ou o que veem aqueles que nos dizem?)
A declaração de morte dos Guaranis Caiovás é “palavra que age”. Antes que o espasmo de nossa comoção de sofá migre para outra tragédia, talvez valha a pena uma última pergunta: para nós, o que é a palavra? 
Eliane Brum escreve às segundas-feiras.

sábado, 20 de outubro de 2012

Uma notícia muito preocupante

A Alemanha tem dezenas de milhares de neonazistas e simpatizantes. Agora foi informado que aqueles que tem ORDEM DE PRISÃO DECRETADA ULTRAPASSAM UMA CENTENA.  #PERIGO.

Mais de uma centena de neonazistas alemães procurados pela Polícia e a Justiça da Alemanha vivem na clandestinidade, revela o ministro do Interior, Hans Peter Friedrich, em declarações adiantadas neste sábado (20) pelo dominical "Welt am Sonntag".

"O Escritório Federal de Investigação Criminal (BKA) contabilizava em meados de setembro 110 ultradireitistas sobre os quais pesa uma ordem de detenção", destaca Friedrich, que antecipa que o número pode ter mudado desde então.

O ministro alemão não acredita, no entanto, que entre eles figurem imitadores da desarticulada célula Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU) que se dediquem a assassinar arbitrariamente estrangeiros de maneira anônima.

No entanto, considera possível que "nos ambientes de extrema-direita haja também pessoas que sigam tendências que conduzam a um terrorismo violento, que devemos combater".

Friedrich ressalta que na luta contra o potencial terrorismo de extrema-direita são necessários "fortes" serviços secretos e destaca o trabalho da recém-criada central de dados sobre extremistas de extrema-direita.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Mensagens preconceituosas na internet aumentam em período eleitoral


Mensagens preconceituosas na internet aumentam em período eleitoral

por
EBC
Publicada em 08/10/2012 18:38:13
Um pouco antes do início da apuração dos votos das eleições municipais, neste domingo (7/10), a suástica, símbolo do regime nazista, ocupava as primeiras posições da lista dos assuntos mais comentados no Twitter. 
De acordo com a organização não-governamental Safer Net, esse não é um caso isolado: no período eleitoral, a denúncia contra páginas consideradas ilícitas cresce consideravelmente. 
Na véspera da eleição, a organização recebeu 378 denúncias – 150% a mais do que a média registrada nos sábados anteriores. Os dados parciais do domingo também indicam um número de denúncias pelo menos 272% superior aos domingos anteriores.
O presidente da SaferNet Brasil, Thiago Oliveira, destaca que a maioria das denúncias está relacionada a perfis de usuários nasredes sociais, principalmente Twitter e Facebook, que são indicados por outros usuários por supostamente estarem propagando mensagem de ódio e discriminação. 
Os alvos mais comuns são nordestinos, judeus, homossexuais e negros – incluindo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa.
Antecedentes
Em 2010, uma onda de comentários contra nordestinos também tomou conta das redes sociais, logo depois da eleição da presidenta Dilma Rousseff. 
Um dos casos que ficou mais conhecido foi o da estudante de direito Mayara Petruso que dizia que os eleitores do Nordeste deviam ser “afogados”. 
O perfil dela  recebeu mais de mil denúncias só na SaferNet e a entidade enviou as denúncias ao Ministério Público do estado de São Paulo. 

Quem quiser denúnciar crimes virtuais de racismo, xenofobia ou relacionado a outros tipos de conteúdo deve acessar a página da SaferNet Brasil, indicando o site ou perfil que postou a mensagem considerada ilegal.

A respeito deste tema, já escrevi um artigo, na época da eleição do Presidente Lula. Leia em http://etnografianovirtual.blogspot.com.br/2007/01/proliferando-intolerancias.html 

Nem todo nu é libertário



Adriana Dias, com colaboração de Marcelo Higa



            Nem tudo que reluz é ouro, dizia nossas avós. Nem todo nu é libertário, aprendam suas netas. Em outras épocas e grupos sociais, a nudez teve significados simbólicos distintos, em algumas o nudismo foi associado a movimentos ideológicos fortemente totalitários. O nu também pode ser fetiche e mercadoria.
            Mas, o nu, numa sociedade tão complexa quanto a nossa, em que Fernanda Lima denuncia com seu programa global o quanto sexualidade ainda é tão tabu, em que plásticas financiadas em 24x no cartão de crédito apontam a possibilidade de comprar o corpo para caber no vestido que desejamos, ou imaginamos que outros desejariam (o corpo e/ou o vestido, visto que nos alimentarmos de sermos máquinas desejantes e invejáveis...) ah, o nu, o nu continua a provocar tensões: expulsa perfis de facebook (a maior calamidade social dos novos tempos), garante quinze segundos de fama, ou dezoito, o nu opera milagres, quase anda sobre as águas.
            Nos anos 20 e 30 do século passado, o finado, o nudismo, foi, em algumas sociedades europeias, (porque em terras tupiniquins o chique era andar vestido, ora essa!!! ) associado ideologicamente a uma recuperação dos estragos ocasionados pela industrialização, para a restauração da vida em harmonia com a natureza. Obviamente, isto não podia acontecer aqui, que nem industrialização tínhamos, capitalismo tardio que vivemos e atrasou toda a nossa história!
            A ideia era criar uma certa imitação, um mimetismo, Deleuze diria um simulacro da era clássica, da Polis, com seu belo culto rarefeito da beleza, dado pela Polis da antiguidade grega clássica. Isso contagiou o pensamento artístico da Alemanha no período entre guerras. É importante entender que os retratos nus da época, assim como as esculturas, demonstram uma ligação, um amálgama simbólico entre o corpo e o corpo político[1]. Os vários ramos do Movimento da Juventude Alemã expressara  seus anseios, tanto para a liderança carismática e uma reconciliação forte com a natureza, de forma evidente neste época.
            É certo que o culto à nudez e a forma específica de estética por ele preconizada, e do pensamento organicista foram dois fatores que fizeram de Hitler um líder para os jovens: o líder nazista apareceu para dar conta destes anseios: idealizou o estado com uma forma diversa da coletividade pressuposta (como na URSS), ou da associação contratual dos indivíduos (como no capitalismo liberal), mas, antes, decidiu que a força estatal seria um organismo “saudável”, que estimularia o que ele defendia como a “recuperação de valores supostamente tradicionais” que a civilização moderna tinham destruído: os laços de parentes e amigos, definidos apenas pela pureza da relação de sangue racial, a unidade do povo racialmente idênticos, o enobrecimento de ricos e pobres em membros da melhor raça, a camaradagem do grupo tribal, regional ou militar a serviço de seu líder e sua nação, as guerras seriam resultado de uma concepção da vida como uma luta entre raças diferentes competindo uma contra a outra para a expansão e dominação. O nu entrava como aparelho ideológico para definir uma proposta para as massas: uma proposta estética, que lembrasse a elas como o arianismo respondia pelo “belo”, pelo natural: todo discurso de volta à natureza também pode ser totalitário também, depende de quem o orquestra, e de sua intencionalidade.
            Um exemplo de um desses ideólogos, o artista Adolf Wamper (1901-1977), presente na exposição organizada por Hitler a respeito da arte genuinamente alemã, Haus der Deutschen Kunst, defendia em suas obras a figura humana nua, vitoriosa do nacional socialismo. Os contornos quadrados demonstram um totalitarismo e um forte vínculo com o poder, e a figura é muito mais um pastiche do que um retorno ao clássico, porque adiciona elementos nórdicos e de controle, à cultura grega, hedonista e leve em sua essência[2]. A obra mais conhecida de Wampler, ilustra bem a discussão:


Figura1
Genius da Vitória

            Com o mesmo nome de uma escultura belíssima de Michelangelo, a obra não traz do Mestre nada além do nome. Notem as formas quadradas, a desproporção, o corpo postado numa forma de suástica estilizada, a espada e a águia mirando o Ocidente, o inimigo, e o olhar o Oriente, a estátua deseja dominar o mundo. Não passa de um pastiche estético e ideológico.
            Como neste exemplo, os modelos da Antiguidade e da Renascença eram  adaptados e forjados a este pastiche ideológico para servir às necessidades da Alemanha nacional-socialista. Para isto, houve apoio logístico e financeiro da elite política  que desenvolveu mecenato para vários escultores alemães. A ideia era se comparar a um passado grandioso como o de Praxíteles ou Fídias da Grécia antiga, ou as esculturas de Michelangelo durante o Renascimento, mas sua arte, nunca chegou perto disso, quando expressou algum talento. As obras revelam um totalitarismo e um serviço ideológico que visava criar concepções nas massas a favor da eugenia, da esterilização e morte em massa das pessoas com deficiência, da segregação e posterior eliminação dos não arianos.
            A nudez no nacional nacionalismo, usada de modo frequente tanto em edifícios de representação e nas ilustrações, permaneceu em uso mesmo com o esforço do partido para apresentar-se como o partido da respeitabilidade. Ainda que proibissem a pornografia e nudismo pouco depois de chegar ao poder, para ganhar o respeito dos evangélicos, os nazistas exploraram fortemente o símbolos da natureza em seus livros, apresentando os homens arianos como guerreiros nus fortes e invencíveis e as mulheres arianas como jovens ninfas em contato com a natureza.
            Isto  se adequava perfeitamente aos movimentos sociais que nasciam na Europa, em especial na Alemanha dos anos 20, em que cientistas e pseudo-cientistas, charlatões e leigos se voltavam para o corpo como um reflexo de seus próprios problemas sociais e buscando nele uma resposta utópica em sua busca por perfeccionismo, controle e um mundo ideal. O corpo parecia ser a única via de saída para uma saída absolutamente marcada pelo desalento: se defendiam modelos de vida: alguns apontavam alguns exercícios simplesmente, um estilo de vida saudável e uma dieta equilibrada como uma forma de melhorar o corpo, a vida, o mundo. Muitos, porém, se volveram para o vegetarianismo, o nudismo, a musculação, a eugenia e  as curas alternativas em seus empenhos para aprimorar e aperfeiçoar o funcionamento da arquitetura e interior do corpo humano. Qualquer semelhança com o que vivemos hoje, mera coincidência???
            Hitler, ele mesmo era vegetariano, e grande defensor de um estilo de vida estético natural. Um aspecto da campanha pela "autenticidade" e "anti-artificialidade" na Alemanha nazista incluía um debate sobre a nudez "adequada" e nudez "digna". Sob os auspícios da SS, se publicou uma série de ensaios fotográficos, que receberam o título de "|Bela e pura." O prefácio da série incluía uma citação de Hitler Mein Kampf :
     "A vida pública deve ser liberado a partir do perfume sufocante de nosso erotismo moderno, bem como de toda a desonestidade puritana não masculina, em todas estas coisas, o objetivo e os meios devem. ser definido pela preocupação com a preservação da saúde no corpo e na alma de nosso Volk . "

A declaração hitlerista, no livro, foi ilustrada com fotografias de jovens, supostamente puras (em vez de virgens) em nus femininos posando em espaços "naturais", atoladas em uma lagoa ou meio à grama alta que beiravam a água, como ninfas.

O livro visava comparar as jovens “belas e puras” arianas, perfeitas em formas, às dançarinas e prostitutas, pois o nazismo associava a prostituição ao judaísmo, para eles seu autor. Tanto que as judias, por serem as autoras da prostituição eram muitas vezes estupradas nos campos, junto com as lésbicas, por soldados arianos, fatos que o movimento feminista só levantou na década de 70, tamanha a vergonha das vítimas. Daí vem o estupro corretivo dos sites horrendos... Claro que a prática já existia, mas o nazismo a  ampliou! Sobre a perseguição da comunidade LGBT do nefasto regime leia um ótimo artigo aqui.

O objetivo principal da nudez totalitária era incentivar as mulheres jovens para convencionar em si os ideais de beleza com um ideal de fertilidade, de acordo com a política de SS seleção racial e propagação. Esta foi redigida sob os termos "beleza natural" ou "beleza saudável". A beleza física era  um componente chave da ênfase da Alemanha nazista em esportes e de aptidão física.

Do mesmo escultor de Genius da Vitória, Adolf Wamper, quatro estátuas serviram para ilustrar o ideal de feminino na Alemanha nazi: as quatro estações. Numa delas, a imagem feminina é adornada por flores, que lembram uma ninfa:

Figura2
Cyclus
Em xilogravuras da época, outro artista, Ernst von Dombrowski , reforça esta natureza ninfa nas camponesas:

Figura 3
Ernst von Dombrowski (1896-1985), Cenas de vida dos camponeses na Alemanha
            
             O interessante do momento contemporâneo é visualizar todos estes símbolos retornarem com força à cena. Não penas grupos neonazistas tomam a cena urbana, como as redes sociais e a WEB, como estas imagens femininas, nuas, ninfas e rígidas percorrem o país e entrevistas televisivas, enganado pessoas tão inteligentes como Marília Gabriela!
            A líder da FEMEM Brasil, Sara Winter, já vista mais de uma vez em shows de bandas neonazis, que traz uma Cruz de ferro nazista tatuada no peito, ( nem tente me convencer que não se trará disto, Mon Chéri, pelas cerejas estampadas por perto, porque pra mim elas são a cereja do topo do seu bolo simbólico totalitário!), que já disse admirar Hitler e Plínio Salgado e agora argumenta que foi uma fase, defende uma nudez estética, bela, e sem conteúdo feminista. Será que ninguém escreve sobre isso. Bem, escrevo eu.
            Antes disto, coloco aqui uma capa de revista nazi contemporânea, voltada para o público feminino, que fala contra a prostituição, o estupro, o abuso, o aborto...



Figura 4
Revista da WAU, Woman Arian Unity




E do facebook de Sara Winter, uma foto quase esculpida por Wamper, o grande ideólogo das artes nazistas:

            

Notem a mesma postura de Ciclus do escultor nazista, as flores (símbolo da FEMEM da Ucrânia) e perolas da xilografura das camponesas alemãs, e as cerejas são os frutos da cruz gramada. Só espero que Winter não seja uma referência às Quatro estações... ou uma referência à famosa nazista inglesa... Sarah Winter... veja a história dela aqui...  Nome real: Sara Fernanda Giromini Ok, ela pode dizer que ela se arrependeu. Que isto pertence ao passado dela e todos temos o direito de errar. Mas, quando nossos erros apontam para o que a humanidade tem de mais vergonhoso em sua história, Sara Winter, não lideramos um grupo. Não aprendemos enquanto contaminamos a pessoas com símbolos nazistas. Deixamos para alguém mais capaz, mais brasileiro, quem sabe uma negra feminista, que tenha lido, na adolescência, ao invés de Mein Kampf, Casa Grande e Senzala, no mínimo! Enquanto isso você se desintoxica e aprende!







Figura 5
Sara Winter


Update:
Num excelente comentário, 
 Ti Carioca disse...
Gostei do seu texto, mas faço três ressalvas:
Casa Grande & Senzala, apesar de um grande livro, em minha opinião, é racista!
Outra coisa: você citou o programa da Fernanda Lima! Bom, acho aquilo lá pura um típico "falso discurso libertário".
Sexo, tabu? Não mesmo!

Eu respondo:
Exatamente, Casa grande é o nosso livro racista, não o que a loira do FEMEM leu... e uma mulher feminista poderia fazer uma grande crítica dele, né??? Mas, tem q ler, né, como tem que ler Viva o povo brasileiro, Raízes do Brasil, O segundo Sexo, De Mariazinha a Maria, A Questão gay, E um monte de gente... bjs

Pelo menos poderia criticar o Demóstenes (ex, mas sempre DEMO) e seu estrupo consensual!!!!!!!

Sim, e Fernanda Lima foi uma das muita ironias minhas. Achem as outras...

Leiam tb http://femenputecidxs.wordpress.com/2012/09/25/dossie-femen/

Leia mais sobre o FEMEM e a perseguição xenofóbica em http://descontroles.wordpress.com/2012/08/21/coincidencias-de-um-feminismo-importado/
http://www.tumblr.com/tagged/sara-winter?before=1345082660

Postagem encontrada no GOOGLE: 

Esse texto foi postado pelo Coletivo Rash de SP e representa nossa posição enquanto Coletivo Antifascista que não está (nem nunca esteve envolvido) com Sara Winter.
Posted on 15/08/2012 by RASH SÃO PAULO
Não conhecemos o Femen ucraniano o suficiente para falar muita coisa a respeito. O que sabemos do grupo nos veio através da mídia burguesa, que lhe da um espaço que outrxs ativistas do leste europeu, que nos parecem muito mais interessantes e subversivos, como as Pussy Riot ou xs Voina, jamais tiveram. Na verdade as ações das Femen sempre nos pareceram muito mais exibições de pornografia soft hétero mainstream que algo que realmente colocasse em risco a ditadura heterocapitalista. Ainda assim, reconhecemos que foi graças a suas ações durante a Eurocopa deste ano que a questão da exploração da prostituição nos megaeventos esportivos apareceu até no Jornal Nacional.
E foi nessa época dos protestos na Eurocopa que a mesma mídia burguesa noticiou com entusiasmo a participação de uma brasileira nas ações das Femen, com direito a reportagens no horário nobre de domingo. Desde o princípio surgiram rumores a respeito desta integrante brasileira, que se apresenta com o nome de Sara Winter: além de não ter vínculo algum com o feminismo ou qualquer outro movimento popular aqui no Brasil, ela teria um longo histórico de rolê com pilantras. Como esses rumores pareciam vir de grupos da subcultura reconhecidamente sectários e caluniadores, não demos muito crédito a eles, mesmo porque nos parecia absurdo que uma ativista feminista fosse uma fascista.
Recentemente, com o mesmo estardalhaço de costume, noticiou-se a criação do Femen Brazil (isso mesmo, com “z”), tendo como principal dirigente essa mesma Sara Winter. Desde então, ela tem concedido entrevistas a programas de TV como Marília Gabriela e Superpop – esse último conhecido por seus quadros extremamente sexistas.
Sara Winter também tem sido presença frequente em portais de notícias da velha mídia conservadora na internet e foi uma entrevista que concedeu a um desses portais, no caso o G1 das organizações Globo, onde afirmava manter contato com grupos antifascistas dentro das subculturas punk e skinhead, que fez com que nosso coletivo passasse a prestar mais atenção no Femen Brazil e em sua líder. Dias depois, através de um de seus perfis no Fachobook, Sara fez contato conosco, informando ser a representante do movimento Femen no Brasil e que gostaria de apoio, caso possível, para que participássemos e divulgássemos o protesto de 15 de agosto em frente ao consulado russo em São Paulo, em apoio às feministas do Pussy Riot.
Logo após esse contato, lemos na internet a notícia sobre uma mulher que protestou seminua “contra a pirataria” em uma livraria de São Paulo/SP, tendo o apoio de uma integrante do Femen Brazil. Essa ação fez com que começássemos a ter dúvidas sobre a clareza ideológica do grupo, e pensamos em pedir um esclarecimento a respeito, via Fachobook, a Sara Winter, mas antes mesmo que isso pudesse ocorrer, outras incoerências, bem mais graves, começaram a surgir…
Uma rápida pesquisa no gúgou nos leva à biografia de uma certa Sarah Winter, uma notória nazista inglesa morta em 1944. Seria uma coincidência o fato de Sara Fernanda Giromini (o nome “real” da “líder” do Femen Brazil) ter decidido se apresentar como Sara Winter? Através de umx amigx chegamos ao blogue pessoal de Sara, onde a mesma afirma pertencer à “direita nacionalista”… logo, a coincidência de nomes não parece ser tão “coincidência” assim. Ainda nesse mesmo blogue, lemos com surpresa uma postagem sobre a Marcha das Vadias (chamada por ela de “Marcha das Vagabundas”) datada de 04 de junho do ano passado, onde podemos ler pérolas como essa:
“A grande verdade é que tudo isso se trata de “ipobe”. Algumas meninas se sentiram ofendidas em Toronto e criaram essa porcaria, outras mulheres envolta do mundo que quiseram chamar a atenção de uma maneira promíscua, ou que simplesmente queriam se divertir, adoraram copiar, e como no  Brasil agora a moda é marcha polêmica, todo mundo adorou.”
A líder do Femen Brazil mantém, ainda, pelo menos dois perfis pessoais no fachobook, nos quais afirma ser admiradora do fascista-mor Plínio Salgado, além de contar com inúmeros ganguistas fascistas – carecas, principalmente – em suas listas de contatos. A lista de indícios de que Sara Winter não tem nada de feminista, sendo antes disso uma filofascista em busca de notoriedade, é bastante extensa para ser descrita em detalhes aqui, mas não podemos deixar de citar a cruz de ferro, condecoração alemã bastante popular entre neonazis de todos os cantos, que a nova star da mídia burguesa leva tatuada sobre o coração.
Diante das declarações de Sara Winter de que está estabelecendo contato com skinheads e punx antifascistas, queremos esclarecer que a RASH-SP não mantém nenhuma relação nem apoia as ações desta que se intitula “a representante do movimento Femen no Brasil” e nem do Femen Brazil, se este oficialmente existir. Sua confusão ideológica e sua vinculação com grupos de ódio vão contra toda a história da luta feminista e libertária, contra a luta feminista organizada, que combate diariamente o machismo que mata centenas de mulheres anualmente aqui no Brasil e que é, acima de tudo, antifascista.
Reafirmamos nossa solidariedade aos grupos e indivíduos feministas da cidade e do mundo, e, apesar das tentativas de infiltração de pessoas oportunistas e mal intencionadxs, a luta segue. Coincidentemente, grupos punx – estxs, sim, feministas e antifascistas – estavam organizando um ato contra a prisão das Pussy Riots para esta mesma quarta-feira, 15 de agosto, quando todxs fomos atropeladxs pela polêmica envolvendo a convocação da manifestação por Sara Winter e a revelação de suas conexões com gangues fascistas. A RASH-SP apoiaria incondicionalmente essa manifestação organizada por nossxs companheirxs punx, assim como apoiará a Marcha contra a Mídia Machista do próximo dia 25, que consideramos um tema bastante pertinente. A mídia burguesa estará sempre promovendo gente como Sara Winter ou o boy nazi Davi Vega, grandes aliadxs do poder na tarefa de desinformar a população em relação a temas como feminismo e o movimento skinhead.
16/08/2012 Em tempo: na noite de ontem Sara Winter publicou uma declaração no mural do Femen Brazil no fachobook, afirmando, entre outras coisas, que sua relação com os White Power ocorreu quando tinha entre 15 e 17 anos e se deu apenas via internet, que já não é mais fã de Plínio Salgado (“esqueceu-se” de apagar os vestígios de seu passado facho na rede, afirma… parece ter também se “esquecido” de mudar o pseudônimo…) e que não tem uma posição política definida e talvez nem seja necessário ter uma. Não temos como saber se ela realmente abandonou suas convicções nazis ou não, isso só o tempo irá dizer, mas, de qualquer forma, é gravíssimo que alguém que seja porta-voz e “vitrine” de um movimento com a visibilidade que tem o Femen venha a público afirmar que “não tem posição política”, demonstrando uma completa ignorância até mesmo do que é o feminismo. Nas subculturas de rua já nos acostumamos a ver gente envolvida com o ganguismo nazifascista afirmar-se “apolítica”, o que já é praticamente praxe entre os pilantras. De qualquer forma, mantemos nossa posição a respeito de Sara Winter e do Femen Brazil.




[1] Muitas informações históricas deste artigo tem como fonte o livro de Como escreveu W. Will van der, no artigo The Transition of German Culture to National Socialism Source: The Body and the Body Politics as Symptom and Metaphor in the Transition of German Culture to National Socialism (TAYLOR & WILL: 1990, p. 18)
[2] Agradeço em especial meu marido, o artista plástico Marcelo Higa pelos comentários a respeito da estética nazista.