sábado, 21 de novembro de 2009

A INVENÇÃO DA “CIBERCULTURA”




INTRODUÇÃO
Com o advento das denominadas “novas tecnologias”, em especial o desenvolvimento da internet, surgiram novas e interessantes discussões nas Ciências Sociais. Para a Antropologia, essa renovação exigiu refletir a respeito de temas caros à disciplina, como o papel do trabalho de campo, a escrita etnográfica e a relação com os informantes. Em meus textos anteriores (DIAS, 2005, 2007 e 2008), refleti a respeito dessas questões, e no presente artigo pretendo pensar, primeiramente, como a denominada WEB 2.0, com suas novas implicações para a sociabilidade e a comunicação, oferecem à discussão antropológica temas interessantes para sua interlocução. Para tanto, abordarei os ambientes da WEB demarcados pela folksonomia[1]. Na segunda parte do texto a discussão a respeito da WEB 2.0 dialogará com aspectos políticos da mesma, em especial ao discurso, muito freqüente, a respeito de como WEB 2.0 estaria se reinventando, a partir dessas novas transformações. Neste discurso a “nova fase” da Internet é, repetidamente, definida como “democrática”. E ainda, como espaço do “novo mundo”, de “nativos digitais”. A presente proposta apresenta uma contribuição à discussão da investigação antropológica na Internet, centrada na discussão nesta “definitiva democratização da rede”, presente na grande maioria dos discursos acerca da WEB, partindo de uma leitura de Foucault e Arendt, Esta servirá, ainda, para pensar a dialética entre o indivíduo e o mundo social, e sua análise pode contribuir para pensar a relação entre invenção e convenção, inovação e controle, significado e contexto de identidades online.
Palavras chaves: cibercultura, etnografia no virtual, teoria antropológica

A INVENÇÃO DA CIBERCULTURA
Com o advento das novas tecnologias, em especial o desenvolvimento da internet, surgiram novas e interessantes discussões nas Ciências Sociais. Para a Antropologia, essa renovação exigiu refletir a respeito de temas caros à disciplina, como o papel do trabalho de campo, a escrita etnográfica e a relação com os informantes. Novas pesquisas apontaram as potencialidades e limites do trabalho de campo no virtual, se debateu a respeito da escrita etnográfica on-line[2] e se apresentaram questionamentos importantes a respeito das peculiaridades dos “informantes internautas”. A discussão acerca deste temas, acredito, trouxe importantes reflexões para a teoria antropológica[3], mas a pouca abordagem dada à idéia de “cibercultura”, e a precária problematização deste termo começaram a me incomodar. Deste incômodo nasce o presente ensaio.
Virginia R. Domingues escreveu, em Invoking Culture: The Messy Side of Cultural Politics, que a apreensão do real sentido da palavra cultura, quando “invocada para descrever, analisar, discutir, justificar e teorizar”, surge da compreensão daquilo “que está sendo cumprido socialmente, politicamente, discursivamente” (1992, p. 21). Com a ascensão das novas tecnologias, em especial, das novas formas de sociabilidade e comunicação mediadas por computador, convencionou-se no inscrever do termo “cibercultura”, a descrição de um universo simbólico que equipam pessoas, discursos e práticas. A idéia de “cibercultura” descreve um “novo tempo” e segundo o discurso de muitos autores “um novo mundo”. Nesta descrição de “cibercultura” impõem-se a necessidade de “estar conectado”. Não possuir um e-mail, um twitter ou um blog tornou-se quase um oitavo pecado capital. Na agenda social dos ditos “modernos” a conectividade cumpre um papel de destaque: políticos, pensadores, artistas, celebridades de quinze minutos ou de anos, todos eles disputam espaço na rede.
O termo “Cibercultura” é, ainda, utilizado para diferenciar representações e reivindicações das produções humanas no denominado “ciberespaço”. A experiência humana, circunscrita socialmente na Internet, é que molda o que se convencionou chamar de “cibercultura”, e da mesma forma que o termo “cultura“, nos parece que tem servido de garantia de legitimidade para reivindicação de uma diferença, imbuindo indivíduos, idéias e valores, num ambiente de identidade (SAPIR, 1924, p.421). A identidade virtual é transformada pelo discurso do meio digital numa necessidade de primeira grandeza.
No termo “cibercultura”, se objetivou uma experiência, uma essencialização e uma invenção. O termo “cibercultura” se torna um modo de objetivação, quando se utiliza do mesmo para descrever as práticas e os discursos, esses mesmos entendidos como práticas, que compõem a produção humana hipermediada: descrevem-se blogs, softwares, linguagens de programação, webzines, entre outros números elementos como constituintes de uma produção cyber cultural. Quando Christine Hine (2005) localiza a bidimensionalidade da Internet como artefato cultural e produtora de cultura. É nesta segunda dimensão que podemos observar a dita “a cibercultura” e tudo que a ela se refere como agenda, quer social, cultural ou simbólica.
Em segundo lugar, é uma objetivação da experiência, porque inscreve no modo predominante de comunicação do ocidente, hipermediado, regras, valores e representações desenvolvidos a partir das novas tecnologias. Os internautas querem navegando entre portais e sites, quer participando de redes sociais, fóruns, ou MUD[4]s, quer produzindo blogs, microblogs, ou descrições a respeito de si em perfis eletrônicos, são expostos a estas regras, valores e representações, na medida em que estabelecem contato com outros internautas, percebem sentidos atribuídos socialmente a determinadas praticas on-line, são afetados pelo universo simbólico elaborado nessas práticas.
Em terceiro lugar, a idéia de “cibercultura” traz em si uma essencialização, demarcando um discurso a respeito do contemporâneo, dando a entender uma única possibilidade de expressá-lo. Resulta de uma escolha que visa à persuasão: Ela é uma importante peça de convicção que emoldura diversos símbolos do tempo presente. Relacionar-se ou não com os diversos artefatos da “cibercultura” é condição para denunciar-se como atualizado ou não atualizado, respectivamente. A palavra “cibercultura” é enunciadora de uma imagem que denuncia uma cristalização do modo de comunicação por ela significada, de uma maneira fixa, pronta, que serve, inclusive, como mediação para pensar a relação do ser humano contemporâneo e a realidade social. Como essencialização, a idéia de “cibercultura” designa uma representação coletiva, subtendendo, pois, atitudes e comportamentos, fundamentando sentidos, aproximando-se da idéia de “discurso social[5]” (ANGENOT, 1984). A essencialização supracitada é descritiva, mas também prescritiva, posto que é relativa a uma norma social e orientada para uma ação. Nesta palavra, imagina-se um universo simbólico de produção e reprodução instantâneo, obrigatoriamente telemático, e constituído por práticas e discursos cibernéticos.
Finalmente, “cibercultura” é uma invenção, uma convenção, um elemento diferenciado que permite carregar uma ilusão necessária, demarcando um tempo, posterior ao advento da internet, e um espaço: o hipermediado. Quando se fala em “cibercultura”, se descreve, na verdade, uma forma especifica de se vivenciar o mundo, no qual o humano opera convenções e invenções.
É do experienciar do mundo que surge a invenção do mesmo, segundo Roy Wagner (1981). A invenção da “cibercultura” também denuncia uma tendência para também fazer valer opiniões, como apontou o autor (1981, p. 12), e neste clichê, permeado por interesses de corporações, práticas inconscientes e forças ideológicas, a “cibercultura” deve ser problematizada como uma espécie de ilusão, não somente para os antropólogos que pretendam construir etnografias on-line, mas para nós que desejamos uma antropologia reflexiva.
É importante salientar que toda discussão a respeito do conceito de cultura, alvo de estremados debates na história da disciplina, foram importantíssimos para pensar a presente reflexão. Escreveu Leslie A. White que homem e cultura seriam “inseparáveis” (1975, p. 23). A apropriação do conceito de cibercultura, sem a devida reflexão, equivaleria a afirmar que o homem contemporâneo e a “cibercultura” são inseparáveis, o que é discutível, não apenas pelo gigantesco número dos ainda excluídos digitalmente, mas principalmente, pelo número relativamente pequeno dos que de fato produzem conteúdo em ambiente hipermediado, de modo a influenciar o todo social. É interessante pensar que a idéia de “cibercultura” revela traços dos aspectos mais subjetivos do nosso tempo, e que expõem diversas relações e atividades que caracterizam o comportamento dos indivíduos do mundo contemporâneo. Nela se inserem uma modalidade simbólica adequada à ação humana e é preciso problematizar como esse elemento é incorporado pela teoria antropológica e pelas praticas etnográficas que o considerem, para evitar a naturalização do temo e seus significados.
Ao optar por estudar o fenômeno humano, a antropologia decidiu pela tentativa de aprender, ao mesmo tempo sua singularidade e diversidade. E se, ao nos debruçarmos sobre esse fenômeno, nos perguntarmos “como os homens pensam”, isto nos desafiará a compreendermos que as questões postas pela dita “cibercultura” exige que nós entendamos que estudar a “cibercultura” é inventá-la, (WAGNER, p. 14), pois para torná-la visível e posteriormente crível, a construímos como uma entidade distinta, que emoldura o fenômeno humano de nosso tempo e seu modo particular de ação. Parafraseando Roy Wagner, ao inventarmos a “cibercultura”, inventamos a cultura hipermediada contemporânea e reinventamos a própria noção de cultura (WAGNER, P.15).
Quando comecei a realizar trabalho de campo em ambiente hipermediado[6], apesar de todas as etnografias a respeito do tema que eu lera até então, minhas próprias sensações de solidão e desamparo em relação ao objeto, fizeram me questionar o que a própria internet desafia a etnografia em aspectos como temporalidade, espaço, autoridade etnográfica, entre outros. Angustiava-me a eterna discussão acerca da banalidade da etnografia no virtual, que exigia de todos os pesquisadores sobre o tema páginas e páginas de justificativas[7]...
Observava meus “informantes” na rede, perguntando-me se seria possível que partindo de uma abstração, como “cibercultura”, eu poderia dar conta de um fenômeno tão diverso e multifacetado como o que eu encontrei. É obvio que não pude. “A idéia de “cibercultura” pretende descrever um artefato capaz de produzir cultura” (HINE, 2005), mas o que seria um artefato capaz de produzir cultura, se a cultura é uma invenção? Seria a “cibercultura” uma invenção em forma de artefato, capaz de produzir invenções?
Na palavra “cibercultura”, existe como afirmou Wagner (1981, p. 32) uma projeção de um bem publico proposital, externamente criado, cujo denominador comum, dos atos incidentes por ele produzidos, se expressa de forma a explicar a existência fenomenal das formas sociais hipermediada. No trabalho de campo em ambiente hipermediado a experiência etnográfica pode nos seduzir a considerar termos como ciberespaço, links, comentários, comunidades, redes sociais, entre diversas outras, como categorias nativas, ou como categorias naturais[8]. É preciso fugir da discrepância dessa atitude que circunscreveria na ordem do Ser o predicado da “cibercultura”. Não são categorias naturais, pois foram produzidas por transformações técnicas e tecnologias específicas. Não são simplesmente categorias nativas, visto que a etnografia digital partilha desses elementos. É preciso recusar, portanto, esse conteúdo cristalizado, para que, de fato, a disciplina antropológica possa se enriquecer com essas questões. É preciso diferenciar os atos e os eventos que observamos em ambiente hipermediado, sem combiná-los em contextos, para operacionalizar reconhecimentos nem sempre nítidos, para legitimar nossos dados e conclusões.
Numa recente palestra, o presidente da Microsoft no Brasil, Michel Levy citou uma frase muito repetida nos mais diversos meios de comunicação. Ainda que seja quase impossível precisar, sem dúvida, a autoria da mesma, o enunciado focaliza de maneira significativa determinadas distinções e categorias a que estamos expostos. Levy afirmou que: “nós somos migrantes analógicos num mundo digital. Os nativos digitais lidam com este novo mundo de forma distinta de nós.” Nesta frase, alguns elementos constituintes da idéia de “cibercultura” revelam suas implicações: “migrantes analógicos”, “nativos digitais”, “novo mundo”. Os nascidos antes do advento da WEB, os “analógicos” experienciam este “novo mundo” juntamente com seus nativos, os “digitais”. Nesta experiência, inventam e reinventam a “cibercultura”. Numa outra entrevista Michel Levy fala da importância da “cultura” Microsoft no desenvolvimento do blog da empresa. As diversas “culturas”, das empresas, de seus gestores, dos pensadores a respeito da rede vão compondo o mosaico “cibercultural”, suas demandas, seu universo simbólico. Um excelente exemplo do modo como esta reinvenção do mundo se vale da “cibercultura” para validar imaginários é a discussão acerca da WEB 2.0 e sua “gigantesca democratização”. Discutiremos isto a seguir.

VISÃO DO PARAÍSO: O “NOVO MUNDO”, A “DEMOCRATIZAÇÃO” E A QUESTÃO DAS IDENTIDADES NA NOVA WEB
Desde março de 1989, quando Tim Bernes-Lee estabeleceu a primeira especificação da World-Wide-Web (a rede de alcance mundial, conhecida pela abreviatura WWW), a partir do protocolo HTTP e da linguagem HTML, novas linguagens de programação e de script permitiram modificações significativas no uso da rede pelos internautas. Neste modelo de WEB primervo, que se convencionou denominar de WEB 0.0, findo, segundo a maioria dos autores, em dezembro de 1995, com o uso de Javascripit, pelo navegador Netscape, a grande maioria dos usuários se comunicava na rede por meio de correio eletrônico ou em chats. Alguns usuários avançados se valiam dos canais de IRC[9], e eram capazes de construir paginas pessoais em portais como Geocities.
Em 1996, surge a denominada WEB 1.0, quando a maioria dos bancos e as grandes cadeias de comercio impulsionaram o desenvolvimento da rede. Empresas do mundo inteiro passam a apresentar sites institucionais, surgem novas formas de produzir conteúdo, como o software flash, o Google é lançado, surge a primeira versão do RSS. Surgem os primeiros, fóruns, inúmeras listas de discussão, os programas de educação crescem na rede, o comercio eletrônico se intensifica. Os links se intensificam, e o número de páginas avança rapidamente. Todos esses fatores desenvolvem em torno da internet a denominada “bolha” econômica. Empregos voltados para o setor oferecem salários muito maiores que os análogos em outros tipos de empreendimento, até que no inicio do Sec. XXI, com o estouro da bolha, os aspectos comerciais da WEB revelam seu desgaste.
Em 2001, a Wikipédia entra no ar, demarcando um novo rumo na Internet: a produção de conteúdo. Surgem, nos anos seguintes, os serviços de WEB blogs, o Orkut, o Facebook (e dezenas de outras redes sociais hypermediadas), o Flickr, o Google Maps, o Del.icio.us, o Youtube, o Yahoo Maps e as novas aplicações integravam plataformas, linguagens, e padrões de programação diversos. Nascia o termo “mashup”, que caracteriza os sites ou aplicações combinando conteúdos de varias fontes, numa experiência integrada e com grande potencial de interatividade. Delineava-se a denominada WEB 2.0.
Ainda que esse termo, WEB 2.0[10], cunhado por O’Relly em 2004[11], tenha encontrado oposição de muitos pensadores das novas tecnologias, o termo ganhou força e referência. Ainda que não se possam destacar precisamente as fronteiras da WEB 2.0, esta tem sido popularizada pelos trabalhos de O’Relly como um elemento de “repercussão social importante”, pois, defendeu ele, “nessa nova geração de serviços on-line, se potencializariam “os processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produção e circulação de informação e por fim da produção social de conhecimento hipermediada”. O imaginário a respeito dos novos potenciais da rede era desenhado. Neste imaginário, construía-se a defesa de que era implícita a associação entre o novo modelo da Internet, e a democracia, ou melhor, o aperfeiçoamento da democracia.
Para os que sugerem esta articulação, as novas plataformas, por seus recursos on-line, aperfeiçoaram a “usabilidade”, desenvolvendo o que o autor denominaria “arquitetura de participação”. A maior participação de todos, na produção de conteúdo, permitiria o tão declamado ambiente “democrático”. Como exemplos desta nova utilização, se podem enumerar os blogs, com seus sistemas de comentário, os fotoblogs, as wikienciclopédias, wikidicionários e os sites de jornalismo participativo. Esta nova tendência, que repensa a interatividade é discutida como “a definitiva democratização da rede”, na franca maioria dos sites, vídeos e fóruns a respeito do tema.
A progressão exponencial dos participantes destas novas funcionalidades permite uma inédita publicação e circulação de informações. Estas informações, nas mais variadas versões dos conteúdos da WEB 2.0, oferecem aos usuários uma maneira específica de vincular palavras chaves às suas publicações, comentários e postagens de modo a categorizá-las, classificá-las e facilitar o acesso das mesmas por outros usuários. Este processo de rotulação (ou tagging[12] como também é conhecida) recebeu o nome de folksonomia, exatamente por permitir uma distribuição classificada do conteúdo disponível na WEB facilitando sua utilização e rápida reprodução. As mais diversas “tags” servem, tanto para facilitar o registro quanto para recuperá-lo, permitindo precisão e multiplicando seus usos (MATHES, 2004, p.7) [13]. Por exemplo, um mesmo conteúdo pode ser registrado com dezenas de “tags” diferentes e, posteriormente, se torna possível recuperar dezenas de conteúdos diferentes a partir de uma mesma “tag”. As “tags”, que geram, por programação, links entre textos e conteúdos, são rizomas, e, como tais, se multiplicam aos milhões. Como escreveram Deleuze e Guattari, “cadeias semióticas de toda natureza são aí conectadas” (1980, p. 15), e, desta forma, conduzem a multiplicidade.
O tema da “ação e a comunicação coletiva”, central nas discussões acerca da WEB 2.0, em especial no que se refere à nova forma de produção coletiva de conteúdo. Neste imaginário de democracia a WEB 2.0, no entanto, não prevê qualquer potencialidade séria para interferir nesse statu quo. Ainda que se concorde com a direção apontada por José Eisenberg e Marco Cepik (2002), que lêem na Internet a possibilidade de uma participação significativa de instituições políticas semiperiféricas, que, ainda que timidamente possam desenvolver uma luta contra déficits sociais e culturais, e que se defenda, ao lado destes autores, o direito ao acesso à Internet como configuração de cidadania, e reconhecendo, por outro lado, que o quadro de exclusão digital atual serve como uma expressiva barreira desta democratização é preciso pensar como esta relação entre produção de conteúdo e democracia na Internet revela aspectos outros das nossas concepções acerca da política. Basta um grande número de participantes para promover a democratização, efetivamente? Como se configura o espaço público da rede? No que a WEB 2.0 espelha esta relação entre este, que podemos nomear de “imaginário democrático” e a vida política contemporânea?
Uma análise desta esfera “democrática” da Internet exigiria um contínuo problematizar dos aspectos essenciais da vida política contemporânea. Uma vida política na qual se inscreve a ação e a comunicação coletiva, como a que se demarca na Internet remete diretamente à noção de esfera pública, conceito essencial na obra de Hannah Arendt. Para Arendt a concepção de esfera pública abriga a necessidade de partilha entre todos. Seria preciso “ser visto e ouvido por outros é importante pelo fato de que todos vêem e ouvem de ângulos diferentes. É este o significado da vida pública... (ARENDT, 1981)”
Se é inegável, por um lado, o poder das novas tecnologias na produção de discursos políticos (basta rever a eleição do presidente estadunidense Barack Obama, e o papel essencial que a Internet desempenhou neste processo, ou o papel do Twitter na divulgação acerca das fraudes nas recentes eleições iranianas), também é inegável que a Internet e a enorme exclusão social que a envolve oligarquizaram a participação digital. A Internet não é democrática, em primeiro lugar, por conta da enorme exclusão digital. Como equacionar uma “esfera pública” na WEB sem a inclusão digital, sem que todos façam parte do processo? E é preciso lembrar que nem mesmo a nada simples “inclusão digital” resolva esta questão: todos produzirão conteúdo? O campo determinará a força dos agentes que deterão esta possibilidade, criando novas formas de distinção social? O quanto esta distinção gera na WEB 2.0, ou participa da geração das comunidades e das redes sociais? O que cria laços entre os internautas na WEB 2.0?
Em A Condição Humana, Arendt se preocupa com os mecanismos que geram vínculos para ações coletivas: "o que mantém unidas as pessoas depois que passa o momento fugaz da ação (aquilo que hoje chamamos de 'organização') e o que elas, por sua vez, mantêm vivo ao permanecerem unidas é o poder" (ARENDT 1981: 213). A filósofa intercomunica duas dimensões do poder nesta concepção: por um lado “há uma ação coletiva que funda o grupo”, o que designa, necessariamente, um vínculo entre o momento e a "esfera pública". A outra dimensão está na capacidade do poder em legitimar esta “ação inicial”, “fugaz”, num vínculo. Nessa tessitura o poder é fruto da ação coletiva do grupo que o sustenta.
Pensando na WEB 2.0, esta concepção faz pensar as redes sociais, os blogs, as comunidades folksonômicas, os conteúdos produzidos pelas diversas plataformas wikis: depois que se organizam a participação fugaz dos internautas vai sendo substituída pela necessidade de “se manter vivo o espírito”, do espaço em questão. Há todo um discurso acerca da importância do que se está produzindo socialmente, coletivamente, e este, dentro desta concepção de Arendt, é um discurso de poder. Mas, o que gera os laços na WEB, de que espécie de poder estamos falando, e como ele se processa na rede?
Para auxiliar a compreensão de como a dinâmica do poder se expressa na WEB 2.0 tomemos a Aula Inaugural de Michel Foucault, denominada A Ordem do Discurso. Pensar a ação coletiva e pública à luz de Foucault é primeiramente, dar conta de que a produção de discursos está imprescindivelmente sujeita a regras, seleções, organizações e redistribuições. Na Wikipédia, por exemplo, há administradores e internautas que garantem que os princípios que determinam as regras da comunidade sejam cumpridos, reafirmados e comunicados. Um deles, o de imparcialidade, sempre causa alguma polêmica nas temáticas políticas. Não se está aqui julgando se estas regras devam ou não existir, mas que apontam para um controle discursivo da rede citada. O mesmo acontece nas comunidades do Orkut, nas quais se pode ler no perfil, geralmente, as regras da comunidade. As pessoas discutem estas regras, em geral no momento da formação da comunidade, e elas passam a ter sentido, na medida em que são descritas simbolicamente como “regras que permitem o bom funcionamento” da mesma.
Ainda segundo a abordagem foucaultiana, os discursos estabelecem determinadas ações para controle e delimitação de sua especificidade: há a interdição, há a separação, há a vontade de verdade. É prática comum na WEB 2.0, em especial nas redes sociais, as comunidades determinarem: o que não pode ser falado, o que não pode ser abordado num fórum. Em determinada circunstância, há pessoas que, se falarem algo que seria proibido aos demais não sofrem qualquer repúdio ou reprimenda, ou seja, a interdição da fala varia de acordo com o poder social dos agentes, o que denota os aspectos interditórios específicos das novas formas comunicativas que estamos discutindo.
É possível, ainda, observar os participantes expulsos e as regras que determinaram esta condição: há os que são considerados “problemas na comunidade”, há os preferidos, há os que sequer podem entrar: são os aspectos de separação, discutidos por Foucault.
Em terceiro lugar, a vontade de saber. Nas comunidades a separação entre o verdadeiro e o falso não é nem arbitrário, nem modificável, nem institucional, nem violento, funcionando, na verdade, como um sistema de exclusão (sistema histórico, institucionalmente constrangedor), que determina o que é verdade em cada comunidade. Se você não concorda, se retire, é o que pregam os “donos” ou “moderadores” das comunidades. Outro exemplo se dá nos blogs que aceitam “comentários”, ou seja, participação de outros internautas. Quando são “moderados”, o objetivo desta “moderação” é permitir, geralmente, que fiquem listados apenas os comentários que entram em acordo com o material produzido pelo autor do blog.
Se for verdade, como afirma Arendt, que “todas as atividades humanas são condicionadas pelo fato de que os homens vivem juntos”, é também verdade que na Internet este “juntos” pode se manifestar independente do tempo e do espaço. Há pessoas de Tóquio, de Roma e do Rio de Janeiro que lutam pelas mesmas causas, em dias distintos, nas mesmas comunidades, e estão construindo uma nova abordagem e dimensão para o zoon politikon aristotélico. Se para Aristóteles apenas “duas atividades necessárias e presentes nas comunidades humanas” (ARENDT, 1981, p. 34) poderiam ser concebidas como políticas, a saber, a ação (práxis) e o discurso (lexis), poderíamos pensar nas práticas desenvolvidas na WEB 2.0 e nos discursos nelas tecidos como profundamente políticas: nasce o zoon politikon digitalis...
A abordagem da ação e do discurso e sua relação com as esferas pública e privada em Hannah Arendt, no livro A Condição Humana, se amplia com uma crítica pontual à modernidade, em especial às distinções por elas construídas entre as esferas pública e privada. A modernidade, conforme advoga Arendt, destruiu e deformou, de forma significativa, a competência humana de desempenhar a atividade política. Exilada da possibilidade de ser abordada como uma atividade humana por excelência; que poderia ser, de fato, exclusivamente exercida no plano da esfera pública (porque apenas este permitiria uma pluralidade de diálogos entre iguais), o desempenho da atividade política se esfacelou. Esta descaracterização da ação política como atividade genuinamente humana, na modernidade deu lugar a uma ascensão do labor: objetivando a hegemonia e o poder de reger toda a existência humana em sua totalidade, na hierarquia moderna, o trabalho passou a ocupar uma importância até então desconhecida: a esfera privada e sua lógica produtiva embolsar a dimensão pública. Ao mesmo tempo, toda ação política passa é restrita como uma mera esfera administrativa, detida pelo Estado (ARENDT, 1981, ARENDT, 2002).
Absolutamente era o estado original da dimensão política na polis grega, como se pode observar nas afirmações de Arendt:
“O ser político, o viver numa ‘polis’, significava que tudo era decidido mediante palavras e persuasão, e não através de força ou violência”.
“A ‘polis’ diferenciava-se da família pelo fato de somente conhecer ‘iguais’, ao passo que a família era o centro da mais severa desigualdade. Ser livre significava ao mesmo tempo não estar sujeito às necessidades da vida nem ao comando de outro ‘e’ também não comandar. Não significava domínio, como também não significava comandar”. (ARENDT, 1981).

A idéia de Arendt é que a transferência da totalidade das atividades humanas para a esfera privada e a adequação imposta, de todas as relações conforma a moldura da instituição familiar, repercutiu esfera política. A politéia grega é o grande paradigma arenditiano, para pensar esta transição. Aplicado a WEB 2.0, podemos pensar como é visto a própria “produção” do conteúdo da mesma, pelos internautas, como “trabalho”, “ação social”, “labor”, basta dizer que “uma produção de artigo por dia” é o lema de vários Wikipedistas. Nas comunidades das redes sociais, os “donos” e “moderadores” falam de quanto trabalho dá moderar seus espaços de discussão, e quanto mais trabalhos desenvolvem mais são vistos como “excelentes moderadores”. Nesta função social, o trabalho de produzir, regular e disponibilizar ações e discursos quase nunca é visto como ação política: a não ser que o tema seja a própria “política”, ou seja, partidos, eleições, e personalidades políticas, “a política” é, geralmente um tema que não costuma ser discutido, e muitas vezes, é interditado.
Para Arendt a ação política se determina na interação pública, humana, por meio da ação e da palavra. É interessante notar que esta ação de se negar a ação política, é no limite, ação política também. Abordar a WEB 2.0 e discutir esta participação pública talvez seja um caminho de retorno à ágora. É pensar que nela, como na polis, há, necessariamente, o encontro do multitudinário. Se numa Internet oligárquica, os “melhores”, ou os “inclusos digitalmente”, ou “os produtores de conteúdo” se formatam como poucos, numa Internet verdadeiramente democrática, todos terão acesso e controle. Criticar a idéia de Internet democrática, não é, portanto, desconsiderar o potencial democrático da mesma. É apontar, evidentemente, o que falta para pensar esta esfera pública, para democratizá-la, continuadamente.
Democracia é um construto. Portanto para pensar na WEB 2.0 como uma cyberedição do ágora grego, como um espaço que (re)traduza os ideais de discussão, deliberação e tomar decisões[14], é pensar uma capilarização, contínua e duradoura, da produção do conhecimento na WEB. Nesta “cyberágora”, o conteúdo não seria interditado, e o saber a respeito das ferramentas que permitem esta produção seria livre e disponível a qualquer internauta.
Por outro lado, pensar no discurso acerca deste “novo mundo”, e desse encontro entre “migrantes analógicos” e “nativos digitais” é revisitar o mistério e o ministério da alteridade: é na formação destas identidades que a rede revela seus imaginários... A possibilidade de se remeter ao livro de Sérgio Buarque de Holanda (1969), a obra-prima Visão do Paraíso: motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil é desafiadora: a “cybercolonização” dos “migrantes analógicos” também busca “novos mercados”.
A rede, “o novo mundo” foi motivo de idealizações distintas, muitos pensadores a teciam como solução para todos os problemas humanos (como Pierre Lévy, por exemplo), ou fonte destes mesmos problemas (a exemplo de Paul Virilio). É impossível não pensar como Sérgio Buarque de Holanda: idealizava-se o Novo Mundo, constrói-se para ele uma imagem distorcida, terra infernal ou paradisíaca. A força das lendas sobre riquezas e maravilhas se renova como um mote para as ciberviagens e suas novas formas de colonização: os ganhos pela rede podem ultrapassar o imaginável, divulgam os especialistas em comércio on-line[15]. Séculos nos separam da chegada dos europeus do Novo Mundo e, no entanto, "o gosto da maravilha e do mistério, quase inseparável da literatura de viagens na era dos grandes descobrimentos marítimos (HOLANDA, 1994. p. 149).” se revigora nos discursos a respeito da WEB 2.0. As terras digitais parecem nesta fase “perenemente renováveis” (HOLANDA, 1994. p. 210) e há milhares de fontes acerca desta constituição da rede como ideário[16].
Interpelar estes discursos a respeito da WEB 2.0 para a disciplina antropológica é um desafio também pelo quadro de identidades fixado: migrantes analógicos, nativos digitais... Na medida em que o discurso sobre a rede desencadeia a noção de “outro”, de um nativo ou de um migrante, surge a oportunidade de pensar a própria noção de alteridade, a partir destes marcadores de diferença: no lugar de marcas corporais, marcas cibernéticas. Como estas diferenças constituem a vida social contemporânea, no mundo "on" e "off-line"? Como estes diferenciais marcam as dinâmicas das relações sociais na Internet? É preciso recordar que este discurso descortina outro conflito, pois como salientou Gilberto Velho, “a diferença é, simultaneamente, a base da vida social e fonte permanente de tensão e conflito” (1996, p. 10).
E como se dá o conflito entre o mundo analógico (muitas vezes descrito na rede como obsoleto) e o digital? Como pensar alteridade, esta experiência (e a elaboração dessa experiência) que leva-nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos ‘evidente’, como escreveu Laplantine (2000, p. 21).
É necessário que a etnografia e a antropologia que pretenda pensar a dinâmica das relações sociais na rede, ou as dinâmicas destas mesmas relações, elas mesmas, múltiplas e rizomáticas atente para a observação pertinente de Paul Ricoeur, na obra O si-mesmo como um outro, para problematizar a questão das identidades on-line. É preciso, segundo o filósofo atentar para o fato de que a identidade emprega uma dialética do si e do diverso do si: “a ipseidade do si-mesmo implica a alteridade em um grau tão íntimo, que uma não se deixa pensar sem a outra” (1991, p. 14). Pensar e problematizar a questão da identidade online é se distanciar de uma discussão que determine um registro de “mesmidade”, pois na rede somos vários, múltiplos, e pensar em termos de unidade, semelhança, continuidade ou permanência não faz sentido. Portanto, é preciso uma busca continuada por distanciar-se do pensar em identidade idem, por uma identidade ipsem, como apontou Ricoeur. Lembro que certa feita, lendo um artigo que pretendia discutir perfis “fakes” e “reais” no Orkut, me deparei com o fato de que a autora destacava que no primeiro os dados seriam ficcionais e no outro não... Quanta ilusão! Um perfil fake, normalmente, se vale de detalhes não ficcionais, exatamente para emoldurar-se como factível, enquanto no perfil “real” é comum haver dados ficcionais ou mesmo inverídicos do representado... É a idéia de uma identidade demarcada pelo idêntico, pelo análogo, que demarcou boa parte da discussão antropológica a respeito da identidade. No entanto, essa demarcação aponta a crença numa possibilidade de existência imutável, fixada, o que pensando em termos de WEB é quase um elfo. Senão uma ondina, apenas para aproveitar-se o simbólico do navegar...
Pensar a noção de identidade, afastando-se desta existência de identidade como uma consciência fechada em si, nesta “mesmidade”, é tratar o processo de construção, reformulação e manutenção de identidades on-line como um deslocamento, como um reconhecimento contínuo dos sujeitos nas ações, não como um fato, mas como uma identidade narrativa, utilizando uma noção explorada também por Ricoeur. Nesta nova forma de pensar as identidades na rede há a possibilidade de lidar com a permanência e a mudança de forma dialética, da concordância e da discordância, de múltiplos registros de construção a partir dos diversos personagens que as identidades online significam suas intrigas e enredos particulares.

CONCLUSÃO
Na introdução de Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia, Gilles Deleuze e Felix Guatarri rememoram: “Escrevemos o Anti-Édipo a dois. Como cada um de nos era vários, já era muita gente (1980, p. 11).” No final do mesmo parágrafo, acrescenta: “Não somos mais nos mesmos. Cada um reconhecera os seus. Fomos ajudados, aspirados, multiplicados.” Nessa introdução, nomeadas por ele de Rizoma, tratam os autores desta noção, apresentando seus princípios: os dois primeiros, segundo os autores, são conexão e heterogeneidade, fundamentais para a discussão do presente artigo. “Qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado e deve sê-lo.” Desta frase, muito citada por cientistas sócias que estudam a internet e suas especificidades para o universo contemporâneo, é possível mirar uma articulação de movimentos, em especial os relativos à precipitação e ruptura. Na web, o princípio da conexão, presente no hipertexto[17], encontra no link uma rostificação, para utilizar também um termo deleuziano. Foi se valendo do link, que a rede se ampliou, rizomaticamente, ao bilhões de acessos, aos centenas de milhões de paginas, aos milhões de usuários.
Para estes usuários, a construção da WEB 2.0, tem funcionado pela conversão do internauta num agente ativo na produção de conteúdo, e esta nova forma de pensar a rede pode servir a uma problematização dos aspectos políticos que se destacam no mundo contemporâneo. A “cibercultura” não é um dado que, apenas, molda a vida das pessoas que compartilham dele (a exemplo da discussão de Roy Wagner em The Invention of Culture), mas é uma dado moldado por estes discursos diversos acerca da WEB, construído no constantemente manipular de símbolos tomados a partir de uma variedade de códigos para criar novos significados. A idéia de produção coletiva (presente nas páginas wikis, por exemplo) e a idéia de produção criativa interativa (presente nos blogs) têm se difundido, enormemente, como estratégia de marketing, numa evidente tentativa das organizações de se marcarem como “interativas”, “democráticas”, “coletivas”. No entanto faltam tanto a inclusão digital quanto a possibilidade do uso das ferramentas de produção de conteúdo por um número muito maior de pessoas. É preciso construir um espaço democrático na rede, e uma forma de abordagem antropológica que pense a identidade digital numa articulação entre os internautas e os próprios imaginários da WEB 2.0, inclusive.

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[1] Neologismo criado pelo arquiteto de informação Thomas Vander Wal a partir dos termos folk e taxonomia, referente à produção coletiva de conteúdo que demarca esta nova fase da WEB.
[2] As idéias de “etnografia virtual” (HINE, 2000, 2005, 2006), de etnografia do ciberespaço (HAKKEN, 1999, DiMaggio et al. 2001,), de etnografia por meio da Internet (BAULIEAU, 2004) e de ciber-etnografía (ESCOBAR, 1994), desejam problematizar especificidades das interações hipermediadas, o uso de ferramentas particulares para obter e sistematizar dados, as definições, imersas em alto grau de complexificação de “território virtual” e “temporalidade digital”, e, objetivando, finalmente, refletir como a experiência do investigador e a sua relação com o objeto de estudo afetam os agentes analisados.
[3] Saliento, em especial, as discussões a respeito de etnografia no virtual e o papel do trabalho de campo, a escrita etnográfica e a relação com os informantes (DIAS, 2005, 2007 e 2008).
[4] Ambientes de jogos de RPG para múltiplos usuários.
[5] “Tudo o que se diz, tudo o que se escreve em um dado estado da sociedade, tudo o que se narra e se argumenta, o narrável e argumentável em um determinado grupo social, num determinado momento histórico."
[6] A idéia de “etnografia em ambiente hiper mediado”, discutida por Bella Dicks e Bruce Mason (1998), em Hypermedia and Ethnography: Reflections on the Construction of a Research Approach, detalha a necessidade de reconhecer e representar a complexidade envolvida na pesquisa etnográfica online, e recordam que, inicialmente, esta se demarcou por uma nova atenção dada ao hipertexto e às hipermídias.
[7] Esta questão também é discutida por Joan Mayans I Planells: a denominada “trivialidade dos debates on-line”, que, segundo o autor, emprestaria aos temas certa “banalidade”. Isto se manifestava, segundo ele, na necessidade de se reafirmar a importância do virtual, em cada pesquisa, para justificar certa “irreverência e falta de seriedade”, do “objeto de estudo virtual”. Inclusive do ponto de vista dos internautas, que Planells denominou de “nuestros indígenas”, que, ainda segundo o autor “se riam de nossas técnicas”, “subvertendo a lógica, a pauta, e a estrutura do processo de investigação”.
[8] Como defende, por exemplo, Danah Boyd, filósofa da informação e que desenvolveu uma etnografia virtual dos sites do Myspace de adolescentes norte-americanos.
[9] Um protocolo da Internet que permite o "bate-papo" (Chat) on-line entre vários usuários ligados simultaneamente a um servidor.
[10] A idéia nomeava toda uma nova forma de produção, coletiva, de conteúdo na rede: referia-se ao “mundo wiki”, às aplicações baseadas em folksonomia e às redes sociais.
[11] Para uma série de conferências sobre o tema, promovida pela O'Reilly Media e pela Media Live International.
[12] Walker expôs o processo de tagging como um “feral hypertext’, a structure out of control, where the same tag is assigned to different resources with different semantic senses, and thus associates otherwise unrelated resources” (WALKER, apud MARLOW et. al, 2006 ONLINE).
[13] Segundo Mathes (2004, p. 7), “a folksonomy represents a fundamental shift in that it is derived not from professionals or content creators, but from the users of information and documents. In this way, it directly reflects their choices in diction, terminology, and precision”.
[14] Presentes na idéia ateniense de ágora no século VIII a.C, segundo VIDAL NAQUET E AUSTIN, 1986, p. 124.
[15] Cf. “E o próprio sonho de riquezas fabulosas, que no resto do hemisfério há de guiar tantas vezes os passos do conquistador europeu, é em seu caso constantemente cerceado por uma noção mais nítida, porventura, das limitações humanas e terrenas (HOLANDA, 1994. p. 149).”
[16] Em minha dissertação de Mestrado analisei algumas delas, no estudo acerca do tempo e do espaço na Internet. Cf. DIAS, Adriana M. Anacronautas do teutonismo virtual: uma etnografia do neonazismo na Internet. Campinas: UNICAMP, Dissertação de mestrado, 2007
[17] Para Lévy (1993), qualquer fenômeno que envolva significações.

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