segunda-feira, 29 de agosto de 2011


“Há um sonho pleno de horror que não deixa de me visitar (…) É um sonho dentro de um sonho. Varia nos detalhes mas não na substância. Posso estar sentado à volta de uma mesa com a minha família ou com amigos, ou no trabalho, ou num campo verde. Em suma, num ambiente pacífico e descontraído, sem qualquer tensão ou aflição aparente; e, no entanto, sinto uma profunda e subtil angústia, a sensação definitiva de uma ameaça pendente. E, de facto, à medida que o sonho continua, devagar ou brutalmente, de cada vez de uma forma diferente, tudo se desintegra à minha volta, o cenário, as paredes, as pessoas, enquanto a angústia se torna cada vez mais intensa e mais definida. Agora, tudo se transforma em caos. Estou sozinho no centro de um nada cinzento e perturbador e agora sei o que significam as coisas e também sei que sempre o soube.
Estou no Lager (termo alemão usado para falar dos campos) e nada é verdadeiro fora do Lager. Tudo o  esto era uma breve pausa, uma ilusão dos sentidos, um sonho (…) Este sonho dentro do sonho terminou e o outro sonho continua, gélido. Uma voz bem conhecida pronuncia uma única palavra, que não é imperiosa, apenas breve. É a voz de comando do amanhecer de Auschwitz, uma palavra estrangeira, temida, esperada: Wstawách! – Levanta-te.”
 Levi P (2005): Trilogia de Auchwitz. El Aleph. 2005. Barcelona, p.470


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