domingo, 9 de dezembro de 2007

O perigo da propaganda nazista na internet


Grupos que atacam negros, judeus, nordestinos e imigrantes divulgam os ideais de Adolf Hitler. Dois sites nacionais foram fechados. Material com referências Nazistas foi encontrado em Brasília, mas há grupos no Sudeste e, principalmente, no Sul

Sessenta e dois anos após a morte do maior facínora dos valores racistas no mundo, seguidores dos ideais de Adolf Hitler continuam pregando a supremacia da raça branca em sites, blogs, fóruns e comunidades. O meio mais utilizado para a prática de pedofilia, a internet, também virou espaço dos movimentos neonazistas. Um mapeamento da manifestação desses grupos identificou cerca de 13 mil páginas na rede — em língua inglesa, espanhola e portuguesa. São alimentadas por aproximadamente 40 sites principais, dos quais quatro têm origem brasileira.
Os dados fazem parte do estudo Os Anacronautas do Teutonismo Virtual: uma etnografia do neonazismo na internet. A pesquisa, de autoria da antrópologa Adriana Dias, ligada à Universidade de Campinas (Unicamp), mostra a abrangência dos grupos racistas, sua forma de expressão na rede, como arregimentam militantes e as regiões do Brasil onde a filosofia é predominante. Dos 150 mil simpatizantes do movimento neonazista no país, quase um terço — 45 mil — está em Santa Catarina.

Rio Grande do Sul e São Paulo também concentram boa parte do apoio ao movimento. “Mas há focos no Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo e, como vimos há pouco, no Distrito Federal”, observa Adriana. Ela se refere à apreensão feita há menos de 15 dias, em duas residências do DF, de material com símbolos nazistas, como bandeiras com suásticas, instrumentos de tortura e vestuário com mensagens de ódio racial. Os policiais chegaram aos objetos durante investigação de um homicídio, cujos suspeitos são militantes do grupo chamado Carecas de Brasília.

Negros, judeus, homossexuais e imigrantes, sobretudo latinos, são o alvo dos bandos neonazistas. Eles pregam a dominação do “sangue ariano”, chegando a incitar o homicídio, de forma muito natural, em casos de mistura racial. “Na paranóia coletiva deles, o casamento inter-racial e a adoção de crianças negras são verdadeiros atos de genocídio contra a raça branca”, explica Adriana. “Da mesma forma, a ascensão dos negros na TV e no esporte representa uma ameaça à chamada supremacia ariana.”

Para Lúcio Castelo Branco, professor do curso de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), com doutorado na Alemanha, os integrantes de grupos neonazistas são fruto de um “vazio coletivo”. “Não acredito que sejam loucos, mas sim pessoas superficiais, do ponto de vista do conhecimento, do estudo”, afirma o sociólogo. Ele rechaça o argumento da distinção racial. “Não existe, cientificamente, raça, já que isso pressupõe variação da freqüência de genes. É um artifício falacioso para disputar espaços, promover violência gratuita. Contribuem para isso um sistema educacional em crise e uma sociedade cada vez mais materialista.”

Recrutamento
Os sites de conteúdo neonazista utilizam armadilhas para fugir da fiscalização e, ao mesmo tempo, alcançar internautas desavisados. São páginas dentro de páginas, acessadas por meio de vários links. A isca, para atrair futuros militantes, é abordar temáticas politicamente corretas, como combate à pedofilia e ao aborto. Tais práticas, quando o usuário chega ao portal neonazista, são atribuídas a negros e judeus. “É uma coisa absurda, sem a menor lógica com a realidade, que só faz sentido dentro da lógica desses grupos, totalmente contrários à luta de 300 anos de garantia dos direitos humanos”, diz Adriana.

Literatura nazista é amplamente oferecida, nos sites, para quem ainda não tem intimidade com o tema. Há também cartazes, que podem ser baixados, com dizeres racistas. Um deles afirma, sem cerimônia, que a solução para impedir o casamento inter-racial é matar. Outros exaltam a beleza da raça branca e justificam os atos de violência como forma de garantir um bom futuro para as crianças. Há portais apenas para mulheres, que na ótica conservadora nazista devem ser dedicada apenas à família. “O homem é transformado em herói. A mulher, numa boa mãe ariana”, explica a pesquisadora.

Dificuldades jurídicas

Dos quatro sites brasileiros neonazistas, incluídos na lista dos 40 mais influentes do mundo, dois foram retirados do ar em agosto deste ano, por ação do Ministério Público Federal de São Paulo. O maior deles, o Valhalla88, chegou a ter 200 mil acessos diários. Thiago Tavares, presidente da SaferNet, uma organização não-governamental de combate aos crimes na internet, explica que o neonazismo é mais difícil de ser enfrentado que a pedofilia.

“Dentro desses grupos, há pessoas especialistas em computação. Os sites são hospedados, geralmente, em servidores estrangeiros, o que dificulta muito o combate”, afirma Tavares. Segundo ele, os ordenamentos jurídicos distintos dos países em relação ao tema atravancam ainda mais o trabalho de investigação. “Pedofilia é crime em qualquer lugar. Expressar idéias neonazistas, não. É difícil, nos EUA, por exemplo, conseguir cooperação jurídica para quebrar sigilos que identifiquem os responsáveis pelos sites”, lamenta. (RM)
02/12/07

Fonte
http://correioweb.com.br/

Correio Braziliense

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