*Por Maurício Filippon
Tenho contato com acesso a internet no Brasil desde os tempos da antiga RNP (Rede Nacional de Pesquisa), através da rede da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), quando a internet ainda não era explorada comercialmente no País – isso já faz mais de quinze anos. Com o passar do tempo, a evolução e exploração da internet foi meteórica e absolutamente inacreditável: portais de informações, chats, redes de relacionamentos, mecanismos de busca instantânea, blogs, lojas on-line, cidades virtuais e mais tudo o que a imaginação permitiu foi feito nesse ambiente. E o que explica o porquê de tantas inovações, muitas delas revolucionárias, da qual dependemos hoje em dia para termos uma vida atualizada, facilitada e produtiva – inovações que foram criadas e estão à disposição de todos que possuem uma conexão e um microcomputador ou qualquer outro dispositivo que converse com a rede mundial de computadores? Bom, eu explico o motivo:
A internet é um meio livre, no qual a liberdade pode ser exercida em toda a sua essência: qualquer pessoa, dependendo unicamente de suas capacidades, pode criar o que bem imaginar e colocar, à disposição de todos, seja um blog, seja uma ferramenta de trabalho, utilizando recursos de imagens, áudio e vídeo. Não depende de mais nada. Sua criatividade pode ser exercida e colocada à disposição de todos, como seu criador julgar melhor.
Tal liberdade deixa qualquer governo incomodado, por mais liberal que seja. Acreditam que têm o direito e o dever de controlar o meio, para impedir o mau uso dele, pregando que se trata de uma ferramenta que pode ser nociva se mal utilizada – e é dever dele, governo, regular isso. Mas não é verdade. O fato é que existe receio por parte dos governos de que tal liberdade possa causar movimentos que desagradem aos governantes, principalmente no campo das ideias. É o que acontece com o controle de navegação em países como China e Cuba, por exemplo, onde o acesso ao conteúdo é extremamente restrito e monitorado.
Realmente, o poder de uma ferramenta como a internet é incalculável, tanto para o bem como para o mal. Jamais ela será totalmente voltada para benfeitorias enquanto seus usuários fizerem mau uso dela. Contudo, limitar acessos e controlá-la, ao meu ver, fica totalmente fora de questão. Faço aqui um paralelo com a condução de um veículo: quando mal utilizado, pode causar uma tragédia, seja acidental, seja propositada. Imagine se nossos veículos tivessem trajetória e velocidades pré-estabelecidas, as quais não pudéssemos alterar; veja o quanto estaríamos limitando uma ferramenta cujo maior atrativo e potencial é que cada usuário determine o seu melhor uso, em benefício próprio – e isso implica, obviamente, na responsabilidade em mesma magnitude que a utilidade que tal meio representa.
O que precisamos, na verdade, é de cada vez mais termos bons usuários para a internet, pessoas cada vez mais educadas e instruídas, base para o desenvolvimento de qualquer povo ou nação. Pessoas que produzam, que criem, que contribuam para o aumento do conhecimento global. Conforme a visão de Hayek, o verdadeiro conhecimento está pulverizado no mundo, e esse conhecimento jamais será concentrado em poucos. A internet é um reflexo disso: milhares e milhares de computadores, ligados entre si, de forma descentralizada, formam hoje o maior poder computacional do mundo. E além disso, a internet é o meio que julgo beirar a perfeição para a conexão do conhecimento – antes muito mais fragmentado, com maior dificuldade para se ligarem as peças do quebra-cabeças do conhecimento. Portanto, a internet propicia que inovações cada vez melhores possam surgir em nossas vidas. O caminho realmente não está em controlar e tolher acessos à internet, mas sim em permitir e garantir que ela seja um ambiente completamente livre para o acesso à informação, para a produtividade e para o desenvolvimento.
*Fundador e diretor da Done TI e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)
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