sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Facebook: meta-Estado ou negócio?


Há muito exagero sobre as coisas ‘web’. Facebook diz que tem mais de 500 milhões de membros registados e um milhar de milhão de unidades de conteúdos transaccionados por dia.
Sabe-se que grandes números têm o poder de impressionar. Facebook é um dos maiores países do mundo, com regras próprias, disse Marcelo Rebelo de Sousa na TVI, repetindo um truísmo que fora dito numa conferência em Lisboa dias antes. Na minha modesta opinião, é uma observação ultrapassada. Há mais de uma década falava-se de "meta-estados" e de "ciber-cidadãos". Eram suposições que não foram validadas pelo tempo e por estudos que, por revelarem factos menos bombásticos, são ignorados.
Claro, Facebook tem regras de prestação do serviço. Os utilizadores prometem cumprir um determinado número de condições ('terms of service'). Isto não faz de Facebook um Estado ou país. Esta promessa é vigiada. Facebook tem um menos conhecido ‘hate and harassment team', uma equipa que censura diariamente milhares mensagens que violam as condições do serviço. Estas proíbem incitamento ao ódio, à perseguição, à violência ou a actos ilegais. Ou seja, Facebook conforma a utilização do serviço com as leis dos verdadeiros estados. A página utilizada por Wikileaks para organizar os ataques a PayPal e MasterCard foi retirada. Mas Facebook permite páginas de negação do Holocausto ou de ódio ao Islão. Por isso há quem exagere, como Jeffrey Rosen, professor de Direito em Georgetown citado pelo "New York Times", que Facebook tem mais poder em todo o mundo que qualquer rei ou presidente quanto a quem tem direito à livre expressão. Na realidade, trata-se do poder do conformismo com a lei e a ordem. Não há lugar a subversão. O imperativo comercial comanda.
Quando há 30 anos, na era pré-Internet, falhou o serviço videotex Viewtron, ficou a saber-se que os consumidores não querem mais informação, nem interacção com uma máquina, mas sim comunicar uns com os outros. Nos EUA, Facebook já ultrapassou Google em utilizadores. Facebook e outros negócios de comunicação em rede foram fundados no conhecimento desta necessidade social. Disponibilizam a tecnologia que permite realizar essa interacção facilmente, de modo barato e em larga escala. Depois, pensou-se que as redes sociais ‘online' ampliam o círculo de "amigos" porque as pessoas aceitam colocar na ‘web' um conjunto de informação pessoal antes mantida em pequeno círculo. Agora sabe-se que o círculo de verdadeiros "amigos" ‘online' é o mesmo que ‘offline', mas esta noção esbateu-se porque o digital encerra a possibilidade de ampliar infinitamente o círculo. Depois, descobriu-se que as pessoas gostam das redes sociais porque são o meio ideal para exibicionismo e para ver fotos de miúdas em ‘bikini'. E agora, Facebook acaba de modificar o serviço para permitir ainda maior entretenimento. Mark Zuckerberg, co-fundador e CEO, diz que o objectivo de Facebook é fazer do mundo um lugar melhor. Mas, de facto, as redes sociais não são mais que um negócio de venda de espaço publicitário num ‘medium' de entretenimento ‘online', que actua em múltiplos mercados, cujos conteúdos audiovisuais são (gratuitamente) fornecidos pelos próprios utilizadores, em círculos mais ou menos fechados, de acordo com termos de utilização que respeitam a lei e os costumes. Ponto final.
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Nuno Cintra Torres
nuno@cintra-torres.eu

Um comentário:

Anônimo disse...

Alguns ainda se encantam com a enorme vitrine que é a Web.

Pensar em cyberestados ou coisas que o valham é ignorar que antes de entrar na Rede as pessoas já pertencem a grupos, partidos, nacionalidades etc., e buscam na internet apenas facilitar o encontro com os pares (e ver fotos de "miúdas em bikinis").

As mobilizações feitas pela Web não são feitas pela Web ela própria, são feitas por pessoas que a utilizam apenas como meio/suporte à comunicação.

E o sucesso do Facebook está aí, ele facilita a comunicação das pessoas.

No fundo, somos tods apenas "conversadoiros".