sábado, 4 de abril de 2009

Livro digital é o futuro da academia (?)

Robert Darton 67 anos, Professor de História Européia na Universidade de PrincetonLivro digital é o futuro da academia - Link Estadão
Professor de história na Universidade de Princeton advoga a combinação de publicações online e em papel
Camila Viegas-Lee ESPECIAL PARA O ESTADO EM NOVA YORK
Apesar de ser historiador – e portanto o que os franceses chamam de passéiste, sempre voltado ao passado –, o professor Robert Darnton, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, explica que "de vez em quando bate o olho no retrovisor e capta relances do futuro.”
Darnton, que já presidiu a Associação Histórica Americana, é um dos maiores defensores da combinação de publicações digital e impressa. Ele está no Brasil onde participará de uma conferência organizada pelo Projeto Copesul Cultural, em Porto Alegre, no dia 27 de março.
Para o professor, as publicações eletrônicas têm vantagens evidentes como acessibilidade e facilidade de pesquisa. “O preço para desenvolver mecanismos de busca e programar links deverá cair na medida em que bibliotecas e usuários aumentarem a demanda por esses serviços”, diz. Além disso, ele explica, já existem impressoras por demanda que podem produzir livros tradicionais a partir de e-books (livros eletrônicos) e facilitar leituras prolongadas.
“Práticas como essa vão mudar a indústria editorial incluindo impressão, estoque e distribuição”, diz ele.
Darnton defende que, passadas as fases de entusiasmo utópico e desilusão das publicações eletrônicas, estamos entrando numa fase de pragmatismo. “E-books podem incrementar o livro tradicional. Nunca me ocorreu que uma nova forma de comunicação sairia da internet, mas estou feliz que ela esteja aqui.”
Darnton está escrevendo a história do comércio de livros na França durante o século XVIII. O livro deve ser publicado parte em papel pela Oxford University Press e parte na internet. “Não se trata do acúmulo de dados, como uma nota de rodapé elaborada”, diz. “Vou organizar o texto em camadas como uma pirâmide em que o cume é o livro impresso, e as camadas debaixo são monografias aprofundando temas citados no livro, dossiês em francês, transcrições interpretativas de documentos, cópias de cartas originais e assim por diante.”
Para escrever esse livro, Darnton conta que, desde 1965, leu cerca de 50 mil cartas originais de praticamente todos os tipos de pessoas envolvidas no comércio de livros na época, incluindo autores, editores, impressores, distribuidores e vendedores, arquivadas em uma pequena editora em Neuchâtel, na Suíça. O professor explica que a censura francesa no século XVIII era severa e que os livros mais ousados vinham de lugares que hoje são a Bélgica, a Holanda e a Suíça.
Darnton vai descrever como os livros entravam clandestinamente na França, a partir da viagem de cinco meses de um vendedor ambulante em 1778. O personagem é verídico e o professor encontrou as cartas que ele escreveu durante a viagem. “A maioria das cartas é de prestação de contas, mas há momentos em que ele conta que teve de vender o cavalo e que passou cinco dias viajando debaixo de chuva. Divertido.”
Por causa do formato, o leitor poderá ler o material tanto na horizontal quanto na vertical. “A beleza da nova tecnologia está aí. O leitor ganha autoridade e se torna um colaborador ativo capaz de fazer associações diferentes das minhas”, diz entusiasmado.
É impressão minha ou essa função de colaborador ativo é intrínseca ao livro? Quero dizer, nós já não fazemos associações diferentes das do autor de um livro ou texto, uma vez que somos diferentes dele, e uma vez que nosso arcabouço teórico e de valores é diferente do dele?
Contudo o entusiasmo diminui quando o professor comenta que estudantes do outro lado do mundo mandam perguntas sobre o iluminismo por e-mail. “Eles têm que estudar por conta própria. Às vezes recebo e-mails extremamente informais do tipo ‘oi Bob’. Antigamente eu respondia a todos, hoje já não dá mais tempo.”
Apesar do entusiasmo com a tecnologia e de ser autor de projetos online, o professor garante que sempre haverá espaço para o livro tradicional. “O livro tem provado ser uma ferramenta excelente e não vai desaparecer.” Para ele, o livro é fácil de manusear, resistente, confortável, bonito e permite rápido acesso à informação, sem depender de bateria ou de conexão à internet.
Concordo com o rapaz, adoro livros e jamais abriria mão de manuseá-los, sentir seu cheirinho de gráfica, o que seja (chamem de mania, chamem de esquisitice, como queiram). Mas vamos combinar que, apesar de não depender de 'bateria ou conexão à internet', aqui no Brasil ele depende de poder financeiro - o que dá no mesmo, ou pior, em questão de acesso rápido e fácil à informação
Além disso, “quando toma nota de informações contidas em livro, o pesquisador passa por um processo de interpretação, entendimento e síntese”. Darnton mesmo guarda suas anotações, centenas de cartões cuidadosamente catalogados, em cerca de 20 caixas de sapato em seu escritório em Princeton. “Quando escrevo, coloco os cartões na mesa e vou organizando as informações que me interessam.”

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