quinta-feira, 12 de julho de 2012

matéria do BRASIL ATUAL


Os neonazis atacam novamente. Em 1972.

  
Matéria publicada na revista Der Spiegel (Munich Olympics Massacre: Files Reveal Neo-Nazis Helped Palestinian Terrorists, na Spiegel International, 18/06/2012), com intensa repercussão na mídia alemã, trouxe novas revelações em torno do ataque terrorista da organização Setembro Negro contra a delegação israelense durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.
Até então se acreditava - ainda que sem provas, só com base em afirmações vagas - que organizações alemãs de esquerda, como a RAF - Rote Armee Fraktion, também conhecida como "Grupo Baader-Meinhoff" - tinham se envolvido na ajuda aos 8 terroristas palestinos que sequestraram nove atletas e treinadores da delegação israelense na Vila Olímpica em 5/6 de setembro daquele ano. Dois outros membros da delegação foram mortos no começo do assalto.
Os outros nove foram mortos, com 5 de seus sequestradores, numa desastrada operação das Forças Armadas e dos Serviços Secretos da Alemanha para resgatar os sequestrados num aeroporto militar, quando o grupo se preparava para abordar um avião que os levaria para o Oriente Médio. Os atacantes palestinos haviam exigido a libertação de 234 prisioneiros em Israel e também de membros da RAF presos na Alemanha. Esta inclusão da RAF na lista de troca foi uma das bases para se acreditar que o grupo estivera envolvido no atentado. Houve também declarações públicas de membros da RAF, ou em "off" sobre esse envolvimento, mas havia nisto apenas blefe, hoje ficoucomprovado.
Documentos hoje obtidos pela revista alemã, dos Serviços Secretos (Bundesamt für Verfassungsschutz e Bundesnachrichtendienst), em mais de 2000 páginas, mostram que já desde outubro de 1972 essas agências tinham conhecimento de que não houvera qualquer envolvimento da RAF ou de qualquer outro grupo alemão de esquerda na tragédia de 5/6 de setembro.
Na verdade, foram dois membros de uma célula neonazi, Wolfgang Abramovski e Willi Pohl, que ajudaram os palestinos, providenciando transporte (certamente) armas (talvez, mas Pohl nega) e documentos falsos (provavelmente). Willi Pohl, hoje um escritor de novelas e roteiros policiais para a TV, deu, inclusive, uma entrevista para a revista diante das evidências.
Pohl, que hoje, segundo a revista, não tem mais qualquer envolvimento com terrorismo ou neonazismo, mantinha contato estreito com Abu Daoud, o idealizador da operação em Munique. Foi ele que colocou-o em contato comAbramovski, que era conhecido falsificador profissional de documentos.
Quando a operação redundou no massacre, Pohl, que estava em Viena, fugiu para o Oriente Médio, ficando em contato com Abu Iyad, chefe do Serviço de Inteligência da OLP. Daí retornou à Alemanha, contrabandeando armas via Madri e Paris, para a execução de um plano de libertação dos três palestinos que sobreviveram ao desastre de 6 de setembro, envolvendo novos sequestros e manifestos em pelo menos tr6es cidades alemãs. Nesse momento, em outubro, ele e Abramovski foram presos pelo Serviço Sequestro alemão, de posse de considerável arsenal de armas e panfletos e pelo menos uma carta de ameaça ao juiz que estava dirigindo a investigação dos três palestinos. 
Já neste ponto um dossiê do BfV para o Bnd comentava o envovimento dos neonazis e descartava a ligação comqualquer grupo de esquerda.
O destino posterior dos personagens envolvidos nesse trágico episódio também merece centemplação. Pohl e Abramovski tiveram um tratamento surpreendentemente brando pela justiça, apesar das evidências contra eles. Foram condenados apenas a meses de detenção por "posse ilegal de armas". Pohl saiu da prisão quatro dias depois de sua condenação. Os três palestinos sobreviventes do Setembro Negro (nome dado a um massacre de palestinos em campos de concentração na Jordânia) foram libertados depois do sequestro, pela mesma organização, de um avião da Lufthansa. Entretanto dois deles, pelo menos, foram mortos mais tarde, assim como quase  todos os demais suspeitos de envolvimento no planejamento do sequestro de Munique, em operações do Serviço Secreto israelense, o Mossad. O terceiro vive até hoje na clandestinidade.
O idealizador do sequestro, Abou Daoud, morreu em 2010 de causas naturais.
O Serviço Secreto alemão sabia da ligação entre ele e Pohl. Fica a pergunta: o massacre poderia ter sido evitado?

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