Adriana Dias
Afirma a maravilhosa antropóloga Suely Kofes que “não narrar alguém ou algo é um mecanismo eficaz de instituí-los, metaforicamente, como ‘mortos’”[1]. Eu sempre amei profundamente a força das narrativas, sua força política, sua força de luta, sua força em manter viva a história da luta, as pessoas da luta, ainda que mortas na luta. Deixar de narrar um luta é deixar a luta morrer.
Durante a ditadura militar uma grande luta aconteceu neste país. Uma luta que eu não presenciei como adulta, mas que eu conheci pela narrativa de outras gerações, e uma luta que eu sempre tive o respeito de preservar. Era um tempo difícil, e lidar com o regime de exceção parecia aos que lutavam imperioso. Muitos deram sua vida pela liberdade, pela democracia. O tempo desta luta era duro, era um tempo ocre, com cheiro de granada, eu imagino, com cheiro de repressão, de imprensa censurada, de prisões a domicílio, de lares desfeitos, de pessoas desaparecidas. Um tempo de dor e de luto.
Hoje, dizem, vivemos outros tempos. Hoje, digo, vivemos outras lutas. A imprensa não é censurada, é cínica. O regime não é de exceção é de exclusão. As pessoas não são presas, são caluniadas.
A vocês que lutaram a luta do seu tempo, peço: nos ajudem com a luta do nosso: nossos direitos civis, de milhares de pessoas com deficiência, doenças raras, LGBTTs, indígenas, quilombolas, idosos, populações ribeirinhas e camponesas, entre outras dezenas de minorias, são constantemente violentados.
Esse é o nosso tempo, essa é a nossa luta.