Mas, na realidade, também a ciência é uma superestrutura, uma ideologia. É possível dizer, contudo, que no estudo das superestruturas a ciência ocupa um lugar privilegiado, pelo fato de qua a sua reação sobre a estrutura tem um carater particular, de maior extensão e continuidade de desenvolvimento, notadamente após o século XVIII, a partir de quando a ciência seja uma superestrutura, é o que é demonstrado também pelo fato de que ela tenha tido períodos inteiros de eclipse, obscurecida que foi por uma outra ideologia dominante, a religião, que afirmava ter absorvido a própria ciência; assim a ciência jamais se apresenta como nua noção objetiva; ela aparece sempre revestida por uma ideologia e, concretamente, a ciência é a união do fato objetivo com uma hipótese, ou um sistema de hipóteses, que superam o mero fato objetivo. É verdade, sem dúvida, que é relativamente fácil, neste caso distinguir a noção objetiva do sistema de hipóteses, através de um processo de abstrações que está inserido na própria metodologia científica, de maneira que é possível apropriar-se de uma recusar a outra. Esta é a razão pela qual um grupo social pode apropriar-se da ciência de um outro grupo sem aceitar a sua ideologia (a ideologia da evolução vulgar, por exemplo); pelo que não são válidas as observações de Missiroli (e de Sorel) a este respeito."
Gramsci, concepção dialética da história, cdh, 1991:71, rio, edit civilização brasileira.
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