A existência do chamado 'lado invisível da internet' foi tema de discussão em um artigo do jornalista Andy Beckett, publicado nesta quinta-feira no jornal britânico The Guardian. Ainda não completamente identificado pelos pesquisadores, este dark side da internet inclui diversas plataformas paralelas, como o Freenet - software freeware criado no final dos anos 90 e que permite aos internautas realizarem, anonimamente, diversas atividades - o que acaba dando abrigo a muitos sites de pornografia infantil, grupos terroristas e trocas de vírus e malwares.
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Definido de muitas formas metafóricas como "internet profunda", "internet negra", "internet invisível", esta "outra" internet se contrapõe à "a internet navegável", aquela que conhecemos por meio dos sites de buscas.
"Muitos usuários pensam que quando eles buscam no Google, por exemplo, estão vendo todos os sites existentes", afirma Anand Rajaraman, fundador do Kosmix, mecanismo de buscas na web. "Acredito que apenas uma pequena parte de toda a internet vem à tona com os mecanismos de busca. Não tenho certeza, para ser honesto, sobre o quão pequena é esta parte, mas posso dizer que a internet é, pelo menos, 500 vezes maior do que a web a que temos acesso", disse em declarações ao Guardian.
Michael Bergman, pesquisador americano e uma das maiores autoridades nesta "outra" internet, afirma que até hoje continua sem saber exatamente o que acontece do "outro lado". "Lembro de dizer para a minha equipe no final dos anos 90 que este lado desconhecido era provavelmente duas ou três vezes maior do que a internet regular", afirmou.
Mas, em 2001, um artigo publicado por Bergman e até hoje usado regularmente como fonte de informações, afirmava que "os mecanismos de busca na web procuram em apenas 0,03% de todos os sites existentes". Bergman escreveu, na ocasião, que a "internet profunda é a categoria de novas informações que mais cresce na internet".
Criar um mecanismo de buscas que alcance esta internet desconhecida é o objetivo de um grupo de pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos. "O problema é que não é viável, existem dados demais", explica a professora Juliana Freire, pesquisadora do projeto chamado "Deep Peep". Além da quantidade de dados, há também outros problemas. "Quando pesquisamos em alguns sites, somos bloqueados depois. É possível criar mecanismos que tornam impossível para qualquer um buscar nos seus dados", explica.
Esconder os dados na web pode ser uma estratégia comercial, mas os alvos dos pesquisadores são os criminosos que utilizam a rede. "Existe um conhecido grupo criminoso chamado Russian Business Network (RBN) e eles estão sempre rodando a internet, roubando endereços de sites que estão em desuso, enviando milhões de spams destes endereços e depois se desconectando rapidamente", explica Craig Labovitz, diretor da Arbor Networks, empresa de segurança na web.
A RBN também aluga sites temporários para outros criminosos realizarem atos como roubos de dados, pornografia infantil e distribuição de vírus de computadores. "No ano de 2000, este lado negro da internet era uma novidade. Hoje, é parte do cotidiano da rede", afirma Labovitz.
Sites de empresas extintas, erros técnicos e falhas, disputas entre servidores de internet, endereços abandonados no início da internet, entre outros, são fatores que deixam espaço para a exploração ilícita. "A internet nasceu em grande parte baseada na confiança", acredita Laibovitz.
Mas, o ideal de uma internet livre, que motivou o pesquisador irlandês Ian Clarke a criar o software Freenet no final dos anos 90, ainda tem muitos defensores, um deles, o próprio Clarke. "Pornografia infantil existe no Freenet, assim como existe em toda a internet. Poderíamos controlar esta pornografia, mas então deixaria de ser uma rede livre", afirma Clarke em declarações ao jornalista do Guardian.
O software foi lançado em 2000 e hoje possui milhões de usuários no mundo todo. Entre os sites abrigados pelo programa estão desde blogs de notícias sobre o Irã até guias sobre como explodir bombas e realizar ataques terroristas.
Diante deste mundo desconhecido, e que provavelmente "continuará a crescer por mais alguns anos", o jornalista britânico concluiu que prefere continuar "vagando pela web" por meio do Google, já que a "darknet não é um lugar para os mais sensíveis".
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