A relação do autor com o herói, tal como se inscreve em sua arquitetônica estável e em
sua dinâmica viva, deve ser compreendida tanto sob o ângulo do princípio básico a que
obedece, quanto sob o ângulo das particularidades individuais que ela reveste neste ou
naquele autor, nesta ou naquela obra. Propomo-nos, em primeiro lugar, definir esse
princípio básico, em segundo, extrair dele os processos e os tipos de individuação e, para
terminar, verificar nossas posições mediante uma análise da relação do autor com o herói
nas obras de Dostoievski, Puchkin e outros.
Já enfatizamos o bastante que todos os componentes de uma obra nos são dados através
da reação que eles suscitam no autor, a qual engloba tanto o próprio objeto quanto a reação
do herói ao objeto (uma reação a uma reação); é nesse sentido que um autor modifica todas
as particularidades de um herói, seus traços característicos, os episódios de sua vida, seus
atos, pensamentos, sentimentos, do mesmo modo que, na vida, reagimos com um juízo de
valor a todas as manifestações daqueles que nos rodeiam: na vida, todavia, nossas reações
são díspares, são reações a manifestações isoladas e não ao todo do homem, e mesmo
quando o determinamos enquanto todo, definindo-o como bom, mau, egoísta, etc.,
expressamos unicamente a posição que adotamos a respeito dele na prática cotidiana, e esse
juízo o determina menos do que traduz o que esperamos dele; ou então se tratará apenas de
uma impressão aleatória produzida por esse todo ou, enfim, de uma má generalização
empírica. Na vida, o que nos interessa não é o todo do homem, mas os atos isolados com os quais nos confrontamos e que, de uma maneira ou de outra, nos dizem respeito. Mikhail Bakhtin
segunda-feira, 27 de junho de 2011
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