domingo, 18 de novembro de 2007

Pesquisa rastreia neonazistas na internet

Publicada em 18/11/2007
Cidades Pesquisa rastreia neonazistas na internet
Mestre pela Unicamp identifica 12,6 mil sites e mostra como o movimento dissemina o ódio racial pela rede mundial

Marcelo AndriottiDA AGÊNCIA ANHANGÜERAmarcelo.andriotti@rac.com.br
Desde 2002, a pesquisadora Adriana Abreu Magalhães Dias vasculha a internet em busca de sites neonazistas. Nesse período, foram pesquisados 12,6 mil sites em português, espanhol e inglês. Na semana passada, Adriana apresentou sua dissertação de mestrado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), analisando a forma como esses grupos atuam na rede mundial de computadores e o discurso usado por eles. O trabalho de cinco anos foi aprovado no mestrado e a pesquisadora foi aceita diretamente no curso de doutorado, que começará em fevereiro e dará continuidade à pesquisa.
A partir dos dados que conseguiu, Adriana calcula que haja no Brasil 150 mil simpatizantes do neonazismo e 500 mil nos Estados Unidos. No Brasil, a maioria está concentrada na região Sul, principalmente em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
“Meu interesse começou em 2002 com uma aula sobre o revisionismo histórico, que pretende provar que o massacre contra judeus não existiu e que não houve holocausto. Achei que era um tema interessante e comecei a estudar o assunto na internet, chegando a esses grupos neonazistas, que usam esse discurso”, disse Adriana.
Para localizar esses sites, ela teve que utilizar ferramentas de pesquisa que identificam sites e blogs com muitos links externos e recursos multimídia, como vídeos, ícones, infográficos e outros recursos, comuns em sites racistas ou com conteúdo discriminatório em geral. O grande número de links externos dificulta a localização da origem do site e a identificação dos autores do conteúdo.
Adriana começou a filtrar os sites, muitos deles com conteúdos parecidos ou copiados. Primeiro chegou aos 500 mais acessados. Depois, foi analisando os conteúdos e chegou aos 40 sites que serviam de referência para os outros e provavelmente são ligados aos grupos neonazistas mais influentes.
A maioria deles está hospedada em provedores de ilhas da Polinésia, que garantem o anonimato aos criadores dos sites. Nesses provedores, também costumam se hospedar redes de pedofilia e outras atividades ilícitas. Eles ficam hospedados com cópias em diversos locais, pois quando são descobertos e retirados de algum provedor podem ser encontrados em outro.
Discurso
A pesquisadora conta que os neonazistas estão voltando seus discursos para conquistar pessoas com espírito conservador, colocando como forma de atrair o internauta temas como a defesa da família, da ordem e dos supostos direitos das pessoas da raça branca que não são respeitados. “Atualmente, eles estão deixando as ações violentas de lado e procuram atrair famílias e principalmente mulheres pela internet. Também buscam atrair estudantes, em especial universitários”, diz a pesquisadora.
Ela lembra das campanhas e de cartazes colocados em universidades criticando as cotas para negros. Temas como esse servem para atrair universitários e, a partir daí, os sites começam a tratar de temas como a de uma possível ameaça à raça branca, ao sangue ariano e ao revisionismo histórico, negando o holocausto e desqualificando o número de judeus mortos na Segunda Guerra.
O maior site neonazista brasileiro, o Valhalla88 tem sua sede em Santa Catarina e alcançou a significativa marca de 200 mil visitas diárias antes de ser retirado do ar, em agosto de 2007. Muitos desses sites foram denunciados por Adriana durante sua pesquisa, que contou com a ajuda do Ministério Público para identificá-los e tirá-los do ar. Além do Valhalla88, foram retirados o site do White Power-SP e da loja ZyklonB, uma loja virtual que vendia produtos com propaganda neonazista, como adesivos e camisetas.
Antigas e novas vítimas foram ouvidas no estudo
Além de localizar os sites neonazistas na internet e analisar o discurso desses grupos, Adriana Abreu Magalhães Dias ouviu pessoas que foram perseguidas durante a Segunda Guerra pelos nazistas e os que estão sendo perseguidos agora pelos neonazistas. Ela ouviu sobreviventes de campos de concentração e representantes de grupos de defesa de negros e homossexuais, que junto com os judeus são os mais perseguidos pelos neonazistas.
“É triste ver a dor dos sobreviventes do Holocausto agora, vendo sites e pessoas querendo dizer que todo o sofrimento que eles viveram não existiu”, diz. Ela também teve a oportunidade de ter contato com alguns desses neonazistas em grupos de discussão pela internet. Ela diz que chegou a ser violentamente atacada na rede por discordar das idéias revisionistas ou racistas.
Para Adriana, os integrantes desses grupo não conseguem enfrentar a angústia da vida moderna e acabam aderindo a um delírio coletivo, que mistura uma série de idéias confusas. O problema é que, além de colocar as outras raças que não consideram puras como inimigas, eles chegam a sugerir que o extermínio delas é uma legítima forma de defesa dos brancos.
No trabalho de doutorado que começa no ano que vem, Adriana pretende estudar quais são as melhores políticas para combater a disseminação das idéias neonazistas. “Eu acredito que o diálogo e educação são as melhores maneiras de se combater essa tendência. Ensinar nas escolas também a história dos negros, dar voz aos oprimidos são maneiras de se evitar essa violência, acredito. Mas é isso que eu vou pesquisar agora”, diz Adriana.
Ela alerta a pais de crianças e adolescentes que fiquem alertas quanto ao conteúdo dos sites que eles acessam, principalmente as comunidades no Orkut. “Esse público jovem e adolescente é um dos principais alvos desses grupos”, afirma a pesquisadora. (MA/AAN)



http://www.cpopular.com.br/mostra_noticia.asp?noticia=1546097&area=2020&authent=9BDBEDA1151672B9F9CF833734509B

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