segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Número de neonazistas violentos aumenta na Alemanha


O número de ultradireitistas dispostos à utilizar a violência aumentou na Alemanha, assim como o de neonazistas militantes de grupos radicais e autônomos nacionalistas, segundo dados antecipados pelo jornal alemão "Der Tagesspiegel".

O número de radicais de direita violentos se situou neste ano em 9,8 mil - cerca de 300 a mais do que em 2010 -, informa o jornal em sua edição desta quinta-feira.

Esta estatística reúne tanto os militantes do ultradireitista Partido Nacional Democrático (NPD), que se destacam por seu potencial violento, como os neonazistas não vinculados a nenhuma outra organização do tipo e membros das denominadas "camaradagens" e de pequenos grupos locais.

Em todos estes ambientes foi observada uma crescente tendência à "politização e ao ativismo político" rumo ao que essa publicação qualifica como "neonacional-socialismo", frente ao que até agora era considerado mero neonazismo superficial e sem raiz ideológica.
Apenas com relação aos chamados autônomos nacionalistas, estima-se que haja cerca de 6 mil indivíduos identificáveis como tal após vários anos de crescimento constante, de 4,8 mil de 2008 até os 5,6 mil de 2010.
Estas estatísticas revelam, por um lado, uma progressiva redução do número de militantes por parte das principais legendas da extrema-direita, o NPD e a União do Povo Alemão (DVU) - com 6 mil e 3 mil militantes, respectivamente, segundo números de 2010.

Os dois partidos, agora em processo de fusão para tentar somar forças, teriam perdido em menos de cinco anos um terço de seus membros, enquanto as camaradagens e grupos locais de neonazistas estariam em auge.

Estima-se que em toda Alemanha haja aproximadamente 200 destes grupos, o que, somado à diversificação das forças policiais, serviços secretos e de observação do Ministério do Interior dificulta a luta contra a extrema-direita, segundo os especialistas.
As informações do "Der Tagesspiegel" coincidem com as informações divulgadas nas últimas semanas sobre uma célula de neonazistas que ao longo de dez anos matou nove imigrantes e uma policial.

A trama foi revelada em meados de novembro, depois que apareceram em uma caminhonete em Eisenach (leste da Alemanha) os corpos de dois membros dessa célula, Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt, de 38 e 34 anos, que aparentemente se suicidaram após assaltarem um banco e serem cercados pela polícia.
Pouco depois, Beate Zschäpe, de 36 anos, a terceira integrante do grupo ultradireitista, se entregou após atear fogo à casa que havia compartilhado com os outros dois membros, supostamente para destruir provas.



Nos dias seguintes foram efetuadas outras três detenções relacionadas ao grupo e, pelo menos em um dos casos, também com o NPD.

A questão reabriu a possibilidade de iniciar um novo processo de proibição do NPD - como pediu a própria chanceler Angela Merkel -, após o fracasso da solicitação apresentada em 2000 pelo governo e o Parlamento diante do Tribunal Constitucional.
O TC rejeitou o pedido em 2003, devido às dúvidas geradas sobre a credibilidade dos depoimentos de policiais infiltrados, principal argumento da solicitação.



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

As lutas de cada tempo, os tempos de cada luta.



Adriana Dias

Afirma a maravilhosa antropóloga Suely Kofes que “não narrar alguém ou algo é um mecanismo eficaz de instituí-los, metaforicamente, como ‘mortos’”[1]. Eu sempre amei profundamente a força das narrativas, sua força política, sua força de luta, sua força em manter viva a história da luta, as pessoas da luta, ainda que mortas na luta. Deixar de narrar um luta é deixar a luta morrer.

Durante a ditadura militar uma grande luta aconteceu neste país. Uma luta que eu não presenciei como adulta, mas que eu conheci pela narrativa de outras gerações, e uma luta que eu sempre tive o respeito de preservar. Era um tempo difícil, e lidar com o regime de exceção parecia aos que lutavam imperioso. Muitos deram sua vida pela liberdade, pela democracia. O tempo desta luta era duro, era um tempo ocre, com cheiro de granada, eu imagino, com cheiro de repressão, de imprensa censurada, de prisões a domicílio, de lares desfeitos, de pessoas desaparecidas. Um tempo de dor e de luto.

Hoje, dizem, vivemos outros tempos. Hoje, digo, vivemos outras lutas. A imprensa não é censurada, é cínica. O regime não é de exceção é de exclusão. As pessoas não são presas, são caluniadas.

A vocês que lutaram a luta do seu tempo, peço: nos ajudem com a luta do nosso: nossos direitos civis, de  milhares de pessoas com deficiência, doenças raras, LGBTTs, indígenas, quilombolas, idosos,   populações ribeirinhas e camponesas, entre outras dezenas de minorias, são constantemente violentados.

Esse é o nosso tempo, essa é a nossa luta.


[1]  Cf. KOFES, Suely. Uma trajetória, em narrativas. Campinas: Mercado de Letras, 2001, p. 12.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011


“Há um sonho pleno de horror que não deixa de me visitar (…) É um sonho dentro de um sonho. Varia nos detalhes mas não na substância. Posso estar sentado à volta de uma mesa com a minha família ou com amigos, ou no trabalho, ou num campo verde. Em suma, num ambiente pacífico e descontraído, sem qualquer tensão ou aflição aparente; e, no entanto, sinto uma profunda e subtil angústia, a sensação definitiva de uma ameaça pendente. E, de facto, à medida que o sonho continua, devagar ou brutalmente, de cada vez de uma forma diferente, tudo se desintegra à minha volta, o cenário, as paredes, as pessoas, enquanto a angústia se torna cada vez mais intensa e mais definida. Agora, tudo se transforma em caos. Estou sozinho no centro de um nada cinzento e perturbador e agora sei o que significam as coisas e também sei que sempre o soube.
Estou no Lager (termo alemão usado para falar dos campos) e nada é verdadeiro fora do Lager. Tudo o  esto era uma breve pausa, uma ilusão dos sentidos, um sonho (…) Este sonho dentro do sonho terminou e o outro sonho continua, gélido. Uma voz bem conhecida pronuncia uma única palavra, que não é imperiosa, apenas breve. É a voz de comando do amanhecer de Auschwitz, uma palavra estrangeira, temida, esperada: Wstawách! – Levanta-te.”
 Levi P (2005): Trilogia de Auchwitz. El Aleph. 2005. Barcelona, p.470


Leia ainda http://www.saude-mental.net/pdf/vol8_rev6_leituras1.pdf

domingo, 31 de julho de 2011

L'ETRANGER (1942)


Albert Camus

J'ai résumé L'Etranger, il y a très longtemps, par une phrase dont je reconnais qu'elle est très paradoxale: “dans notre société, tout homme qui ne pleure pas à l'enterrement de sa mère risque d'être condamné à mort”. Je voulais dire seulement que le héros du livre est condamné parce qu'il ne joue pas le jeu. En ce sens, il est étranger à la société où il vit, il erre, en marge, dans les faubourgs de la vie privée, solitaire, sensuelle. Et c'est pourquoi des lecteurs ont été tentés de le considérer comme une épave. On aura cependant une idée plus exacte du personnage, plus conforme en tout cas aux intentions de son auteur, si l'on se demande en quoi Meursault ne joue pas le jeu. La réponse est simple, il refuse de mentir. Mentir, ce n'est pas seulement dire ce qui n'est pas. C'est aussi, c'est surtout dire plus que ce qui est et, en ce qui concerne le coeur humain, dire plus qu'on ne sent. C'est ce que nous faisons tous, tous les jours, pour simplifier la vie. Meursault, contrairement aux apparences, ne veut pas simplifier la vie. Il dit ce qu'il est, il refuse de masquer ses sentiments et aussitôt la société se sent menacée. On lui demande par exemple de dire qu'il regrette son crime, selon la formule consacrée. Il répond qu'il éprouve à cet égard plus d'ennui que de regret véritable. Et cette nuance le condamne.
Meursault pour moi n'est donc pas une épave, mais un homme pauvre et nu, amoureux du soleil qui ne laisse pas d'ombre. Loin d'être privé de toute sensibilité, une passion profonde, parce que tenace, l'anime, la passion de l'absolu et de la vérité. Il s'agit d'une vérité encore négative, la vérité d'être et de sentir, mais sans laquelle nulle conquête sur soi ne sera jamais possible.
On ne se tromperait donc pas beaucoup en lisant dans L'Etrangerl'histoire d'un homme qui, sans aucune attitude héroïque, accepte de mourir pour la vérité.




O ESTRANGEIRO (1942)
Albert Camus

(no prefácio à edição americana do livro, em 1955)


Resumi O Estrangeiro, já faz bastante tempo, com uma frase que reconheço ser bastante paradoxal: “em nossa sociedade, todo homem que não chora no enterro de sua mãe corre o risco de ser condenado à morte”. Pretendo dizer apenas que o herói do livro é condenado porque ele não joga o jogo. Nesse sentido, ele é estrangeiro à sociedade onde vive; ele erra, à margem, nos subúrbios da vida privada, solitária, sensual. E por isso os leitores são tentados a considerá-lo como um arruinado. Ter-se-á contudo uma idéia mais exata do personagem, em todo caso mais conforme às intenções de seu autor, caso se pergunte de que modo Meursault não joga o jogo. A resposta é simples: ele recusa mentir. Mentir não é somente dizer o que não é. É também, sobretudo, dizer mais do que é; e, no que concerne ao coração humano, dizer mais do que se sente. É o que fazemos todos, todos os dias, para simplificar a vida. Meursault, contrariamente às aparências, não quer mais simplificar a vida. Ele diz o que é, recusa mascarar seus sentimentos e imediatamente a sociedade se sente ameaçada. Pedem por exemplo para ele dizer que se arrepende de seu crime, segundo a fórmula consagrada. Ele responde experimentar a esse respeito mais enfado do que arrependimento verdadeiro. E esse tom o condena.
 Meursault, para mim, não é portanto um arruinado, mas um homem pobre e nu, amante do sol que não deixa sombra. Longe de ser privado de toda sensibilidade, uma paixão profunda, porque tenaz, o anima, a paixão do absoluto e da verdade. Trata-se de uma verdade ainda negativa, a verdade de ser e de sentir, mas sem a qual nenhuma conquista sobre si jamais será possível.
Não seria errôneo, portanto, ler em O Estrangeiro a história de um homem que, sem nenhuma atitude heroica, aceita morrer pela verdade.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Lendo Mikhail Bakhtin...

A relação do autor com o herói, tal como se inscreve em sua arquitetônica estável e em
sua dinâmica viva, deve ser compreendida tanto sob o ângulo do princípio básico a que
obedece, quanto sob o ângulo das particularidades individuais que ela reveste neste ou
naquele autor, nesta ou naquela obra. Propomo-nos, em primeiro lugar, definir esse
princípio básico, em segundo, extrair dele os processos e os tipos de individuação e, para
terminar, verificar nossas posições mediante uma análise da relação do autor com o herói
nas obras de Dostoievski, Puchkin e outros.
Já enfatizamos o bastante que todos os componentes de uma obra nos são dados através
da reação que eles suscitam no autor, a qual engloba tanto o próprio objeto quanto a reação
do herói ao objeto (uma reação a uma reação); é nesse sentido que um autor modifica todas
as particularidades de um herói, seus traços característicos, os episódios de sua vida, seus
atos, pensamentos, sentimentos, do mesmo modo que, na vida, reagimos com um juízo de
valor a todas as manifestações daqueles que nos rodeiam: na vida, todavia, nossas reações
são díspares, são reações a manifestações isoladas e não ao todo do homem, e mesmo
quando o determinamos enquanto todo, definindo-o como bom, mau, egoísta, etc.,
expressamos unicamente a posição que adotamos a respeito dele na prática cotidiana, e esse
juízo o determina menos do que traduz o que esperamos dele; ou então se tratará apenas de
uma impressão aleatória produzida por esse todo ou, enfim, de uma má generalização
empírica. Na vida, o que nos interessa não é o todo do homem, mas os atos isolados com os quais nos confrontamos e que, de uma maneira ou de outra, nos dizem respeito. Mikhail Bakhtin

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Geórgia bane símbolos do comunismo e do nazismo em meio a ambiente tenso no país


Geórgia bane símbolos do comunismo e do nazismo em meio a ambiente tenso no país

1/6/2011 14:22,  Por Redação, com agências internacionais - de Tbilisi
Geórgia
Manifestante na Geórgia é preso durante revolta popular abafada pelas forças de segurança
O parlamento daGeórgia baniu o uso de símbolos nazistas e comunistas no país e aprovou, nesta quarta-feira, um pacote de restrições legais para as pessoas ligadas à ex-União Soviética, tanto às agências do serviços secretos quanto às organizações do Partido Comunista da antiga URSS. As alterações fazem parte da Carta da Liberdade, votada no Parlamento após três rodadas de votações, em meio a um ambiente de tensão no país.
Autor do documento, o deputado e chefe da facção Geórgia Forte, Giya Tortladze, comemorou:
– O público tem esperado a adoção desta lei há duas décadas, e eu estou orgulhoso de aprovação do documento. O objetivo da Carta é tomar medidas preventivas para combater a ideologia comunista ou nazista, invasões sobre os princípios da segurança do país, contra o terrorismo e os crimes contra o Estado. Ele tem de contribuir para o funcionamento eficaz das normas legais para garantir a segurança nacional e ao desenvolvimento democrático do país.
Confusão nas ruas
A Geórgia vive um momento de efervecência política, em meio a uma série de manifestações contra o presidente georgiano Mikheil Saakashvili. Os manifestantes foram dispersados, na semana passada, após uma sangrenta batalha campal que resultou em dois mortos e, no mínimo, 37 feridos. As duas vítimas fatais, segundo o diário espanhol El Mundo, são um policial e um ex-oficial do exército. Eles teriam sido atropelados por ativistas, que fugiram após o incidente. As autoridades usaram balas de borracha, gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar os manifestantes.
Os cerca de 5 mil manifestantes estavam reunidos há cinco dias na capital, Tbilissi, em frente ao parlamento, para pedir a demissão de Saakshvili, que acusam de ter sido reeleito através de fraude eleitoral e de ter responsabilidades na derrota georgiana na guerra pela soberania na Ossétia do Sul, que durou cinco dias, em 2008, e resultou na ocupação russa dos territórios caucasianos da Ossétia do Sul e da Abecásia.
O líder georgiano disse na véspera, que se tratou de “uma tentativa de realizar protestos de acordo com um cenário escrito fora da Geórgia, para contrariar e sabotar as celebrações do Dia da Independência e perturbar a ordem pública no país”. Saakshvili acrescentou:
– Este dia foi escolhido a dedo pelos nossos ocupantes (…) estaremos vigilantes e vamos responder adequadamente a qualquer provocação pelo nosso inimigo e ocupante.
São claras as alusões à Rússia, que continua a manter contingentes militares destacados nas regiões do Cáucaso. Moscou ainda não se pronunciou sobre as acusações.
Saakashvili tinha também culpado a Rússia pelos protestos de Novembro de 2007 em Tbilissi, que duraram também cinco dias e foram igualmente reprimidos violentamente pelas autoridades. Em pouco menos de uma semana, é a segunda vez que a Geórgia aponta armas diplomáticas ao Kremlin: no dia 20 deste mês o parlamento georgiano aprovou por unanimidade o reconhecimento do genocídio dos circassianos, levado a cabo pela Rússia dos czares em 1864. A Geórgia tornou assim a reconhecer o massacre, na véspera no Dia da Memória Circassiano e sublinhou o afastamento da Rússia por parte dos países do Cáucaso.
Bruxelas condena
A repressão aos oposicionistas desagradou à Comissão Europeia, que classificou a ação policial de “lamentável”. A porta-voz da Comissão Europeia, Natasha Butler, disse à agência francesa de notícias AFP:
– Entendemos a necessidade de manter a lei e a ordem, mas já tínhamos dito ao governo georgiano que consideramos que isso terá de ser feito de forma racional. A liberdade de reunião é um direito democrático e a Geórgia deverá assegurar esse direito.
O embaixador norte-americano na Geórgia, John Bass, foi mais brando na reação e mostrou-se de acordo com a posição de Saakashvili em relação aos protestos:
– Preocupam-me as indicações da existência de elementos dentro destes grupos de opositores que parecem estar mais interessados em forçar confrontos violentos que em protestar pacificamente – disse Bass, logo após os incidentes.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

SaferNet: Bolsonaro agravou violência de ataques no Twitter

SaferNet: Bolsonaro agravou violência de ataques no Twitter

Ana Cláudia Barros

Evolução das denúncias de manifestações de ódio no Twitter em 2010(Fonte:SaferNet)
A máxima "a internet é um espelho fiel da sociedade" parece ainda mais cabível quando observadas as ondas de discriminação e ódio que têm emergido nos últimos meses no Twitter. Análise da evolução diária das denúncias no microblog, elaborada pela SaferNet e obtida com exclusividade por Terra Magazine, confirma o que já se suspeitava: eventos do "mundo real" impactam diretamente o ambiente virtual.
Nas cinco principais ondas de ataques e nas manifestações de menor proporção deflagradas no Twitter, no período que vai de novembro de 2010 a 16 maio deste ano, essa correlação fica evidente, conforme enfatiza o presidente da SaferNet Brasil - organização não-governamental que combate crimes contra direitos humanos na rede -, Thiago Tavares.
Ele chama a atenção para o "aumento significativo" da frequência e da violência dos ataques após a entrada em cena do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ).
- Com suas declarações polêmicas, o Bolsonaro acendeu o pavio e encorajou algumas ondas sucessivas de homofobia no Twitter e nas outras redes sociais no Brasil; Orkut principalmente - afirma, destacando a conexão entre realidade "online" e "offline".
- Se forem cruzados os dados da planilha com as notícias veiculadas na imprensa, é possível perceber ligação com fatos, como disputas no Congresso, violência a homossexuais na Avenida Paulista, chuvas no Nordeste, metrô em Higienópolis.
Sobre as ondas menores, acrescenta:
- Elas têm se apresentado constantes ao longo de 2011. Em sua maioria, foram detonadas pela polarização do debate em torno dos direitos dos homossexuais.
De acordo com Tavares, a incidência das manifestações de discriminação começou a se acirrar a partir do final do segundo semestre de 2010. Sobre os motivos deste crescimento, argumenta:
- Dois fatores são importantes e, em conjunto, ajudam a entender esses números. O Twitter se expandiu muito no Brasil do segundo semestre pra cá. Hoje, tem em torno de 15 milhões de usuários (no mundo, são cerca de 180 milhões). O aumento expressivo na base de usuários também influenciou no número de casos - diz, prosseguindo com a explicação:
- Outro fator importante foi a violência no debate eleitoral. Essa agressividade que permeou a campanha dos candidatos foi transposta para os eleitores. O clima de animosidade criou um ambiente propício para essas manifestações exacerbadas de ódio.

Evolução das denúncias de manifestações de ódio no Twitter em 2011 (Fonte:SaferNet)
De janeiro a dezembro de 2010, 2.372 tweets(mensagens postadas no microblog) com teor discriminatório foram encaminhados à Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, criada pela SaferNet e operada em parceria com os ministérios públicos federal e estaduais e a Polícia Federal.
Ao todo, foram contabilizados 23.589 denunciantes. Só de janeiro a 16 de maio de 2011, 1.181 tweets com as mesmas características foram reportados à SaferNet, quase a metade do acumulado no ano passado inteiro. Até a mencionada data, 8.942 pessoas se dispuseram a delatar os casos de discriminação. Todas as denúncias são anônimas.
"Detonadores"
O presidente da SaferNet explica que as ondas de preconceito no Twitter Brasil são desencadeadas pelo que chama de "perfis detonadores", usuários que "assumem a dianteira e inauguram uma sequência de ódio, uma gritaria generalizada".
A primeira grande onda aconteceu entre 1º e 4 de novembro do ano passado, logo após o anúncio do resultado das eleições presidenciais. Conforme a SaferNet, o perfil da estudante de Direito Mayara Petruso, apontada na época como pivô da polêmica em razão do comentário de que queria afogar os nordestinos, foi, de fato, o estopim das manifestações de preconceito. Neste período de quatro dias, 4.002 pessoas acionaram a ONG para denunciar.
Tavares comenta que foi necessário um "tratamento de choque" para estancar o tumulto na rede.
- Preparamos um relatório com 1.037 contas do Twitter, mandamos a lista para o Ministério Público e comunicamos à imprensa. Foi imediato. Cessou rapidamente.
- Se você comparar essa onda com as demais, vai perceber que as outras ondas duram, no máximo, 48, 72 horas estourando. A onda contra os nordestinos após as eleições, por sua vez, iria perdurar por mais de uma semana. Ela já durava cinco dias. Era uma atividade enorme. As mensagens estavam cada vez mais agressivas. Isso nos surpreendeu. Era uma onda absolutamente sem controle. Por isso decidimos adotar uma ação enérgica.
O segundo "tsunami" virtual foi registrado entre 17 e 19 do mesmo mês, após o lançamento, às vésperas do Dia Nacional da Consciência Negra, da campanha no Twitter "#HomofobiaNão". Em contraposição ao movimento, grupos conservadores criaram o perfil e a hashtag "#HomofobiaSim", o que impulsionou uma sequência de manifestações de repúdio aos homossexuais. Ao todo, 8.574 denunciaram.
Já a terceira onda, observada entre 29 e 30 também de novembro, teve como mote o neonazismo. Os alvos? Negros e gays. Os dois perfis apontados como os responsáveis pela propagação do ódio (@anjooslava e @anjonazistaheil) já não estão mais ativos, mas os comentários racistas e homofóbicos podem ser vistos via buscador Topsy, que mostra quem foram os autores da divulgação de determinado tweet e exibe as mensagens mais repassadas pelos usuários.
Entre os recados deixados pelos perfis, ataques frontais como: "Eu odeio homossexuais, desejo que todos eles tenham uma morte sofrida e dolorosa, meu sonho é um dia ver a humanidade livre dessa raça!"; "Meu avô foi brutalmente assassinado por um negro. Como eu vou defender esses lixos?"; "Rejeite o lixo multicultural! Despreze a escória homossexual!!! Não irei me acovardar, e sim massacrar"; "Esse país é um lixo, eles querem te obrigar a amar negros, homossexuais. Se for pra viver nesse lixo a minha vida toda, prefiro a morte".
A quarta grande onda, ocorrida em 28 e 29 de dezembro, também foi alavancada pela aversão aos gays, lésbicas, transexuais e bissexuais. Segundo a SaferNet, os perfis detonadores foram @contraGays e @estuproSim, este último cancelado.
A série de ataques mais recente aconteceu em 12 deste mês, após a eliminação do Flamengo na Copa do Brasil pelo Ceará. Em um único dia, 5.150 internautas, indignados com o teor das mensagens de preconceito contra nordestinos, recorreram à SaferNet.

terça-feira, 3 de maio de 2011

FINALMENTE!!!!!!!!!!!!

Justiça de SP condena homem por racismo no Orkut

Ele teve pena de reclusão transformada em prestação de serviços. 
Réu usou tio negro como testemunha de defesa.


A juíza Maria Isabel Rebello Pinho Dias, da 16ª Vara Criminal de São Paulo, condenou um homem de 27 anos acusado de racismo pela internet a dois anos, quatro meses e 24 dias de prisão.  Ele respondeu a um processo originado em 2008 pelo crime de praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. As agressões foram difundidas por meio do site de relacionamentos Orkut. Como a condenação foi inferior a quatro anos de reclusão e o acusado é réu primário, a pena foi convertida em prestação de serviços à comunidade. A sentença é de 28 de fevereiro  de 2011.


O Ministério Público Estadual acusou o homem de ter adicionado no seu perfil do Orkut as comunidades "coisas que odeio: preto e racista", "Adolf Hitler Lovers", "Sou racista" e "racista não, higiênico!". De acordo com a sentença, o rapaz afirmou que há negros em sua família e não tinha motivos para ser racista. Ele reconheceu que fez comentários infelizes, mas disse que na época não pensava sobre suas consequências.


A juíza não cedeu a esse argumento. "Em que pese o acusado sustentar que apenas fez comentários infelizes, com intenção de brincadeira e discussão, tal alegação deve ser rechaçada, pois não é admissível que a livre manifestação de pensamento seja usada como subterfúgio para condutas abusivas e lesivas a um dos objetivos da República Federativa do Brasil, qual seja, a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação", disse a juíza.

Um homem negro se apresentou como testemunha de defesa e disse ser tio do réu. A juíza entendeu que isso em nada beneficiou o acusado. "Possuindo pessoas do seu círculo familiar da raça negra, o réu deveria dar o exemplo, abstendo-se de colocações racistas, há tanto tempo combatidas em nossa sociedade."

De acordo com o promotor de Justiça Christiano Jorge dos Santos, o agressor é integrante de uma famíl ia de classe média baixa, tinha cursado apenas o ensino médio e vivia às custas da avó. O promotor realizou investigações de crimes de racismo na internet que chegaram à pagina do acusado. Um estagiário do Ministério Público entrou em contato com o rapaz, que admitiu as mensagens racistas.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

David Lane - Como se faz um ariano

Na autobiografia do líder neonazista David lane, ele se vale da construção narrativa para organizar um discurso a respeito do "arianismo" tecido por comentários a fragmentados elementos de sua história de vida. Pensando a autobiografia dele, ficam cada vez mais compreensíveis as relações exploradas por Suely Kofes entre memória, experiência, produção do esquecimento, narrativa e etnografia:
Primeiramente, porque seria impossível me debruçar na sua narrativa biográfica sem a realização do trabalho de campo que desenvolvi anteriormente. Foi na etnografia e a partir dela que o que se pretende um "sujeito nazi" se delineou compreensível para mim.
Em segundo lugar, porque no texto de Lane, a memória, a elaboração desta particular e decisiva narrativa da experiência do se tornar "ariano", o jogo entre o que é lembrado e estrategicamente esquecido, revelam muito de como na esfera política esse mosaico é possível.
Finalmente, entendo esta auto-biografia como um verdadeiro roteiro de sua ideologia e uma agenda política.


Bem, para quem não sabe, este tema é o centro do meu Doutorado. Discursos, internet, narrativa, usos político, esquecimentos e memória, fazem parte. Voltando a Foucault!

sábado, 9 de abril de 2011

Direita e esquerda

Resumindo: a direita quer, no máximo, eliminar os pobres. A esquerda quer, no mínimo, eliminar a pobreza.
Adriana Dias

Reflexões no twitter a partir de Direita e Esquerda: Razões e Significados de uma Distinção Política, de Norberto Bobbio (Editora da UNESP, São Paulo, 1995).

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Charter of Human Rights and Principles for the Internet

Welcome to the dedicated website for the Charter of Human Rights and Principles for the Internet and related 10 Rights and Principles for Internet governance. Both of these initiatives have been developed by the Internet Rights and Principles Dynamic Coalition (IRP), an open network of individuals and organisations working to uphold human rights in the Internet environment.
You can use this site to download the 10 Internet Rights and Principles - a set of international standards that must be upheld in order to protect and advance human rights online. Use the flyer to raise awareness and push policy makers to make human rights a cornerstone of Internet governance.
You can also participate in the development of the Charter. This goes into more depth than the Principles, applying international human rights standards to the Internet and examining the roles that different stakeholders need to play to uphold them. We've already drafted a beta version of the Charter. We're now actively seeking your comments and contributions to make sure that we've covered all of the issues in the right way. You can use this site to comment on each article, as well as to make more general comments. Please do get involved - we all need to work together to build an Internet that is truly empowering and liberating for all of humankind.

Download translations.

10 INTERNET RIGHTS & PRINCIPLES

This document defines ten key rights and principles that must form the basis of Internet governance. They have been compiled by theInternet Rights and Principles Dynamic Coalition (IRP), an open network of individuals and organisations working to uphold human rights in the Internet environment. The principles are rooted in international human rights standards, and derive from the coalition's emerging Charter of Human Rights and Principles for the Internet.
The Internet offers unprecedented opportunities for the realisation of human rights, and plays an increasingly important role in our everyday lives. It is therefore essential that all actors, both public and private, respect and protect human rights on the Internet. Steps must also be taken to ensure that the Internet operates and evolves in ways that fulfil human rights to the greatest extent possible. To help realise this vision of a rights-based Internet environment, the 10 Rights and Principles are:

1) Universality and Equality

All humans are born free and equal in dignity and rights, which must be respected, protected and fulfilled in the online environment.

2) Rights and Social Justice

The Internet is a space for the promotion, protection and fulfilment of human rights and the advancement of social justice. Everyone has the duty to respect the human rights of all others in the online environment.

3) Accessibility

Everyone has an equal right to access and use a secure and open Internet.

4) Expression and Association

Everyone has the right to seek, receive, and impart information freely on the Internet without censorship or other interference. Everyone also has the right to associate freely through and on the Internet, for social, political, cultural or other purposes.

5) Privacy and Data Protection

Everyone has the right to privacy online. This includes freedom from surveillance, the right to use encryption, and the right to online anonymity. Everyone also has the right to data protection, including control over personal data collection, retention, processing, disposal and disclosure.

6) Life, Liberty and Security

The rights to life, liberty, and security must be respected, protected and fulfilled online. These rights must not be infringed upon, or used to infringe other rights, in the online environment.

7) Diversity

Cultural and linguistic diversity on the Internet must be promoted, and technical and policy innovation should be encouraged to facilitate plurality of expression.

8) Network Equality

Everyone shall have universal and open access to the Internet's content, free from discriminatory prioritisation, filtering or traffic control on commercial, political or other grounds.

9) Standards and Regulation

The Internet's architecture, communication systems, and document and data formats shall be based on open standards that ensure complete interoperability, inclusion and equal opportunity for all.

10) Governance

Human rights and social justice must form the legal and normative foundations upon which the Internet operates and is governed. This shall happen in a transparent and multilateral manner, based on principles of openness, inclusive participation and accountability.
Get involved with developing the IRP Charter at www.irpcharter.org, follow us at @netrightson Twitter or join the Internet Rights and Principles Facebook group.

Direto do Blog do Fórum da Liberdade


*Por Maurício Filippon
Tenho contato com acesso a internet no Brasil desde os tempos da antiga RNP (Rede Nacional de Pesquisa), através da rede da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), quando a internet ainda não era explorada comercialmente no País – isso já faz mais de quinze anos. Com o passar do tempo, a evolução e exploração da internet foi meteórica e absolutamente inacreditável: portais de informações, chats, redes de relacionamentos, mecanismos de busca instantânea, blogs, lojas on-line, cidades virtuais e mais tudo o que a imaginação permitiu foi feito nesse ambiente. E o que explica o porquê de tantas inovações, muitas delas revolucionárias, da qual dependemos hoje em dia para termos uma vida atualizada, facilitada e produtiva – inovações que foram criadas e estão à disposição de todos que possuem uma conexão e um microcomputador ou qualquer outro dispositivo que converse com a rede mundial de computadores? Bom, eu explico o motivo:
A internet é um meio livre, no qual a liberdade pode ser exercida em toda a sua essência: qualquer pessoa, dependendo unicamente de suas capacidades, pode criar o que bem imaginar e colocar, à disposição de todos, seja um blog, seja uma ferramenta de trabalho, utilizando recursos de imagens, áudio e vídeo. Não depende de mais nada. Sua criatividade pode ser exercida e colocada à disposição de todos, como seu criador julgar melhor.
Tal liberdade deixa qualquer governo incomodado, por mais liberal que seja. Acreditam que têm o direito e o dever de controlar o meio, para impedir o mau uso dele, pregando que se trata de uma ferramenta que pode ser nociva se mal utilizada – e é dever dele, governo, regular isso. Mas não é verdade. O fato é que existe receio por parte dos governos de que tal liberdade possa causar movimentos que desagradem aos governantes, principalmente no campo das ideias. É o que acontece com o controle de navegação em países como China e Cuba, por exemplo, onde o acesso ao conteúdo é extremamente restrito e monitorado.
Realmente, o poder de uma ferramenta como a internet é incalculável, tanto para o bem como para o mal. Jamais ela será totalmente voltada para benfeitorias enquanto seus usuários fizerem mau uso dela. Contudo, limitar acessos e controlá-la, ao meu ver, fica totalmente fora de questão. Faço aqui um paralelo com a condução de um veículo: quando mal utilizado, pode causar uma tragédia, seja acidental, seja propositada. Imagine se nossos veículos tivessem trajetória e velocidades pré-estabelecidas, as quais não pudéssemos alterar; veja o quanto estaríamos limitando uma ferramenta cujo maior atrativo e potencial é que cada usuário determine o seu melhor uso, em benefício próprio – e isso implica, obviamente, na responsabilidade em mesma magnitude que a utilidade que tal meio representa.
O que precisamos, na verdade, é de cada vez mais termos bons usuários para a internet, pessoas cada vez mais educadas e instruídas, base para o desenvolvimento de qualquer povo ou nação. Pessoas que produzam, que criem, que contribuam para o aumento do conhecimento global. Conforme a visão de Hayek, o verdadeiro conhecimento está pulverizado no mundo, e esse conhecimento jamais será concentrado em poucos. A internet é um reflexo disso: milhares e milhares de computadores, ligados entre si, de forma descentralizada, formam hoje o maior poder computacional do mundo. E além disso, a internet é o meio que julgo beirar a perfeição para a conexão do conhecimento – antes muito mais fragmentado, com maior dificuldade para se ligarem as peças do quebra-cabeças do conhecimento. Portanto, a internet propicia que inovações cada vez melhores possam surgir em nossas vidas. O caminho realmente não está em controlar e tolher acessos à internet, mas sim em permitir e garantir que ela seja um ambiente completamente livre para o acesso à informação, para a produtividade e para o desenvolvimento.
*Fundador e diretor da Done TI e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)