terça-feira, 24 de abril de 2012

Uma semana para lembrar genocídios


A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação. De tal modo ela precede quaisquer outras que creio não ser possível nem necessário justificá-la. Não consigo entender como até hoje mereceu tão pouca atenção. Justificá-la teria algo de monstruoso em vista de toda monstruosidade ocorrida. Mas a pouca consciência existente em relação a essa exigência e as questões que ela levanta provam que a monstruosidade não calou fundo nas pessoas, sintoma da persistência da possibilidade de que se repita no que depender do estado de consciência e de inconsciência das pessoas. 
Theodor Adorno



Um motivo para lembrar genocídios é nos prepararmos para que eles jamais se repitam. Esta semana se rememoram dois momentos absurdos do ponto de vista dos Direitos Humanos: o genocídio dos índigenas brasileiros no que aprendemos ser a colonização brasileira inicializada pelo dito Descobrimento do brasil em 22 de abril, e  hoje, a data do  o nemesis histórico dos armênios, que viram 1,5 milhão de seus habitantes  mortos pelos otomanos em 1915. 
O memorial mais importante no país é a respeito deste genocídio e é um museu. Ele relembra os armênios, assassinados em 1915 e os diversos mortos em anos anteriores, em vários pogroms. O memorial é centrado em torno de uma chama eterna. Este é circundada por doze paredes maciças, curvas por dentro, representando as doze províncias perdidas "da Armênia Ocidental, regiões da  Turquia, em que viveram. 
O genocídio dos Armênios foi o primeiro grande genocídio do século XX, um século que todos tentamos entender, mas que é irrepresentável do ponto de vista do número de mortos eliminados por parte da humanidade, por outra parte desta mesma humanidade que não os considerava HUMANOS.
Posteriormente, aos armênios se juntaram judeus, ciganos, gays, povos da África como vítimas do genocídio. Hoje temos Sudão, Uganda. O que faremos? Para Adorno, a educação deve, simultaneamente, evitar a barbárie e buscar a emancipação humana. 

domingo, 22 de abril de 2012

Neonazismo pelo mundo...


Neonazistas ganham espaço com empobrecimento da Grécia
28 de março de 2012  06h01  atualizado às 08h04

Imigrante passa por muro grafitado em Atenas; estrangeiros são alvos dos neonazistas gregos. Foto: AP
Imigrante passa por muro grafitado em Atenas; estrangeiros são alvos dos neonazistas gregos
Foto: AP
O empobrecimento geral e o elevado número de imigrantes ilegais na Grécia deram origem a um violento grupo neonazista, intitulado "Amanhecer Dourado" (Jrysi Avgi), que pode conseguir representação parlamentar já nas próximas eleições antecipadas, previstas para abril e maio.
Após os distúrbios do último dia 12 de fevereiro, uma inquietante pintura apareceu em um dos locais atingidos do centro de Atenas: "Fogo aos hebreus", acompanhada pelo símbolo de uma forca em que estavam penduradas uma estrela de David e outra anarquista.
"Amanhecer Dourado" - cujo símbolo lembra uma suástica - está ganhando terreno e seus integrantes não duvidam em expor publicamente seus ideais xenofóbicos e sua opção pela rejeição aos imigrantes, que, por sua vez, são qualificados como uma "escória humana".
"Invadiram nossa terra e tiraram nossos trabalhos. Se conseguirmos o poder, vamos deportar todos os imigrantes e fechar novamente nossas fronteiras com minas, cercas elétricas e guardas", explicou à agênciaEFE Ilyas Panayotaros, porta-voz do partido e candidato a deputado.
Fundado em 1993 pelo ex-oficial do Exército grego Nikolaos Mijaloliakos, o partido mantém vínculos com outros movimentos neonazistas europeus e, segundo as denúncias da imprensa e políticos gregos, com elementos da Junta Militar deposta em 1974 e, inclusive, com grupos da atual polícia.
Até o momento, o partido ainda não tinha recebido um apoio eleitoral relevante. Mas, nas últimas eleições municipais de 2010, a legenda conseguiu eleger um vereador na Prefeitura de Atenas (em alguns distritos com até 20% dos votos).
As enquetes das eleições gerais apontam que o partido deverá superar a barreira eleitoral dos 3%, o que poderia garantir uma dezena de cadeiras no parlamento.
Na última semana, no bairro de Aghios Pantelimonas, a tensão era evidente. Cerca de 2 mil pessoas participavam de uma passeata sob o lema "Fora neonazistas". No entanto, para evitar um possível confronto, as tropas antidistúrbios interromperam a manifestação e bloquearam a rua com ônibus blindados. Isso porque, na Praça de Aghios Pantelimonas, aproximadamente 50 militantes do "Amanhecer Dourado" se manifestavam contra a imigração.
"Na há nazistas na Grécia. Eu seria um nazista simplesmente por ser um europeu branco e democrático que não quer imigrantes no seu bairro? A Grécia é muito pequena, mas a Ásia é muito grande. Portanto, podem voltar para os seus países", afirma à agência EFE o desempregado Constantinos Alopis, 35 anos, que ganha 500 euros por mês do governo.
Nos últimos anos, este bairro do centro de Atenas foi muito afetado pela crise e o desemprego aumentou visivelmente, algo que também afeta os próprios imigrantes, que vivem em grande número nessa região, muitos deles ilegais.
Muitos imigrantes, conscientes de que não há trabalho na Grécia, desejam agora ir para o norte da Europa. Porém, os controles de fronteira e a Regulamento Dublin II (que permite a terceiros Estados devolver à Grécia os imigrantes que entraram na União Europeia por suas fronteiras) os retêm no país mediterrâneo.
"Já são mais que nós no bairro e se dedicam apenas ao roubo e ao tráfico de drogas", criticou Eleni, uma moradora dos arredores de Aghios Pantelimonas.
Um idoso do local também assegurou que os militantes do "Amanhecer Dourado", "aproximadamente 400 em todo o bairro", se organizam e "protegem" os moradores dos supostos ataques dos imigrantes.
"Nossos integrantes participam junto com outros cidadãos nos grupos de autodefesa. De fato, nós queremos que eles sejam declarados oficiais e que disponham de plena autoridade", apontou o porta-voz de "Amanhecer Dourado".
No entanto, segundo diversas ONGs (ONG), os ataques são mais frequentes na outra direção, já que nos últimos três meses de 2011 foram registrados 63 ataques aos imigrantes e poucos chegaram a ser solucionados pelos tribunais.
Nesta semana, um tribunal de Atenas adiou pela quarta vez um processo pelo esfaqueamento de um refugiado afegão pelas mãos de três nacionalistas gregos, dado que um dos acusados não compareceu ao julgamento alegando razões médicas.
Trata-se de Zemis Skordeli, que apesar de não ser uma integrante, é considerada "amiga" do partido "Amanhecer Dourado".
"Não temos uma posição comum sobre se o "Amanhecer Dourado" deveria ser proibido", relatou à agência EFEKostis Papaioannou, presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Grécia.
"O que temos claro é que a lei condena os discursos racistas que promovem ações violentas e, portanto, devemos cobrar das autoridades para a mesma ser cumprida", completou.

Neonazistas estadunidenses têm seu próprio lobista em Washington

 
14.04.2012, 12:40
Neonazistas estadunidenses têm seu próprio lobista em Washington
© Flickr.com/Luke Robinson/cc-by-nc-sa 3.0
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O partido nazista norte-americano registrou seu primeiro lobista no governo dos EUA, John Boles de 55 anos. Ele foi registrado como lobista pela Secretaria do Senado e Câmara dos Representantes do Congresso estadunidense.
De acordo com os documentos oficiais, Boles pretende lutar por “observação de direitos políticos e igualidade do acesso de cidadãos ao processo eleitoral”. O representante neonazista está preocupando com o fato que o governo não permita seus companheiros lutar por cargos eletivos.
Entre outras questões, Boles planeja promover as questões de direitos humanos, saúde e imigração, não tocando intencionalmente o problema de “pureza racial”.


Estudantes da Unesp fazem passeata contra ato de racismo

Estudantes da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara (273 km de São Paulo) protestaram na noite desta quinta-feira (19) contra o recente ato de racismo ocorrido na universidade.

No início de abril, a frase "Sem cotas para os animais da África" foi encontrada em um mural localizado em frente ao centro acadêmico de ciências sociais. A Unesp abriu uma sindicância interna e um boletim de ocorrência foi registrado por alunos e professores.

Depois de se reunirem no final da tarde de ontem para discutir o ato, os estudantes saíram em passeata pelo campus, como forma de protesto. Durante a reunião, uma moção de repúdio à pichação também foi votada.

De acordo com o professor Dagoberto José Fonseca, coordenador do Grupo de Estudos da Cultura Africana, manifestações culturais contra o ato de racismo também estão sendo planejadas.

Segundo ele, pichações que fazem referência ao grupo neonazista White Power (poder branco) já haviam sido feitas há alguns anos em banheiros da faculdade.

Na Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara estudam 23 alunos africanos, vindos de diferentes países.

Os estudantes fazem parte do PEC-G, programa educacional dos ministérios das Relações Exteriores e da Educação que oferece vagas para estudantes estrangeiros de países em desenvolvimento.

Pai de estudante morta pede punição a nazistas



A autora do blog comenta que Renata era integrante da revista neonazista O MARTELO...



Crime completa três anos neste sábado e acusados estão livres

O pai da estudante Renata Waechter, Amadeu Ferreira Júnior, fez um apelo à Justiça para que os acusados pelo assassinato de sua filha. O crime completa três anos neste sábado e os seis acusados pelo duplo homicídio ainda estão livres. Renata e o namorado, Bernardo Dayrell Pedroso, foram mortos depois de uma festa em Rio Branco do Sul.

“Venho pedir justiça. A impunidade se torna um premio aos assassinos, enquanto nós que perdemos nossa filha e filho é pagamos a maior das penas que é a perda para sempre”, afirma Amadeu.

As audiências marcadas pela Justiça vem sendo seguidamente adiadas em função da convocação de testemunhas de outras cidades. Os acusados pelo crime são Ricardo Barollo, de São Paulo; Jairo Maciel Fischer de Teotonia-RS; Rodrigo Mota de Curitiba; Gustavo Wendler de Curitiba; Rosana Almeida de Curitiba e João Guilherme Correa de Pato Branco.

Renata era filha única de Amadeu, estudante de Arquitetura na PUC-PR e havia começado um namoro com Bernardo, que era estudante de Direito em Belo Horizonte. Segundo o pai, eles não suspeitavam do envolvimento do jovem com o nazismo e sua filha não fazia idéia da existência do grupo.

Bernardo teria sido morto em função de uma disputa pela liderança do grupo e sua filha teria sido assassinada apenas pelo fato de estar acompanhando o estudante mineiro.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Levante de Varsóvia.



Hoje faz 69 de uma páscoa judaica que merece ser recordada, que marcou o dia 19 de Abril de 1943. Na noite deste dia, a tenebrosa  SS entrou no gueto de Varsóvia, tentando conter a revolta que começara em janeiro, planejando uma ação de três dias. No entanto, eles sofreram perdas e emboscadas por insurgentes judeus, que dispararam de forma agressiva numa das maiores resistências contra a opressão já vistas. Mulheres, homens e crianças lutaram bravamente por suas vidas.

Enquanto a batalha continuou dentro do Gueto, a resistência  polonesa reagiu em seis locais diferentes, e tentou romper os muros do gueto com explosivos, mas os alemães repeliram o ataque.
Algumas centenas de judeus decidiram pegar em armas contra os alemães da ocupação, decidindo pela lutar como opção à  morte quase certa imposta pela "Solução Final" nazista. Eles sabiam que não teriam nenhuma chance de vencer, não lutavam pela vitória mas pela dignidade da vida humana. O levante foi um grito contra a opressão, contra o totalitarismo.
Que este grito ecoe em nosso corações sempre, em sua homenagem.


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sede de antiga colônia nazista será demolida em SP




TAMANHO DA LETRA A+ A-
Foto: Divulgação
Prédios de tijolos com suástica darão lugar à plantação de cana-de-açúcar
Prédios de tijolos com suástica darão lugar à plantação de cana-de-açúcar
As construções remanescentes de uma colônia nazista que funcionou na década de 1930 na Fazenda Cruzeiro do Sul, em Paranapanema, a 260 km de São Paulo, serão destruídas. O novo proprietário decidiu limpar as terras para facilitar o cultivo de cana-de-açúcar. Está prevista a derrubada dos prédios das oficinas, da cocheira e da pequena igreja. A antiga piscina de alvenaria será soterrada.
Os tijolos usados nas construções trazem impressa a suástica, símbolo do nazismo de Adolf Hitler. O antigo proprietário da fazenda, José Ricardo Rosa Maciel, e sua mulher, Senhorinha, contaram que o comprador consultou os órgãos do patrimônio histórico antes de fechar o negócio para se certificar de que as construções não são tombadas.
Como a venda foi feita com cláusula de confidencialidade, eles não revelaram o nome do novo dono. "Ele vai arrendar as terras para o plantio de cana mecanizado, por isso precisa do terreno desimpedido", disse a mulher. A prefeitura de Paranapanema informou que as terras são particulares e o município não tem condições de desapropriá-las, apesar do interesse cultural.
A fazenda foi comprada no início do século passado por Luis Rocha de Miranda, simpatizante do movimento fascista Ação Integralista Brasileira (AIB). A propriedade tinha geradores de energia elétrica, pista de pouso cimentada, uma estação de trens particular e silos aéreos importados dos Estados Unidos.
Segundo o pesquisador Sidney Aguilar Filho, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a fazenda foi palco de um esquema escravista nos anos 1930. Os irmãos Rocha Miranda trouxeram 50 meninos do orfanato Romão Duarte, do Rio de Janeiro, poucos meses depois de Hitler ter tomado o poder na Alemanha, em 1933. Os garotos tiveram os nomes trocados por números e seriam obrigados a aderir a ritos nazistas.
Com o fim da AIB após a instalação do Estado Novo por Getúlio Vargas, em 1937, as crianças foram libertadas e as marcas do nazismo no local foram suprimidas. Nos anos 1960, a fazenda foi adquirida pelo alemão Amdt Von Bohlen und Halbach, servindo como local de férias para a família, mas acabou vendida anos depois. Os tijolos com a suástica foram descobertos anos mais tarde por Maciel, que adquiriu a propriedade, quando demolia uma granja de porcos.
Aguilar Filho transformou as pesquisas feitas no local na tese Educação, autoritarismo e eugenia - Exploração do trabalho e violência à infância no Brasil (1930-1945). Ele disse que será "uma calamidade" se a demolição ocorrer. "É um patrimônio público, seja ou não reconhecido pelo Estado. O que aconteceu ali é uma história inconveniente, mas que precisa ser contada." Segundo ele, a pesquisa sobre a célula nazista e a história dos meninos escravos não está completa. "Ainda há muito a ser contado sobre as relações do Estado brasileiro com o regime nazista."
Estudo. A tese de Aguilar Filho analisa aspectos da educação brasileira entre 1930 e 1945 a partir de relatos de vida de 50 meninos "órfãos ou abandonados" sob guarda do Juizado de Menores do Distrito Federal. Eles foram retirados do Educandário Romão de Mattos Duarte, da Irmandade de Misericórdia do Rio de Janeiro, e levados a uma propriedade no interior de São Paulo - a Fazenda Cruzeiro do Sul.
A transferência dessas crianças de 9 a 11 anos foi respaldada pelo Código do Menor de 1927. Por uma década, as crianças foram submetidas a uma educação baseada em longas jornadas de trabalho agrícola e pecuário sem remuneração. Foram submetidas a cárcere, castigos físicos e constrangimentos morais em fazendas de integrantes da cúpula da Ação Integralista Brasileira, simpatizantes do nazismo.
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A fazenda Cruzeiro do Sul perto de Campina do Monte Alegre, comprada no começo do século passado pelo patriarca Luis Rocha Miranda e mantida pelos filhos, simpatizantes do movimento nazista brasileiroAção Integralista Brasileira (AIB), foi palco de um esquema escravista e uma colônia assumidamentenazista nos anos 30. Os irmãos Rocha Miranda empregaram cerca de 50 meninos órfãos negros batizadas por números como escravos, trazidos do orfanato Casa da Roda de Rio de Janeiro, poucos meses depois da Machtergreifung (tomada de poder de Adolf Hitler) em 1933.
Na fazenda foram descobertos diversos edifícios construídos com tijolos com a marca da suástica nazista. Depoimentos de sobreviventes, fotografias e documentos revelaram ainda símbolos e cerimônias tipicamente nazistas empregados na época, como a obrigação de fazer o "anauê", saudação oficial entre os simpatizantes do movimento integralista.
Depois da extinção da AIB após a instauração do Estado Novo em 1937 a fazenda foi limpada pela família Rocha Miranda e as crianças soltas. No começo dos anos 60 a fazenda foi adquirida por Arndt von Bohlen und Halbach, herdeiro da dinastia industrialalemã Krupp AG e filho de Alfried Krupp von Bohlen und Halbach. Serviu como local de férias para o filho e a mãe Anneliese, mas acabou ser vendida poucos anos depois.[7][8][9]
Com a divisão dos municípios, atualmente a sede da fazenda (tem cerca de 300 alqueires paulista) fica no município de Itaí e uma boa parte da fazenda no município de Paranapanema e Itapeva. Inclusive a capela da sede que foi construída com tijolos com a suástica está na localização geográfica: 23º35'35,52" sul, 48º49'56,49" oeste e este ponto está no município de Itaí.[10]

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Dois números: Dois homens sem passado
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Sete ( à esquerda ) e o Vinte como são conhecidos   e chamados pelos amigos.
Na margem direita da rodovia Raposo Tavares, à esquerda da corrente do rio Paranapanema e a 240 quilómetros ao sul de Campinas, vive um homem negro conhecido como Vinte. Batizado Roque da Silva, tem 72 anos e sua história conta uma outra que só começou a ser revelada há dois anos e nunca foi seriamente estudada: a da ascensão e decadência de um suposto megaprojeto agropecuário de 16 mil alqueires, com inspiração nazi-fascista, que tinha uma infraestrutura composta por estrada-de-ferro, pista de pouso pavimentada com concreto, moinhos e os primeiros silos aéreos para armazenamento de grãos que o Brasil conheceu.
A megalomania dos fascistas, agrupados legalmente no país pela Aliança Integralista Brasileira, floresceu ao longo de pelo menos três municípios ribeirinhos daquela região durante os anos 30 e até os 50 e, segundo uma incipiente conclusão de um jovem pesquisador de Campinas, pretendia estender-se por todos os países do Cone Sul utilizando-se da mão de obra escrava de outros 49 órfãos negros conhecidos apenas por números e da semi-escravidão de migrantes nordestinos brancos do sertão de Caicó, no Rio Grande do Norte.
O casebre de Vinte está na barranca do rio Paranapanema, num município novo batizado como Campina do Monte Alegre, mas conhecido simplesmente por Campininha. A história de Vinte e outros cinco sobreviventes deste verdadeiro campo de concentração envolve a família Rocha Miranda, uma das mais ricas do Brasil no início da República, nome de bairro na zona Oeste do Rio de Janeiro e que hoje está reduzida a um casal de bisnetos que se recusa a acreditar nos relatos dos homens conhecidos apenas por números.
"Êles nos retiraram do Rio em 1.933 dizendo que era para chupar laranja e andar a cavalo. Chegando aqui, fomos tratados com vara de marmelo, milho crú e palmatória", lembra Vinte, de cuja vida só tem lembrança a partir de um orfanato da rua Marques de Abrantes, na então Capital Federal. Conhecido como Casa da Roda, o orfanato cedeu pelo menos 50 crianças negras ao major Oswaldo Rocha Miranda, um dos três irmãos que comandavam o projeto.
"Dizem que mamãe largou a gente na roda embrulhado em jornal. A roda virou e a gente se foi". A tal roda a que se refere Vinte, tinha uma de suas metades na rua Marquês de Abrantes, no bairro do Flamengo e outra no interior de um orfanato. Quando girava, a criança ia para as mãos de uma freira. A pessoa que a abandonou, desta forma, tinha a garantia do anonimato. E jamais a reaveria.
Pelo menos uma parte destas crianças foi usada para fazer crescer o projeto dos Rocha Miranda que, enquanto prosperou, disseminou a ideologia dos integralistas brasileiros, uma vertente do nazismo alemão ou do fascismo italiano. A suástica nazista era a marca da fazenda, estampada nas porteiras, nos tilojos e gravadas à ferro quente nas ancas do gado.
Relatos de moradores lembram de professoras fardadas nas escolas que viviam bradando o "anauê", grito de guerra dos integralistas emprestado do tupi-guarani que quer dizer "você é meu irmão".
"Com o massacre dos integralistas pelo presidente Getúlio Vargas na implantação do Estado Novo, em 1.937, teve início a decadência econômica do projeto agropecuário, mas a ideologia se manteve na colônia", analisa o professor Sidney Aguilar, que está coletando informações para transformá-las em tese acadêmica.
A propriedade era compreendida pelas fazendas Sobradinho, Cavalinho, Santa Albertina e Cruzeiro do Sul. Sua exploração teve início no fim do Império, quando Dom Pedro as doou para o brigadeiro Raphael Tobias de Aguiar, o fundador da Polícia Militar de São Paulo. Em 1.906, o brigadeiro a vendeu para Luis Rocha Miranda, um dos fundadores do Hotel Glória, no Rio de Janeiro. Ele as teria comprado apenas para caçar perdizes, segundo dizem seus herdeiros.
Com a morte do patriarca, assumiram as posses seus três filhos, Sergio, Oswaldo e Renato Rocha Miranda que as deixaram em testamento para o único herdeiro, Renato Rocha Miranda Filho. Só a partir de 1.997, com a morte de Renato Filho, a história começou a ser contada pelos moradores de Campininha, Paranapanema, Buri e Itaí, cidades envolvidas pela influência dos Miranda.
Os homens números começaram a falar e a incomodar. "Quem embarcar nesta história pode virar alvo de galhofa", adverte o comandante Maurício Rocha Miranda, de 46 anos, piloto da Varig e último herdeiro homem da família, que hoje manda em apenas 200 alqueires do império integralista caipira que desmoronou no interior de São Paulo.
***** As fotos desta página são minhas e o texto é do jornalista  João Maurício da Rosa.