segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Grécia - Notícias do Nazismo no berço da civilização...


Grécia: polícia delega parte de suas funções a neonazistas

Print Friendly
Em novo desdobramento da crise, autoridades conservadoras estimulam perseguição aos imigrantes, para desviar atenção de suas políticas desastrosas
O partido grego Aurora Dourada não limita mais sua ação política às sessões parlamentares e agora vai às ruas colocar em prática programas de “limpeza” de imigrantes ilegais e vendedores ambulantes irregulares. De acordo com uma apuração do jornal britânico The Guardian, há cada vez mais evidências de que até mesmo a polícia do país está delegando funções de fiscalização para pessoas ligadas ao grupo neonazista.
Muitas vítimas de crimes também recorrem ao Aurora Dourada em busca de “justiça” para os delitos. Um funcionário público disse ao Guardian sobre a sua surpresa ao ser encaminhado a membros do partido por agentes policiais para solucionar um incidente envolvendo sua mãe e imigrantes albanianos.
“Eles [os policiais] disseram imediatamente que se aquela era uma questão envolvendo imigrantes, então que fosse levada ao Aurora Dourada”, disse o homem de 38 anos que preferiu não se identificar, temendo colocar em risco seu trabalho ou mesmo a segurança de sua família. Ele ressalta que, em Atenas, a crise financeira do país produziu um contexto de insegurança delicado e lamenta que “se a polícia ou um mecanismo oficial torna-se incapaz de prover segurança, a justiça seja obrigada a ocorrer de formas radicais”.
Outros gregos que passaram por experiências silmilares disseram à reportagem que essa foi justamente a razão que lançou os ultra-direitistas para dentro do parlamento. Uma mulher comentou que foi com a promessa de eliminar o que chama de “lixo imigrante”, que o Aurora Dourada se aproveitou do “sentimento de impotência” dos mais carentes. Para a entrevistada, “isso dá aos ‘mais fracos’ o sentimento de que eles irão sobreviver e de que estão seguros”.
Nas últimas semanas, aumentou o número de crimes motivados por ódio racial. Imigrantes revelaram ao Guardian o temor de andar pelas ruas a noite. A maioria receia agressões de motociclistas vestidos de preto que atacaram ao longo vendedores ambulantes de origem africana e asiática nos últimos dias. No entanto, para Yiannis Lagos, um dos 18 parlamentares eleitos pelo Aurora Dourada, “muitas pessoas nas vizinhanças mais pobres nos veem como libertadores”. Ele classifica seu partido como um “movimento popular nacionalista” construído para ocupar o espaço de um estado que, a seu ver, “não faz nada”.
Integrantes do Aurora Dourada distribuem frequentemente comida e roupas para as parcelas mais necessitadas da população. O preço do gesto de caridade é a filiação ao partido. “Uma amiga minha estava sendo agredida pelo marido e, ao procurar a polícia, acabou encaminhada ao Aurora Dourada. Não passou muito tempo e, em troca, ela começou a doar roupas e alimentos para a instituição”, disse uma professora grega que também pediu o anonimato. “Minha amiga é uma liberal e certamente não é racista. Ela está enojada pelo que tem sido obrigada a fazer”, acrescenta.
Ao que pesquisas de opinião indicam, a estratégia da ultra-direita parece estar funcionando. Uma pesquisa na última semana revelou que o número de indivíduos com opiniões positivas sobre o programa de governo do Aurora Dourada dobrou na comparação com o início do ano. Em maio, 12% da população aprovava o Aurora Dourada. Hoje esse número atingiu a marca dos 22%. O mesmo crescimento pode ser verificado na popularidade de Nikos Michaloliakos, o líder do partido. O número dos que aprovam sua atuação parlamentar cresceu oito pontos percentuais, mais que qualquer outra referência política do país.

Distúrbios marcam visita de Merkel a Atenas

Manifestantes gregos protestam com bandeiras nazistas no centro de Atenas contra a visita da chanceler alemã, Angela Merkel.
Manifestantes gregos protestam com bandeiras nazistas no centro de Atenas contra a visita da chanceler alemã, Angela Merkel.
REUTERS/Yannis Behrakis

RFI
Tropas de choque gregas entraram em confronto, nesta terça-feira, com manifestantes que protestam no centro de Atenas contra a visita da chanceler alemã, Angela Merkel. Um pequeno grupo de manifestantes mais exaltado atirou pedaços de mármore contra o cordão policial. As forças da ordem reagiram, lançando bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.

Os enfrentamentos aconteceram em ruas próximas da praça Syntagma, sede do Parlamento grego, onde 30 mil pessoas fizeram uma manifestação pacífica contra a visita da líder alemã. Em clima de muita tensão, Angela Merkel faz hoje sua primeira visita a Atenas desde o início da crise das dívidas dos países da zona do euro. Porém, ela é recebida com hostilidade pela população, pois os gregos consideram Merkel a principal responsável pela dramática recessão que assola o país há cinco anos.
Em sua chegada a Atenas, a líder alemã foi recebida no aeroporto com cartazes contendo frases do tipo "Fora imperialistas" e "Não ao 4° Reich", em referência ao período nazista. Cerca de 6.500 policiais e membros da brigada de choque grega estão nas ruas de Atenas. O centro da cidade está fechado aos pedestres e um helicóptero sobrevoa a capital grega o dia todo.
O objetivo da visita da líder alemã é dar apoio ao governo do conservador Antonis Samaras. Merkel defende a permanência da Grécia na zona do euro e o plano de austeridade adotado pelo governo grego para fazer o déficit público recuar, condição imposta para Atenas receber a ajuda financeira promovida pelo trio de credores do país, formado pelo Banco Central Europeu, o FMI e a União Europeia.
Apesar de a polícia ter proibido manifestações públicas até 22h nos bairros do centro, zona que inclui a embaixada alemã, o Parlamento grego e os palácios do governo, milhares de gregos fazem uma manifestação pacífica perto da praça do Parlamento. O protesto foi convocado pelo partido da esquerda radical Syriza e sindicatos de trabalhadores. “O povo grego dará uma resposta pacífica e popular. Será uma mensagem da democracia”, declarou Alexis Tsipras, chefe do partido, que critica Angela Merkel pelo apoio dado ao governo de coalizão em vigor na Grécia.



Polícia de Atenas 'torturou e humilhou' quem protestou contra partido neo-nazi


9 de Outubro, 2012por Diogo Pombo
A polícia metropolitana grega é acusada de ter espancado, torturado e humilhado os detidos de manifestações anti-fascismo ©AP
Cerca de 40 pessoas que se uniram em protestos contra o Aurora Dourada, partido neo-nazi que tem revigorado o seu ímpeto na Grécia, foram castigados pelas autoridades com métodos de tortura e humilhação. Os relatos dos detidos falam da violência sofrida por se terem manifestado contra o fascismo, e de como a imprensa helénica fecha os olhos ao que se passa no país.No último dia de Setembro, o centro de Atenas, capital do país, encheu-se uma vez mais em protesto contra a crescente austeridade que aperta o país, numa manifestação que foi a mais noticiada, mas apenas uma mais entre as várias que assolam o país todas as semanas.
No meio do protesto, convocado pela maior união sindical da Grécia, outros grupos apontavam as suas vozes para outros alvos: o fascismo e o neo-nazismo, hoje simbolizados pelo Aurora Dourada.
Ao final do dia, 15 pessoas que participaram nesse protesto estavam nas instalações da Direcção Geral da Polícia de Attica (GADA, na sigla inglesa), sinónimo da polícia metropolitana de Atenas. Lá terão sido espancados, queimados com isqueiros, humilhados e impedidos de dormir e beber água, num conjunto de queixas noticiadas esta terça-feira pelo The Guardian. Dias depois, outros 25 manifestantes foram detidos e sujeitos a um tratamento semelhante.
«Tínhamos tanta sede que até bebíamos água das retretes», revelou um dos detidos, citado mas não identificado pelo diário britânico, por temer represálias da polícia mas, sobretudo, de elementos do Amanhecer Dourado, com quem os detidos acusam o GADA de colaborar e a imprensa de não noticiar os abusos e violência que fazem por proliferar.
«Aqui, os jornalistas não falam destas coisas, ninguém presta atenção se não noticiarem isto no estrangeiro», apelou um outro. De facto, à hora da escrita desta notícia (16h10), nenhum dos principais jornais gregos, na sua edição online – Ekathimerini (versão inglesa), Ta Nea, Express e Ethnos – destacava qualquer texto sobre a violência noticiada pelo diário britânico.
Uma violência apontada ao GADA e aos seus agentes, e que foi descrita por um dos advogados dos detidos como «uma humilhação ao estilo de Abu Ghraib», a prisão que as tropas norte-americanas utilizavam, no Iraque, para interrogar e torturar prisioneiros iraquianos.
De entre o primeiro grupo de 15 detidos, as queixas revelam que os polícias lhes terão negado acesso a água e advogados durante 19 horas e, aos feridos, só foi concedido tratamento médico no dia seguinte à manifestação. Os detidos terão sido obrigados a despirem-se e a dobrarem-se em posições «humilhantes», sendo impedidos de adormecer pelos agentes, que lhe apontavam lasers e tochas para os olhos e lhes cuspiam em cima.
«Tudo o que podíamos fazer era olhar uns para os outros, pelo canto dos olhos, para nos dar coragem», conta um dos detidos, revelando que, quando um dos agentes, responsável pelos actos, recebeu um telefonema, atendeu-o dizendo: «Estou a trabalhar e a lixá-los, a lixá-los bem», usando uma tradução sem o vernáculo citado pelo The Guardian.
Uma das imagens divulgadas pelo diário mostra um grande hematoma nas pernas de um dos alegados detidos, e um outro com um braço e perna fracturadas.
A amanhecer do extremismo
O partido neo-nazi foi o sexto mais votado em Maio, nas últimas eleições legislativas do país, reunindo votos suficientes para hoje sentar 18 deputados no parlamento helénico.
Em algumas sondagens divulgadas na passada semana, o partido era o terceiro colocado nas intenções de voto, apenas atrás do par que sustenta a coligação no governo – os socialistas do PASOK e os conservadores da Nova Democracia (ND).
Fora das urnas e nas ruas do país, porém, membros conotados com o partido têm atacado várias pessoas em bairros de imigrantes de Atenas e distribuído comida e roupas a cidadãos mais desfavorecidos.
Na noite que passaram nas instalações do GADA, os manifestantes revelam ter recebido repetidas ameaças de que as suas moradas seriam divulgadas ao Aurora Dourada, contra quem, horas antes, tinham lançado as suas vozes de protesto.
Christos Manouras, um porta-voz do GADA, sublinhou que «não houve qualquer uso de força por parte dos agentes da polícia», assegurando ainda que as autoridades «analisam e examinam aprofundadamente qualquer relato que apontem para o uso de violência».
(artigo corrigido às 18h59.)
diogo.pombo@sol.pt



Nenhum comentário: