CARTA ABERTA DOS DOCENTES DO IFCH AO REITOR DA UNICAMP
O IFCH EM ESTADO DE EMERGÊNCIA
Ao Magnífico Reitor da Unicamp
Professor Dr. Fernando Costa
O IFCH está agonizando. O trabalho de pelo menos duas décadas, que resultou na excelência desse Instituto, está em sério risco de extinguir-se.
Nos últimos anos, temos encaminhado à Reitoria diversos ofícios justificando pormenorizadamente a necessidade urgente de novas contratações de docentes e nossas demandas não têm sido atendidas. No contexto da limitada política de contratações vigente, é preciso sublinhar que as quatro vagas destinadas ao IFCH no ano de 2009 são absolutamente insuficientes para recompor o quadro docente no patamar em que esse se encontrava há 15 anos.
Atendendo a necessidades acadêmicas ou a exigências da LDB, a Graduação e a Pós-Graduação do IFCH experimentaram nos últimos quinze anos uma expansão de cursos, de cargas horárias e de vagas discentes sem precedentes. Desde 1994, o número de vagas oferecidas no vestibular pelos cinco cursos de graduação aumentou 28% (de 140 para 180 em 2008) – sem contar as vagas do curso de Arquitetura, criado em 1998 e do qual participam professores do IFCH – e o total de alunos matriculados na graduação passou de 707 em 1998 para 1048 em 2008 (um aumento de 48%). Chegamos assim ao índice de 11,6 alunos por professor, superior à média da Unicamp que é de 8,3, conforme pode ser constatado no Anuário Estatístico da Unicamp (2009). No mesmo período, os cursos na pós-graduação passaram de 5 mestrados e 4 doutorados para 7 mestrados e 11 doutorados – e o total de alunos matriculados aumentou de 741 em 1998 para 885 em 2008. Se contarmos os alunos de graduação e pós-graduação, num total de 1933 em 2008, a relação número de alunos por professor sobe para 21,5. Nesse ano, também segundo o Anuário Estatístico da Unicamp, o IFCH era a terceira unidade em número de alunos na graduação e a segunda em número de programas e alunos de mestrado e doutorado, ficando atrás apenas da FCM. No mesmo período, entretanto, o número de docentes diminuiu drasticamente. Éramos 128 docentes em 1994, 101 em 1998, 90 em 2008 – e somos hoje apenas 89: uma diminuição de 30% do corpo docente.
Isso não significa apenas sobrecarga de trabalho. Certamente há mais cursos a serem dados e mais alunos a serem orientados, mais bancas para participar, mais coordenações de programas para serem exercidas. Ao mesmo tempo, as demandas por projetos e pareceres cresceram, assim como aumentou muito a pressão para ocupar cargos administrativos e acadêmicos. O crescimento de nossa produção e dos indicadores numéricos que contabilizam nossas atividades cotidianas básicas esconde, entretanto, uma crise acadêmica substantiva.
É lamentável constatar, por exemplo, que nossos alunos podem concluir a Graduação ou a Pós-Graduação sem a chance de cursar disciplinas eletivas importantes, simplesmente por falta de professores especialistas para ministrá-las. O vínculo entre as aulas e a experiência de pesquisa, que sempre caracterizou os cursos do IFCH está se perdendo: diante da necessidade de cobrir a oferta de disciplinas obrigatórias, muitos de nossos professores não têm mais a oportunidade de oferecer disciplinas nas áreas em que atuam e publicam – e nas quais são nacional e internacionalmente reconhecidos. Nesse quadro é praticamente impossível pensar em criar novas disciplinas na graduação, mesmo as que têm sido demandadas pelos alunos nas avaliações de curso feitas a cada semestre.
Áreas importantes de conhecimento na Antropologia, na Ciência Política, na Demografia, na Filosofia, na História e na Sociologia estão desguarnecidas, por falta de docentes especialistas para ministrar aulas, coordenar pesquisas e orientar novos pesquisadores. Há linhas de pesquisa na pós-graduação e nos centros de pesquisa que tiveram uma produção acadêmica densa e expressiva que praticamente desapareceram por falta de professores plenos. Há cursos de pós-graduação que estão na iminência de fechar áreas e linhas de pesquisa, pois contam com apenas um professor. Não temos condições, portanto, de criar novas áreas de pesquisa que seriam necessárias para continuar a oferecer um ensino de ponta e acompanhar os avanços científicos e as novas demandas da sociedade.
A projeção internacional de nossos docentes é notória e facilmente verificável em uma consulta aos currículos e grupos de pesquisa da Plataforma Lattes. Os Anuários Estatísticos da UNICAMP também reconhecem essa liderança intelectual e acadêmica: desde 2006, pelo menos, temos sido a primeira Unidade em produtividade intelectual em termos proporcionais (em relação à quantidade de docentes), e a segunda em termos numéricos absolutos. A CAPES também reconhece essa liderança, já que nossos programas de pós-graduação vêm conseguindo manter notas altas: um programa com nota 7, dois com nota 6 e quatro com nota 5; nos últimos anos, várias das teses defendidas no IFCH obtiveram prêmios da CAPES, do Arquivo Nacional e da ANPOCS. Esta liderança está sendo ameaçada pela estagnação de contratações e a conseqüente sobrecarga de trabalho; não é sem sacrifícios que vimos conseguindo manter a qualidade e a excelência do nosso desempenho acadêmico e científico.
O futuro é alarmante: em 2010 teremos 42 aposentáveis, 6 dos quais pela compulsória. Ou seja: em um ano podemos perder 47% do atual quadro docente do Instituto, perfazendo uma possível diminuição total de 63% do corpo docente do IFCH entre 1994 e 2010 (queda de 128 professores para 47). Com tantas perdas acumuladas, está em risco também a larga experiência do trabalho que conseguimos acumular até aqui. É eloqüente o que esses dados apontam: o corpo docente está envelhecendo. A formação de grupos de pesquisa demanda a construção de patamares comuns de trabalho conjunto, o amadurecimento de discussões e a consolidação de eixos de investigação. Essa não é uma tarefa que possa ser simplesmente transmitida por escrito: demanda convivência, laços institucionais e trocas intelectuais que não podem ser empreendidas da noite para o dia. Novos docentes necessariamente devem conviver com seus colegas mais experientes. A convivência é um modo de formar novos quadros e manter a continuidade na excelência da pesquisa e da docência que tem nos caracterizado. Há, portanto, prejuízos evidentes se continuarmos a contar com uma reposição das vagas em futuro indefinido ou depois que departamentos e linhas de pesquisa estiverem extintos.
Também é preocupante nossa posição no cenário científico nacional. Nos últimos anos, temos assistido a uma incorporação crescente de novos docentes (muitos dos quais formados por nós) em outras universidades, por meio de concursos públicos. O quadro é particularmente alarmante quando comparado ao das universidades federais, que hoje oferecem salários mais altos do que os nossos. Ou quando comparado à própria USP que, na última reunião com o Fórum das Seis, anunciou a contratação de 1285 docentes na atual gestão – um número surpreendente diante das melancólicas 55 contratações previstas para este ano pela Unicamp. Em breve os Programas de Pós-Graduação do IFCH poderão perder pontos nas avaliações da CAPES, deixando de ser competitivos na disputa por recursos e na procura dos estudantes por uma formação de excelência.
Diante deste quadro crítico, não basta simplesmente repor a perda de 39 docentes que sofremos nos últimos 15 anos. É preciso mais que isso. Queremos redimensionar o quadro docente de acordo com as necessidades acadêmicas de nossos cursos, considerando a expansão dos últimos anos, e assegurar a dinâmica criativa das linhas de pesquisa para continuar a desenvolver um trabalho de excelência. Queremos também ter o direito de realizar uma expansão de nossas atividades assentada nos desdobramentos de nossas pesquisas e na combinação entre elas e o exercício da docência.
É preciso, portanto, que a Reitoria da Unicamp reflita sobre o seu próprio projeto para o futuro do IFCH e reavalie o tratamento que tem dispensado às nossas necessidades ao longo dos últimos anos, sob pena de que o patrimônio que duramente construímos ao longo dos anos soçobre em meio ao descaso e à indiferença. Não podemos aceitar que seja esse o projeto para o futuro do IFCH. O IFCH e a UNICAMP não podem sobreviver por muito mais tempo apenas com base na reputação construída ao longo da sua história. Restaurar e ampliar esse patrimônio é uma responsabilidade inescapável da atual Reitoria.
Convidamos, pois, o Reitor de nossa Universidade a vir ao IFCH o quanto antes. Esperamos que essa visita possa ser agendada rapidamente, pois precisamos ter a garantia de uma política de contratações que atenda de fato a essas demandas: reivindicamos medidas urgentes para que possamos continuar a trabalhar. Estamos em ESTADO DE EMERGÊNCIA!
Campinas, 30 de junho de 2009
Os Docentes do IFCH:
Álvaro Gabriel Bianchi Mendez – matrícula 286817
Amnéris A. Maroni – matrícula 075663
Andrei Koerner – matrícula 285394
Ângela Maria Carneiro Araújo – matrícula 103872
Arley Ramos Moreno – matrícula 087467
Armando Boito – matrícula 075701
Bela Feldman Bianco – matrícula 054810
Bruno Speck – matrícula 256021
Cláudio Henrique de Moraes Batalha – matrícula 165115
Cristina Meneguello – matrícula 278611
Daniel Joseph Hogan – matrícula 038229
Emília Pietrafesa de Godoi – matrícula 252531
Enéias Forlin – matrícula 288083
Evelina Dagnino – matrícula 039098
Fátima Rodrigues Évora – matrícula 174947
Fernando Antonio Lourenço – matrícula 106844
Fernando Teixeira da Silva – matrícula 286457
Gilda Figueiredo Portugal Gouvea – matrícula 039802
Guita G. Debert – matrícula 106330
Heloisa André Pontes – matrícula 118559
Itala M. L. D’Ottaviano – matrícula 040436
Jesus José Ranieri – matrícula 287264
John Manuel Monteiro – matrícula 252557
Jorge Sidney Coli Junior – matrícula 116335
José Alves de Freitas Neto – matrícula 287069
José Carlos Pinto de Oliveira – matrícula 237108
José Marcos Pinto da Cunha – matrícula 268593
José Oscar de Almeida Marques – matrícula087467
Josué Pereira da Silva – matrícula 272787
Laymert Garcia dos Santos – matrícula 057614
Leandro Karnal – matrícula 273597
Leila da Costa Ferreira – matrícula: 220884
Leila Mezan Algranti – matrícula 165263
Luciana Ferreira Tatagiba – matrícula 286986
Luiz César Marques Filho – matrícula 198935
Luzia Margareth Rago – matrícula 117021
Marcelo Siqueira Ridenti – matrícula 274941
Marcio Bilharinho Naves – matrícula 053554
Marcos Lutz-Müller – matrícula 288083
Marcos Nobre – matrícula 237574
Maria Coleta Ferreira Albino de Oliveira – matrícula 073466
Maria Filomena Gregori – matrícula 222861
Maria Helena Guimarães de Castro – matrícula 088595
Maria Lygia Quartim de Moraes – matrícula 249068
Maria Stella Bresciani – matrícula 043842
Mauro W. B. de Almeida – matrícula 048071
Michael McDonald Hall – matrícula 043222
Nelson Alfredo Aguilar – matrícula 214141
Néri de Barros Almeida – matrícula 286112
Omar Ribeiro Thomaz – matrícula 28293
Oswaldo Giacoia Junior – matrícula 251470
Paulo Celso Miceli – matrícula 117030
Rachel Meneguello – matrícula 152790
Renato Ortiz – matrícula 206547
Ricardo Antunes – matrícula 144061
Rita de Cássia Lahoz Morelli – matrícula 220752
Robert Wayne Andrew Slenes – matrícula 087092
Roberto Luiz do Carmo – matrícula 290280
Roberto Romano – matrícula 069311
Ronaldo de Almeida – matrícula 286526
Rosana Baeninger – matrícula 273996
Rubem Murilo Leão Rêgo – matrícula 045721
Sebastião Velasco e Cruz – matrícula 129062
Shiguenoli Miyamoto – matrícula 20.4722
Silvana Barbosa Rubino – matrícula 285534
Silvia Hunold Lara – matrícula 14634-9
Suely Kofes – matrícula 043851
Thomas Patrick Dwyer – matrícula 100455
Tirza Aidar – matrícula 292552
Valeriano Mendes Ferreira Costa – matrícula 274887
Vanessa R. Lea – matrícula 079154
Walquiria Domingues Leão Rego – matricula 224812
Yara Adário Frateschi – matrícula 287070
Professores Colaboradores:
Arlete Moysés Rodrigues – matrícula 283825
Caio Toledo – matrícula 28374-0
Elide Rugai Bastos – matrícula 292167
Izabel Andrade Marson – matrícula 220426
Luis Orlandi – matrícula 292557
Maria Clementina Pereira Cunha – matrícula 053309
Mariza Correa – matrícula 290598
Vera H. F. P. Borges Itala M. L. D’Ottaviano197980
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