quinta-feira, 21 de maio de 2009

Polícia de São Paulo investiga 35 suspeitos de integrar grupo neonazista armado no estado

SÃO PAULO - Cerca de 35 pessoas estão sendo investigadas pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) de São Paulo, suspeitas de integrar o grupo neonazista liderado pelo economista Ricardo Barollo, 33 anos, preso e acusado de ser o mandante da morte de um casal de integrantes do movimento no Paraná. Segundo a delegada Margarette Barreto, titular da Decradi, cerca de 25 grupos neonazistas atuam no estado, mas o de Barollo, denominado Neuland, é considerado o mais organizado ideologicamente, possuindo inclusive atuação política. Além de São Paulo, os neonazistas estão sendo investigados no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.

- O grupo tem forte atuação ideológica e não costuma executar crimes de intolerância, mas dá ordem para que outros o façam - afirma a delegada.

O grupo Neuland tem células em atuação na capital paulista, onde está o maior número de participantes, e está organizado em células nas cidades de Campinas, Sorocaba e Limeira. Além de Barollo, apenas mais um integrante do grupo foi indiciado por crime ligado à ação do grupo. Trata-se de Alessandro Martines, 31 anos, preso em 13 de junho de 2008, no município de Santo André, no ABC paulista, com 147 itens de armamentos, entre espingardas, pistolas, carabinas, carregadores, munição e facas Butterfly. O processo contra Martines foi distribuído no último dia 18 à 2ª Vara Criminal do Fórum de Santo André. Martines está sendo acusado, principalmente, por crimes vinculados ao porte ilegal de armas. Não há informação disponível sobre possível indiciamento por crime de racismo.

Segundo Margarette, o grupo paulista é considerado mais de extrema-direita do que os organizados nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. No Rio Grande do Sul, cerca de 50 membros foram identificados e são monitorados.

O mapeamento do Decradi indica que o grupo Neuland produz material de propaganda nazista, como panfletos e camisetas em São Paulo. O recrudescimento da ação do grupo, com compra de armamentos em grande quantidade, teria sido, segundo a polícia gaúcha, a principal divergência que levou ao assassinato dos estudantes Bernardo Dayrell Pedroso, de 24 anos, e de Renata Waechter Ferreira, de 21 anos, ocorrido em 21 de abril passado no km 6 da BR-116, no município de Quatro Barras, no Paraná.

Os integrantes do Neuland têm entre 16 e 40 anos, mas não é descartada a presença de outros mentores. Barollo, por exemplo, aparece como financiador de cursos de informática e compra de computadores a jovens integrantes do grupo, mas não há informações de como obteve os recursos. Funcionário de uma construtora, ele recebia salário mensal em torno de R$ 10 mil, segundo o delegado Paulo César Jardim, responsável pela investigação

Margarette afirma que o grupo repudia outras organizações neonazistas em atuação no estado, principalmente por terem sido criadas na periferia e aceitarem no grupo pessoas consideradas mestiças (branco não-puro).

- Eles são de classe média e média alta e se dizem descendentes de europeus, não acham que são miscigenados e querem um país sem negros, homossexuais e judeus. Pessoas destes grupos são consideradas 'peso morto' para o país. Eles perseguem estas pessoas, mas não atuam com as próprias mãos - explica a delegada.

Grupos aliados ao Neuland são acusados de fazer panfletagem contra a criação de cotas para negros. Cinco pessoas foram presas e autuadas em flagrante por panfletagem na região do Jabaquara, na capital paulista, acusadas de integrar o grupo Resistência Ariana. Os nomes não foram divulgados. Em Campinas, células associadas ao Neuland são acusados de fazer pichações em locais de aglomeração de negros, incluindo um salão de beleza destinado a afro-descendentes.
De acordo com Margarette, integrantes de movimentos neonazistas podem ser indiciados por formação de quadrilha, desde que seja comprovada a articulação.

Chama a atenção a discriminação existente entre os próprios grupos neonazistas. Numa conversa travada pela internet, um interessado em aderir ao movimento pergunta: "Gostaria de saber (pelo fato de ter muitas discussões sobre) qual os princípios raciais básicos para um Brasileiro aderir ao movimento ... e se considerar um ariano. Claro que é necessário ser branco e ter origem européia pelo que já li, mas tenho muitas dúvidas sobre olhos e cabelo. É necessário ter olhos claros e ser loiro?. Pergunto isso pois em questão de descendência européia minha bisavó era italiana e migrou ao Brasil na 1ª Guerra. Sou branco (bem branco, não moreno como alguns farsantes) e loiro médio, mas não possuo olhos claros (apenas castanhos claros). Isso é motivo para "cartão vermelho" na entrada do movimento?"

A resposta: "Para fazer parte da iniciativa do nacionalismo branco basta que possuas ascendência branca européia pura e um comportamento que esteja de acordo com os ideais do movimento e da raça que representas. Ou seja, nós somos contra comportamentos prejudiciais como a miscigenação racial, o sexo interracial, o uso de drogas, o desrespeito às leis...Estamos lutando por uma preservação da nossa raça e cultura."

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