sábado, 2 de maio de 2009

Polícia prende seis pessoas acusadas de prática de neonazismo no Paraná

CURITIBA - Seis pessoas foram presas por suspeita de envolvimento na morte de um casal, na semana passada, na região metropolitana de Curitiba. Segundo a Polícia Civil, o crime foi motivado por divergências políticas e disputa de poder dentro de um grupo neonazista. Ao todo, foram cumpridos 16 dezesseis mandados de busca e apreensão nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A arma do crime teria sido encontrada no Tio Grande do Sul. Além disso, foi apreendido material de apologia ao nazismo.

Segundo a polícia, grupos neonazistas na capital paranaense continuam atraindo novos simpatizantes e tornaram-se referência para adeptos do nazismo dentro e fora do Brasil. Eles planejam a criação de divisões armadas para perseguir judeus, negros, homossexuais, comunistas e qualquer grupo ou indivíduo que se oponha à ideologia de ultradireita.

As primeiras vítimas de um desses grupos foram dois simpatizantes do próprio movimento: Bernardo Dayrell Pedroso, de 24 anos, e Renata Waechter Ferreira, de 21. Ele, estudante de Direito em Minas Gerais. Ela, aluna do curso de Arquitetura na PUC/PR. O casal foi encontrado morto, ao lado do carro da jovem, na madrugada do dia 21 de abril, no km 6 da BR-116, no município de Quatro Barras.

O Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), que investiga o caso, já sabe que o casal participava de uma festa em uma chácara em Campina Grande Sul, município vizinho a Quatro Barras. O evento, que reuniu cerca de 15 pessoas era, na verdade, uma celebração do aniversário do ditador alemão Adolf Hitler (20 de abril de 1889 - 30 de abril de 1945). O encontro foi marcado pela internet e reuniu skinheads neonazistas de Curitiba e de outros estados.

Duas pessoas que estiveram na chácara, disseram que foi proibida a entrada na chácara com celulares e máquinas fotográficas. Os organizadores não queriam que fossem feitas imagens do local, decorado com bandeiras suásticas e pôsteres de Adolf Hitler.

- Fora isso, era como uma comemoração normal, com churrasco e cerveja. Sem drogas, já que drogas não são bem vistas entre nós - diz um dos participantes da festa.

A comemoração foi iniciada com um discurso que teria sido feito por um homem identificado como Bernardo Dayrell. A cada menção a Hitler, chamado de Fürher pelos participantes, as mãos eram levantadas, no tradicional cumprimento nazista. Dayrell teria organizado o encontro e discursado durante a maior parte do tempo. Tido como um "intelectual" dentro do grupo, o rapaz seria contrário às agressões praticadas contra gays e travestis em Curitiba. Para ele, esse tipo de ataque depunha contra o grupo e complicava a aceitação do movimento pela sociedade.
Em diversos fóruns e sites de nacional-socialistas e adeptos da supremacia da raça branca, Dayrell é descrito como um pensador, colaborador de publicações e revistas neonazistas.

Para Dayrell, segundo os participantes, o avanço da ideologia nazista em Curitiba e no Brasil se daria pelo convencimento da classe média com a publicação de fanzines, folhetos apócrifos, encartes em livros da biblioteca púbica e sites na internet. Em seu perfil no orkut, Dayrell cita poetas, filósofos e pensadores, a maioria deles sem relação com os pensamentos nazistas.
- Ele era muito inteligente. Escrevia muito bem e tinha um grande poder de persuasão. Foi esse carisma que atraiu a Renata - afirma um dos membros do grupo.

Renata, por sua vez, tinha mais interesse por ocultismo e pelo esoterismo, características dos grupos neonazistas, do que na ideologia política e racista. Amigos, colegas de sala e professores afirmam não ter percebido nenhum comportamento racista ou antissocial da garota.

Na chácara, o discurso de Dayrell foi bem recebido pelos participantes. Os pontos de vista dele, porém, estavam longe de representar uma unanimidade em Curitiba. Uma outra corrente do movimento neonazista defenderia a imposição do grupo pela violência, como as agressões a homossexuais praticadas na capital há algumas semanas. Esse grupo, com ramificações em São Paulo, defenderia uma linha de frente neonazista, pronta a agir com armas de fogo e a matar, caso necessário. A divergência com a estratégia adotada por Dayrell teria chegado no limite. Para garantir o controle do movimento em Curitiba, decidiram eliminá-lo.

O crime seria cometido por duas pessoas, que haviam sido proibidas por Dayrell de entrarem na festa. A dupla planejava entrar no local e matar o casal dentro da chácara. Eles teriam mudado de ideia ao constatar a presença de amigos na festa. Por isso, teriam optado por assassinar o rapaz do lado de fora. O rapaz foi morto com um único disparo na cabeça. Renata levou um tiro na nuca e um na altura da perna.

Na quinta-feira de manhã, um casal foi detido pelo Cope na Vila Isabel. Para a polícia, eles afirmaram que não sabiam da intenção do trio de matar os namorados. Nesta sexta, dois policiais do Cope, em conjunto com a polícia especial de São Paulo (Garra) prenderam Ricardo Barollo, em São Paulo. Ricardo foi preso em seu apartamento, em Moema, na zona sul de São Paulo. Segundo a polícia, Barollo teve a prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça do Paraná. O rapaz, cujo codinome no movimento skinhead é França, seria o mandante do crime. No apartamento dele, a polícia encontrou material neonazista, inclusive informações sobre a criação de um novo país.

França seria um dos principais mentores da criação de uma linha de frente armada dentro da organização skinhead.

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